Ano Novo, vida nova?

sábado, 31 de janeiro de 2015


"O agnóstico Spencer dá como ponto de partida das religiões a ideia do "duplo"; o selvagem vê-se em sonhos, vê sua própria imagem refletida n'água e acredita na existência de dois seres diferentes que se parecem, e que entretanto um deles, o duplo, subsiste depois da morte."  -  Lucien Henri  -  As origens da religião


O Ano Novo simboliza um novo início, novidade, novos propósitos; ou pelo menos retomada daquilo que não pudemos realizar e ainda consideramos importante. Essa expectativa positiva em relação ao futuro só ocorre porque acreditamos que as condições vão mudar para melhor, dando-nos a possibilidade de fazer aquilo que ainda não pudemos. Surgem com isso as “listas de propósitos para o novo ano”: parar de fumar, arranjar um novo emprego, começar aquele curso, voltar a fazer exercícios físicos. Planejamos mudar em algum aspecto a nossa vida, pois cremos que há uma nova chance para melhorias.
Esta expectativa positiva não ocorre só com indivíduos. Empresas, sociedades e qualquer tipo de associação humana criam esperanças sobre o futuro, fundadas ou não, principalmente quando começa um novo ano. No caso do Brasil as circunstâncias agora são mais especiais ainda, já que junto com a chegada de mais um ano também tem início um novo mandato presidencial. Teremos novos ministros, novas políticas setoriais, novos planos de governo, novos projetos, novas alianças políticas... O que efetivamente será novo e não apenas “mais do mesmo”?
O país passa por mais uma crise econômica, com crescimento do PIB em torno de 0%. A taxa de desemprego começa a subir e não se criam novas vagas para trabalhadores melhor capacitados. Já foi autorizado o aumento do preço da eletricidade, da água, da gasolina; voltará o imposto da CPMF e outros tributos também deverão ser reajustados. A atividade industrial vem caindo e as exportações de produtos agrícolas e minérios para a China, nosso maior cliente, tendem a cair... Os recursos do governo são escassos para os anos 2015 e 2016, o que impossibilita o início de novos projetos de infraestrutura – já será muito se aqueles em andamento forem terminados.
As investigações do escândalo de corrupção na Petrobrás estão apenas começando e deverão se estender por todo ano de 2015 e entrar em 2016. Dentro de alguns meses podem ter início as investigações sobre corrupção em outros setores – setor elétrico, transportes, saneamento, entre outros – já que as empreiteiras a atuarem na Petrobrás são as mesmas que ganham licitações destes outros setores. As investigações, que com certeza mostrarão o envolvimento de mais empresários e políticos, podem atrasar novos investimentos e as obras em andamento, inclusive aquelas que tenham relação com o meio ambiente, como obras de saneamento, construção de aterros, entre outros.
O setor privado, paralisado pela crise econômica e pela queda do consumo não fará novos investimentos, pelo menos em curto prazo. Novas obras como construção de fábricas, terminais e galpões industriais, envolvem compra de equipamentos e serviços de meio ambiente. Caindo a quantidade destas obras diminui a demanda por tecnologias ambientais, o que contribuirá ainda mais para manter o setor retraído. Assim, tanto em vista da queda dos investimentos públicos quanto do setor privado, o mercado ambiental deverá acompanhar a economia e crescer muito pouco.
O quadro, não inspira otimismo. Ao invés de novidades para o Ano Novo, teremos mais do mesmo; vamos passar por um ou dois anos arrumando a casa e só então o país terá condições de efetivamente falar de novos projetos. Enquanto isso, o meio ambiente se arruma como pode, já que como dizem, “quando as contas estão no vermelho não se pensa no verde”.
(Imagens: fotografias de Robert Frank)

Represa Billings poderia fornecer mais água para a RMSP

sábado, 24 de janeiro de 2015


"Na vida humana tudo é sofrimento
e não há trégua para nossas penas,
porém o que talvez seja melhor 
que esta existência está envolto em trevas
e oculto nas nuvens."
Eurípides  -  Hipólito

A represa Billings tem reserva hídrica pouco superior ao sistema Cantareira e já vem abastecendo parcialmente os municípios de Santo André, São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e parte da capital. Além disso, o reservatório também fornece água para geração de eletricidade na usina Henry Borden, em Cubatão. Dada sua localização estratégica a Billings teria possibilidades de melhorar o abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), não fosse a poluição de suas águas.
A represa Billings foi idealizada na década de 1940 pelo engenheiro americano Asa White Kenney Billings (1876-1949), a serviço da companhia Light & Power Company. O reservatório ficou pronto nos anos 1950, com a principal função de fornecer água para o acionamento da usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão, gerando 889 megawatts. Para aumentar o volume da Billings, a partir de 1952 o rio Pinheiros – localizado na zona Oeste/Sul de São Paulo – começava a ser bombeado para o reservatório. O rio era contaminado com efluentes domésticos e industriais que, sem tratamento, também eram carreados para a represa. A resolução da constituição paulista de 1989, determinando que o volume da Billings fosse prioritariamente utilizado para abastecimento público, fez com que a partir de 1992 fosse suspenso o bombeamento do rio para a represa.
Apesar de dispor de mais água do que o sistema Cantareira – 995 contra 982 bilhões de litros – os recursos hídricos da Billings continuam sendo subutilizados, principalmente por causa da poluição causada por diversas fontes. Um estudo da Universidade de São Paulo realizado em 2010 apontava que o fundo do reservatório estava contaminado por metais pesados; como cobre, chumbo, níquel e zinco, carregados para a Billings pelo rio Pinheiros ao longo de anos de bombeamento. Obras de dragagem destes resíduos poderiam dissolvê-los mais ainda e aumentar a turbidez da água. Outro aspecto é a poluição através de esgotos, que em diversas áreas que margeiam a Billings – na zona Sul de São Paulo e na região do ABCD – são lançados as água sem qualquer tipo de tratamento, principalmente por loteamentos clandestinos.
As empresas de saneamento das prefeituras do ABCD planejam tratar 100% dos efluentes domésticos até 2018, reduzindo assim o impacto sobre a represa. Em São Paulo, no entanto, o problema ainda parece estar longe de uma solução, já que as invasões às margens da represa tornam-se cada vez mais comuns. Em alguns casos são centenas de famílias, que só podem ser desalojadas com ajuda de força policial. As obras de construção do Rodoanel ainda trouxeram mais invasões à região, aumentando os pontos de assoreamento, disposição de lixo e despejo de efluentes.
Especialistas apontam que a principal providência para recuperar a Billings é impedir que os resíduos ou efluentes cheguem às suas águas. Para tanto, seriam necessárias obras de saneamento e urbanização no entorno do reservatório, incluindo desalojar ocupações clandestinas e realocar estas populações. Por seu tamanho, por receber chuvas e ventos que chegam do oceano e por estar em grande parte ainda cercada por áreas verdes, a represa ainda tem boas chances de se autodepurar ao longo dos anos. A recuperação deste manancial é importante e urgente na estratégia de segurança hídrica do estado de São Paulo.
(Imagens: fotografias de Oliver Wutscher)   

Previsões para a área ambiental - 2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

(Publicado originalmente na seção "newsletter" do site www.ricardorose.com.br)

Os primeiros dias do ano já começam a indicar o rumo que o país deverá seguir ao longo de 2015. No plano econômico haverá aumento de tarifas, redução dos investimentos públicos e – se tivermos sorte – corte no custeio da máquina do governo. O setor privado deverá acompanhar o ritmo da música e não fará novos investimentos. Todo mundo cozinhando em fogo brando para ver como a economia se comportará até o final do ano – as previsões de crescimento do PIB para 2015 são abaixo de 1%.

Na área política, o governo deverá continuar atendendo às demandas da base aliada, tentando garantir maioria no Congresso – situação, aliás, pouco difícil, já que não existe efetivamente uma oposição. Afora um ou outro comentário feito na tribuna do Senado pelo candidato derrotado à presidência senador Aécio Neves, não existe quase manifestações contra os atos do governo. As nuvens escuras da lista dos políticos envolvidos no Petrolão, a ser divulgada em janeiro ou fevereiro, parecem estar colocando muitos políticos de sobreaviso. Prenúncio de tempestade no horizonte do Congresso.

Enquanto isso, o país continua como sempre: vivendo da mão para a boca; correndo pela manhã atrás dos recursos que precisará para pagar as contas do final da tarde. Consertando aqui e ali, tapando buraco acolá, mas sem um planejamento; sem uma estratégia de médio e longo prazo. O Brasil continua como sempre: refém de interesses políticos e de grupos de pressão, às voltas com a corrupção que beneficia alguns, mas sem um planejamento da rota que o país deverá tomar. Permanecemos reféns de políticos e políticas de segunda categoria que, evidentemente, trazem vantagens para alguns, mas não para a maior parte dos cidadãos.

Com tudo isso, não dá para esperar grandes avanços no setor ambiental – o que também não é novidade para os que atuam no setor. Nesta área o país já realiza muito, quando não faz nada: os grandes avanços do Brasil no meio ambiente são a redução do desmatamento na região amazônica. Também na área ambiental estamos sempre correndo atrás do prejuízo, sem projetos e recursos suficientes para implantar ações que possam direcionar o futuro. Um dos únicos projetos com estas características, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, foi postergado para um tempo ainda indefinido.

Para 2015, portanto, mais do mesmo. Continuam os investimentos minguados em saneamento (que o diga a baía da Guanabara e o rio Tietê), sobra algum trocado para que as agências ambientais possam continuar funcionando (ações de comando e controle), serão realizados alguns seminários e assinados novos convênios (muitos inócuos), mas é só. Com uma economia capengando, sem planejamento e com várias outras prioridades, a questão ambiental não receberá a atenção que tem em outros países. Os recursos naturais se deterioram e, entra ano e sai ano, o país “tem outras prioridades”.      

Acidente de Bhopal faz 30 anos e ainda deixa sequelas

sábado, 17 de janeiro de 2015
"Uso a palavra para compor meus silêncios. 
Não gosto das palavras 
fatigadas de informar."
Manoel de Barros  -  Memórias inventadas

A cidade de Bhopal está localizada na região central da Índia e é capital do estado de Madya Pradesh, com uma população de cerca de 2,7 milhões de habitantes. Bhopal é bastante desenvolvida, abrigando grande número de indústrias do setor eletroeletrônico, de manufatura, tecelagem e químico. Baseado nestas poucas informações, a cidade pouco se distingue das outras dezenas de cidades indianas de porte e atividades econômicas semelhantes, a não ser por um acontecimento: o acidente com vazamento de gases tóxicos na fábrica da Union Carbide.
O acidente ocorreu há 30 anos, no dia 3 de dezembro de 1984, afetando de imediato e em diversos graus cerca de 500 mil pessoas. O vazamento de mais de 40 toneladas de 32 tipos gases tóxicos, entre os quais o metil isocianato usado para a fabricação de pesticidas para uso na agricultura, provocou a morte imediata de 3.787 pessoas, segundo dados oficiais do governo do estado de Madya Pradesh. Dados posteriores de uma comissão de investigação do estado indiano davam conta de que 558.125 pessoas foram afetadas de alguma maneira pelo vazamento do gás, incluindo 38.478 parcial ou temporariamente debilitadas e aproximadamente 3.900 severa ou permanentemente atingidas. Além destes, milhares de outros moradores de Bhopal sofrem de sequelas do acidente, apresentando casos de malformação de fetos, doenças crônicas nos olhos, no sistema respiratório, cardíaco e neurológico. A revista americana “Mother Jones” publicou declaração de um médico que atua em clínicas para afetados pelo desastre, na qual diz que “cerca de 120 a 150 mil sobreviventes ainda lutarão com problemas de saúde como distúrbios neurais, de formação e crescimento, ginecológicos, dificuldades respiratórias e elevadas taxas de tuberculose e câncer”.
Até hoje persiste o debate sobre as causas deste desastre, o maior já ocorrido com uma indústria em todo o mundo. Dados levantados durante as investigações mostraram que antes do vazamento ocorreram acidentes de menor tamanho, envolvendo vazamentos e até hospitalização e morte de funcionários. Manutenção inadequada de válvulas de segurança e ausência de equipamento de proteção individual, como máscaras, foram falhas de operação constatadas nestas ocorrências anteriores. O desastre, segundo os laudos do processo, foi motivado por falta de medidas de segurança e treinamento dos trabalhadores, fazendo com que esses inadvertidamente permitissem a entrada de água no tanque, o que provocou sua explosão e a liberação do gás venenoso. A defesa alega que os trabalhadores agiram sem atenção às normas de segurança, causando assim a entrada de água no tanque. 
O processo correu na justiça indiana por anos. Em 1989 a empresa Dow Chemical, então proprietária da Union Carbide, pagou uma indenização de 470 milhões de dólares, além de oferecer ajuda financeira para construção de clínicas para atendimento das vítimas. A reparação, segundo críticos, foi insuficiente dado o número de vítimas e o impacto ambiental. A justiça indiana prendeu altos funcionários da empresa e expediu ordens de prisão contra seu presidente, o americano Warren Anderson, que poucas horas depois de detido foi liberado por ordem de um ministro indiano. A história do acidente, do processo judicial e dos bastidores políticos, é mostrada no filme “A prayer for rain” (Reza por chuva), lançado em 2013. 
(Imagens: fotografias de Marc Ferrez)

Meio ambiente não foi prioridade no primeiro mandato

sábado, 10 de janeiro de 2015
"O que significa ser keynesiano? Duas questões básicas bastarão aqui: (1) a economia privada pode não atingir o pleno emprego; (2) os gastos do governo podem estimular a economia para eliminar a defasagem. Toda vez que um político defende ardentemente uma injeção monetária, ou programas do governo para fazer o país se mexer outra vez, ou cortes de taxas para acelerar o consumo, ele está exaltando Keynes."  -  Todd G. Buchholz  -  Novas ideias de economistas mortos

Termina o ano e com ele o primeiro mandato da presidente Dilma. Baixo crescimento da economia, muitos casos de corrupção, atraso nas obras de infraestrutura, declínio da produção industrial e das exportações; foram alguns aspectos que caracterizaram a administração da presidente. Apesar de alguns avanços no ensino técnico e superior, a qualidade da educação fundamental e média continua ruim, colocado o ensino do país entre os piores dos países em desenvolvimento. A saúde, assim como a educação, continua a apresentar problemas de gestão e falta de recursos. O mau humor da população foi refletido no resultado das eleições presidenciais, com a vitória da situação por pequena margem – 51,64% contra 48,36% –, apesar de toda a força da máquina do governo.
Assim como outros setores, o meio ambiente também não recebeu a devida atenção no governo Dilma. Se o desmatamento da Amazônia vinha sendo mantido sob relativo controle desde o governo Lula, a derrubada da floresta aumentou nos últimos meses do governo da presidente. Sob a alegação de que “o país não havia sido convidado para participar da formulação do documento”, o Brasil também não assinou a Declaração de Nova York sobre Florestas, durante a Cúpula do Clima, realizada na ONU em setembro de 2014. Apesar de abrigar 20% da biodiversidade do planeta, o Congresso Nacional não ratificou a participação do país no Protocolo de Nagoya, documento que estabelece regras para o acesso a recursos genéticos. Sem assinar este documento, as posições do Brasil nas futuras negociações internacionais não terão peso algum, alijando o país de decisões importantes, que poderão nos afetar diretamente.
A administração Dilma não criou nenhuma nova unidade de conservação (UCs) na Amazônia durante os primeiros três anos e 10 meses do mandato. Às vésperas das eleições, no entanto, através de um ato presidencial, o governo criou às pressas novas UCs; duas delas na Amazônia. Em compensação, ao longo de seu governo, a presidente Dilma reduziu áreas de cinco unidades já existentes, para acomodar projetos de hidrelétricas. O novo Código Florestal, aprovado em 2013, foi criticado por ambientalistas, ONGs e organizações científicas porque, segundo estes, resultará na redução da proteção às florestas.
Os investimentos em saneamento, apesar de toda a propaganda realizada em torno do PAC, ainda são insuficientes para se alcançar a universalização destes serviços. Segundo o BNDES, os investimentos anuais médios no tratamento de água e esgoto têm sido de R$ 10 bilhões. A ONG instituto Trata Brasil informa que para oferecer saneamento a todos os cidadãos no prazo de 20 anos, o país precisará investir anualmente R$ 16 bilhões.


A Política Nacional de Resíduos Sólidos também avançou pouco durante este governo. Criada no final do governo Lula, a lei estabelecia um prazo – agosto de 2014 – para que todos os municípios acabassem com seus lixões ou aterros controlados. Sem apoio do Ministério do Meio Ambiente, as prefeituras em sua maioria puderam alegar não terem recursos financeiros e humanos para implantar esta medida. A pá de cal veio com a Medida Provisória 651, através da qual, entre outras coisas, o Congresso pretendia prorrogar a aplicação da lei por mais quatro anos – artigo vetado pela presidência. Parlamentares deverão apresentar uma nova solução para o caso.
Espera-se que em seu novo mandato que começa este ano, a presidente Dilma - mesmo às voltas com tantos problemas econômicos e sociais - possa dar a devida atenção também às questões ambientais. Os recursos, sempre é bom lembrar, uma vez que se foram podem não voltar.
(Imagens: fotografias de Lewis Hine)

Diminuição de chuvas requer medidas de prevenção

sábado, 3 de janeiro de 2015
"(Ludwig von) Mises foi o primeiro a compreender integralmente que a divisão entre Stalin e Hitler, socialismo e fascismo, direita e esquerda, era uma ilusão, e que o movimento totalitarista baseado em Berlim era substancialmente similar àquele de Moscou. 'A terminologia da linguagem política é uma tolice'."  -  Kevin D. Williamson  -  O livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo

A crise da água está afetando grande parte do Brasil e, com exceção da região Norte, agora deverá ocorrer periodicamente no restante do país, segundo previsões de especialistas. Começa assim uma nova era, na qual a antiga fartura de água em grande parte do território nacional mais densamente habitado será condição do passado. Em sua vida diária e nas atividades econômicas a sociedade precisará gradualmente se adaptar ao novo clima: mais seco, com temperaturas crescentes e menores precipitações pluviométricas. As cidades e todas as atividades econômicas que ocorrem em seu interior – construção, indústria, comércio, turismo – e no seu entorno – agropecuária geração elétrica e mineração – serão fortemente afetados.
Os fatores causadores destas estiagens são, dentre os principais: o fenômeno do El Niño, variação da temperatura do oceano Pacífico que influencia o regime de chuvas; os impactos das atividades econômicas, como o crescimento das cidades e o aumento da frota veicular; as mudanças climáticas em todo o mundo; e, muito provavelmente, o incessante desmatamento da Amazônia. Estas as causas mais prováveis da redução do volume e freqüência das chuvas no Sudeste e Centro-Oeste do país. No Nordeste, observa-se há anos o agravamento da seca.
Céticos dizem que a fase de poucas chuvas poderá se estender por alguns anos e depois, assim como surgiu, desaparecer. A hipótese não é improvável, mas a se considerar a série histórica de medições da precipitação pluviométrica em várias partes do país, não é isto o que vem ocorrendo. As chuvas efetivamente vêm rareando e o país precisa se preparar para esta nova realidade.
A construção civil é um dos maiores usuários de água, no âmbito das atividades econômicas que se realizam na área urbana. Através do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e com o apoio do Ministério do Meio Ambiente e do PNUMA (Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente) o setor da construção apresentou recentemente o estudo “Aspectos da Construção Sustentável no Brasil e Promoção de Políticas Públicas”. O trabalho apresenta 25 recomendações que servem de apoio à elaboração de políticas para incentivar o uso eficiente da água em edificações, através de campanhas educativas, incentivos econômicos e incorporação de novas tecnologias.
Outro setor econômico que se preocupa há algum tempo com a escassez de água é o agrícola. Através da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) o setor já pesquisa novas espécies de plantas mais resistentes à seca. Tendo decifrando o genoma (o mapa genético da planta) de espécies como o café, a soja, o milho, o feijão e o tomate, a empresa agora procura genes (partes do genoma) que inseridos no genoma da planta têm o potencial de tornar o vegetal mais resistente à seca.


Além destes, existem vários outros exemplos do que vem sendo feito para reduzir o uso de água: economia de água na pintura de automóveis; redução do uso de água na irrigação; uso de aditivos em substituição à água no concreto; medidas de reuso de água em residências, escritórios e fábricas; armazenagem e reutilização da água da chuva. São técnicas cujo uso precisa ser incentivado por associações e regulado pelo poder público; setores que devem liderar a iniciativa de implantar medidas preventivas com o objetivo de preparar o país para tempos mais secos.

(Imagens: fotografias de Cristiano Mascaro)