O suicídio

sábado, 30 de junho de 2018

"Quem se mata corre atrás de uma imagem que forjou de si próprio: as pessoas matam-se sempre para existir."    -    André Malraux

A revista eletrônica LIVESCIENCE (www.livescience.com) publicou recentemente um artigo intitulado Why are suicide rates rising? (Por que as taxas de suicídio estão subindo?). A reportagem informa que de acordo com um relatório divulgado pelo Center for Disease Control and Prevention – CDC (Centro de Controle de Doenças e Prevenção) em início de junho de 2018, o índice de suicídios nos Estados Unidos aumentaram em 25% nos últimos anos. A razão deste aumento não é claro segundo a instituição, mas em pesquisas passadas especialistas apontarem motivos como: o aumento do senso de isolamento entre os americanos, fatores econômicos e o aumento de doenças mentais. Outros apontaram o crescimento no uso da tecnologia, que passou a substituir as interações pessoais.

O Brasil é, segundo dados de 2013, o oitavo país com maior número de suicídios, depois da Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Japão, Coréia do Sul e Paquistão. O número de casos no país chega a 11 mil ao ano, mas, mesmo assim, o país não se inclui entre os de maior taxa relativa de suicídios. O suicídio no Brasil e na maioria dos países é mais comum entre os adolescentes; na faixa etária dos 15 aos 29 anos é a quarta maior causa de mortes. O aspecto que mais chama a atenção no caso dos jovens brasileiros, é que a taxa de suicídio nesta faixa da população vem crescendo lentamente, subindo de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002, para 5,6 em 2014; um aumento de quase 10%. Os números foram publicados pela BBC Brasil em abril de 2017.

O tema do suicídio tem sido tratado pelas diversas ciências. Émile Durkheim (1858-1917), um dos fundadores da sociologia científica e um dos primeiros a tratar do tema de forma científica, dedicou um amplo estudo ao assunto no final do século XIX, demonstrando que a variação das taxas de suicídio dependia de fatores sociais. A partir dos anos 1950, com a popularização da prática psicológica e dos estudos de psicologia social, universidades, institutos de pesquisa e governos vêm se ocupando do estudo do suicídio e de sua prevenção.

O fenômeno já vem sendo tratado como assunto de saúde pública em muitos países. Aqui no Brasil são poucas as instituições que estudam o tema, já que na sociedade ainda existe resistência para se tratar do assunto. Ao fenômeno do suicídio de jovens indígenas – fato que já ocorre há alguns anos entre várias tribos –, é dada pouca importância. O suicídio de jovens de classe média alta, alunos de colégios particulares em São Paulo, trouxe o tema novamente às discussões em início de 2018.

Até o momento são poucos os países que dispõem de políticas públicas de prevenção de suicídios já implantadas. No Brasil existe apenas uma portaria do Ministério da Saúde, publicada em 2006, instituindo diretrizes de prevenção que deveriam ser implantadas através dos serviços de saúde dos estados. Até 2018, porém, nenhuma ação concreta foi implantada, tanto no âmbito  federal, quanto estadual.

Assim, permanece sem resposta a questão sobre quando o suicídio será tratado, também no Brasil, como importante tema de saúde pública, com todas as suas implicações sociais, psicológicas, culturais e econômicas.
(Imagem: pintura de Vincent van Gogh)

Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Corrupção 


Primeira fase: iniciando

Um pequeno roubo, pouca coisa, e ninguém percebe. Um desvio um pouco maior e, mais uma vez, ninguém percebe. Por que será? Observe os outros; perceba que eles também estão furtando. Aumento gradativamente os desfalques e ninguém percebe – ou fingem que não percebem. Se não viram nada, nem eu.


Segunda fase: vamos nos organizar

As gatunagens são cada vez maiores e frequentes. Alguém vai perceber. Precisamos nos organizar. A rapina, como qualquer atividade lucrativa, tem que estar sujeitas a certas regras. Façamos-las então. Afanando de maneira organizada nunca seremos pegos e poderemos aumentar os nossos saques cada vez mais.


Terceira fase: tudo (até a gatunagem!) tem um limite. Precisamo ampliar.

Nossa fonte de benefícios não vai crescer na mesma proporção de nossa ambição. Precisamos criar fontes de exploração maiores, para continuarmos tapeando a todos e permanecermos no negócio. Vamos formar novas alianças, cooptar novos aliados, ampliar nossa rede de atuação. 
(Imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg)

Dualismo e sentido da história (II)

sábado, 23 de junho de 2018
"Não é elegante abusar da má sorte; alguns indivíduos, como certos povos, se comprazem tanto nela que desonram a tragédia."   -   Emil Cioran   -   Silogismos da amargura

Ao longo da Média surgiram diversas interpretações, populares e intelectuais, deste processo que em pouco tempo, esperava-se, levaria à Parúsia, ao Final dos Tempos. Perto do ano 1000 a Europa passava por uma crise econômica e social bastante grave. A Igreja enfrentava problemas internos. Interpretações de partes da Bíblia pareciam predizer que na virada do primeiro milênio da história da cristandade - leia-se história ocidental - ocorreria a implantação do Reino de Deus, com todas as suas implicações. Assim, alguns anos antes da virada do milênio, espalharam-se os movimentos formados principalmente por camponeses, pobres e peregrinos, que defendiam uma volta à vida ascética dos Evangelhos e o arrependimento frente ao Julgamento Final iminente.

Intelectuais da Igreja mais tarde também incorporaram a ideia de que Deus era o "senhor da História", mas de uma forma bem mais sofisticada. Joaquim de Fiore (1135-1202), monge cisterciense italiano, criou, baseado no livro do Apocalipse, a teoria das Três Eras. Fiore dividia a história humana em três períodos distintos: o período do Pai, o do Filho e pregava a chegada (em sua época, no século XIII) do período (ou reino) do Espírito Santo. A Era do Pai correspondia ao período histórico relatado pelo Antigo Testamento, o período de obediência aos mandamentos de Deus. O período do Filho compreendia o tempo de aparecimento do Cristo até 1260, quando o homem havia se tornado filho de Deus. O terceiro tempo referia-se ao do Espírito Santo, o mais importante da história, seria aquele no qual a humanidade teria contato direto com Deus e quando a ordem eclesiástica seria substituído pela “ordem do justo”, que na época se pensava referia-se à ordem franciscana. Este terceiro período da história da humanidade seria de paz e nele a humanidade teria um contato diretor com a divindade, o que eliminaria a necessidade de uma estrutura eclesiástica. A doutrina de Fiore, evidentemente, foi condenada pela Igreja e pelos escritos de seus teólogos oficiais, como Tomás de Aquino. As ideias de Fiore, no entanto, continuaram presentes na ideologia de diversos movimentos milenaristas durante a Idade Média e o Renascimento. As ideia das “Três Eras Históricas” exerceram forte influência em pensadores posteriores, como o historiador Giambattista Vico (1668-1744) e o filósofo Georg F. Hegel (1770-1831).


A história, que para os gregos como para várias outras culturas (hindus, chineses, entre outros) era um processo cíclico, formada por fases que regularmente se repetiam, assumiu uma forma linear, tanto no Judaísmo quanto no cristianismo. A origem disso encontra-se, provavelmente, nos mitos da criação que eram comuns a diversos povos do Oriente Médio e que também foram incorporados pelos antigos judeus ao seu corpo de crenças. Os judeus, provavelmente em tempos mais recentes, transformaram este em um mito fundador de seu povo, como vários outros povos o fizeram, e passaram a ver a sua história de uma maneira linear - visão fortalecida pelos dois exílios e pelas profecias da reinstituição do reino de Israel através da interferência de Javé. A história do povo judeu tinha assim seu mito de Criação e do surgimento de seu povo, com as histórias de Abraão e Moisés. Mais tarde, após o segundo exílio, esta visão teleológica da história foi ainda mais fortalecida com as visões apocalípticas, cujo teor era essencialmente de destruição da dominação grega e mais tarde romana, e instituição do domínio de Javé.

Tudo isto foi incorporado pelo cristianismo e através dele à filosofia cristã. A discussão se a filosofia moderna ainda pode ser chamada de cristã ainda está em aberto. Inegavelmente nossa filosofia, mesmo aquela posterior à Revolução Francesa, tem muitos pressupostos que tiveram sua origem na cultura cristã.

A filosofia ocidental contemporânea teria conseguido equacionar a eterna discussão entre Heráclito e Parmênides - a dicotomia entre o mundo das Ideias (ou dos Ideais) e o mundo criado pelo Demiurgo, segundo Platão? Seria possível conciliar a visão de ambos os filósofos gregos? Sob ponto de vista de Heráclito tudo muda, mas para Parmênides é apenas a superfície que muda, o Uno não. O que seria este Uno? O fundamento do universo? Sob certo aspecto a história muda, mas, de certa forma permanece a mesma. Dependendo dos parâmetros que consideramos, Heráclito está certo, considerando outros aspectos a razão fica com Parmênides. É, por exemplo, o caso da dialética de Hegel, que numa primeira visão parece ir de encontro ao pensamento de Heráclito. No entanto, todo o processo dialético da história é a manifestação e crescente presença do "Espírito Absoluto", ou seja, a velha ideia do Uno, já defendida por Parmênides.


Influenciada pelo cristianismo e pelo filosofia, a civilização ocidental incorporou dois conceitos bastante importantes na história da cultura: a ideia de que existem dois mundos; um material e o outro oculto, “espiritual”, como afirma a religião cristã e as metafísicas. O segundo conceito diz respeito à história, quando afirma que o desenrolar das ações humanas, dos grupos e da civilização tem um direcionamento e finalidade. Para a religião esta finalidade é algum tipo de união com a divindade, seja no mundo ou em um plano espiritual.(CONTINUA)

(Imagens: pinturas de Georgia O' Keeffe)

Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 20 de junho de 2018


Panem et circences


Mais uma Copa de futebol se realiza. Naturalmente, a seleção do Brasil participa como uma das mais cotadas para ganhar o título (como reagiria o país se, alguma vez, a “seleção canarinho” não passasse das eliminatórias?).

A mídia está cheia de anúncios, através dos quais as empresas exploram o latente ufanismo nacionalista, tentando vender seus produtos a depauperados consumidores.

Bebidas, móveis, carros, celulares, produtos alimentícios e milhares de outros bagulhos são associados às prováveis vitórias dos nossos “soldados” nos campos de batalha da Rússia.

O país está em guerra! Nossos “soldados” lutam pela pátria! É hora de esquecermos das mazelas internas e torcermos pelo meninos de Tite!

(Imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg)

Newsletter junho/julho/agosto 2018

sábado, 16 de junho de 2018

(publicado originalmente no site www.ricardorose.com.br)

O que dizer das perspectivas do setor ambiental brasileiro para os próximos três meses?
Aliás, o que falar das perspectivas econômicas para os próximos três meses e para o ano de 2018, já que o setor ambiental está ligado ao crescimento da economia? Hoje, 2 de junho, ainda vivemos os efeitos da recente greve dos caminhoneiros, com falta de gasolina e diesel em muitos postos, desabastecimento de produtos para a população, matérias primas para as empresas e muitas outras consequências em toda a economia.

A paralisação dos transportadores contou com o apoio de toda a população, pois representou um protesto coletivo contra tudo de errado que o Estado brasileiro vem fazendo há muitos anos, conduzido por uma sucessão dos governos. Impostos altos e péssimos serviços; incompetência na elaboração, planejamento e execução de políticas públicas; aumento dos gastos e favorecimento de aliados, grupos de pressão, asseclas e financiadores. Enfim, um Estado que há muitas décadas vem favorecendo grandes grupos econômicos, explorando a classe média e dando apenas migalhas à maior parte da população. Entre os 193 países existentes no planeta, somos a oitava ou nona maior economia e vivemos em tais condições!

No início do ano, em pleno clima de “Agora vai!” os economistas previam um crescimento de 2,8% para a economia brasileira em 2018. O desemprego estava em queda e alguns indicadores – produção industrial, agronegócio, inflação baixa e taxa de juros – apontavam para uma lenta recuperação da economia. Mas, já em março voltou o desemprego, a economia diminuiu seu ritmo de crescimento e já se antevia uma expansão menor do PIB. A greve dos caminhoneiros jogou ainda mais água na fervura e definitivamente as coisas desandaram: a previsão de crescimento da atividade econômica é agora entre 1,8% a 1,2%.

Com toda essa confusão e desalento – alguns estão chamando o Brasil de “o país do desalento” – não há muito o que se prever na área ambiental. O governo federal e os governos estaduais e municipais não dispõem de recursos para implementarem a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A situação na questão dos resíduos ainda é a mesma da descrita pela jornalista Sucena Shkrada Resk em artigo publicado no blog “Cidadãos do Mundo” em 26/01/2018: “O Ano era 2010, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) trouxe a esperança de que a gestão pública brasileira, de uma forma geral, iria se redimir dos sucessivos erros no quesito infraestrutura, ao longo de décadas. Mas do papel à realidade, chegamos em 2018, e constatamos que existe uma cultura de inoperância resistente que fragiliza a efetivação dessas mudanças em boa parte dos municípios. A prova está na permanência de cerca de 3 mil lixões ou aterros controlados espalhados pelo território nacional em 3.331 municípios, que recebem cerca de 30 milhões de toneladas de resíduos urbanos anualmente (41,6%). Os dados de projeção fazem parte do documento Panorama de Resíduos Sólidos 2016, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe). Chorume, gases tóxicos e trabalhadores em condições insalubres compõem este cenário obsoleto ainda em vigor.”

Somente a logística reversa em fase de implantação em empresas de grande porte não resolverá a questão da gestão dos resíduos. Centenas de milhares de micro e pequenas empresas não dispõem de conhecimento e recursos – financeiros e técnicos – para se prepararem para a chegada da lei. Por outro lado, mesmo nos municípios, a situação é a mesma. Enfrentando problemas de arrecadação, diminuição no repasse de verbas e falta de quadros qualificados, a grande maioria dos 5.570 municípios não conseguirá implantar a política de resíduos. É esperar para ver – e nada acontecerá.

Em final de 2017, pela terceira vez, o governo federal prorrogou mais uma vez o prazo de apresentação dos Planos Municipais de Saneamento Básico, previstos na Lei do Saneamento. De acordo com a lei, os municípios que não tiverem apresentado um plano de gestão de seu saneamento, agora até o final de 2019, serão proibidos de receberem recursos federais. Até o momento apenas 30% dos municípios apresentaram seus planos.

Para poder oferecer cobertura de saneamento em todo o país, o governo teria que investir o equivalente a R$ 16 bilhões a cada ano, durante um período de 20 anos. O objetivo parece muito difícil de ser alcançado, levando em conta que em 2018 o governo federal só pôde destinar R$ 7 bilhões para o saneamento.

Em tempos de crise a questão ambiental é colocada em segundo ou terceiro lugar. Como dizem: “Quando o orçamento está no vermelho, ninguém pensa no verde.” Assim, a vasta gama de temas que deveriam constar da agenda de governos, como a questão da poluição atmosférica, a preservação de recursos hídricos e florestais, a recuperação de áreas contaminadas, matas ciliares e manguezais, tudo fica para amanhã. Que amanhã?   
(Imagem: pintura de Edward Munch)

Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 13 de junho de 2018


Pega ladrão! 


Houve uma época em que alguém gritando "Pega ladrão!" despertava a atenção das pessoas. Se no passado as pessoas tinham a intenção de pegar o ladrão, sabendo que estavam em maioria e que tinham mais poder, hoje a situação se inverteu. Poucos atenderiam ao chamado. A maior parte teria medo de que o criminoso estivesse armado ou de que pudesse se vingar, caso fosse preso. A proteção que a sociedade dá ao indivíduo é insuficiente e ineficiente.

Parece que atualmente os bandidos têm mais força do que a sociedade; por fraqueza moral das próprias pessoas ou inépcia dos mecanismos de defesa que deveriam proteger a própria sociedade. O que houve?

Lendo as crônicas de Lima Barreto, escritor carioca do início do século XX, vemos que o Brasil nem sempre foi assim. Rio de Janeiro, então a capital e maior cidade do pais, tinha áreas ricas e pobres, os subúrbios. Num destes morava Lima Barreto. Relatava que a vida era tranquila e, mesmo voltando tarde para casa, nunca fora perturbado por bandidos. Em outras cidades, provavelmente, o dia a dia era mais tranquilo ainda.

O que aconteceu à sociedade brasileira, para que em menos de cem anos se transformasse em uma coletividade onde domina a insegurança, o medo, o crime, a violência e a morte? A partir de que ponto de nossa história nos transformamos em um povo dominado pelo medo e crime?

Qual será o efeito destes longos anos de insegurança sobre gerações seguidas de cidadãos e de que modo isso afetará o futuro do país?

(Imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg)

Notas sobre o mercado ambiental brasileiro

sábado, 9 de junho de 2018
"A filosofia bem sucedida (ou 'verdadeira') já não definida por uma explicação (ou representação) da totalidade do ser que seja suscetível de verdade [truth-apt], mas que por sua capacidade de dar conta das ilusões, ou seja: de explicar não apenas por que ilusões são ilusões mas também por que elas são estruturalmente necessárias e invitáveis e não simples acidentes."   -   Markus Gabriel e Slavoj Zizek   -   Mitologia, loucura e riso


As primeiras indústrias surgiram no Brasil no final do século XIX, com o aparecimento de tecelagens e metalúrgicas. Durante o início do século XX o numero de indústrias cresceu, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo. Ao final dos anos 1930 o País já possuía um parque industrial capaz de atender as necessidades básicas do mercado consumidor interno. A industrialização inicia-se efetivamente a partir da década de 1950, quando o Brasil já dispõe de uma pequena indústria de base, estruturada de modo a sustentar o crescimento de outros setores. Fortemente impulsionada pela indústria automobilística e seus fornecedores, seguiu-se toda uma cadeia produtiva de metalurgia, produção de máquinas e equipamentos. Aliado a estes setores, ocorre a expansão da infraestrutura (transportes e geração de energia) e a construção das primeiras refinarias, base do desenvolvimento da indústria petroquímica na década seguinte. Ainda durante este período, o governo de Juscelino Kubitschek institui o Plano de Metas, cujos principais objetivos eram: combate ao subdesenvolvimento via industrialização, diversificação da estrutura produtiva, reforma agrária, distribuição de renda, planejamento econômico e reforma administrativa fiscal. Concede-se às multinacionais prazos de isenção fiscal, terrenos, infraestrutura e crédito oficial. Muitas delas se instalam com menos de 20% de investimento efetivo de capitais. Ocorre assim forte fluxo de capitais, sobretudo dos EUA, da Alemanha, do Japão e da França. O PIB (Produto Interno Bruto) cresce em média 7% ao ano, contra 5,2% no período 1945-1955. A produção industrial aumenta 80% em 1955-61, a siderurgia 100%, a indústria mecânica 125%, a elétrica e de comunicações 300% e o recordista setor de transportes cresce 600%.

Paralelamente ao processo de industrialização também sucedem grandes mudanças no campo, a partir da década de 1960. A incorporação de uma maior extensão de terras agricultáveis, através da expansão da fronteira agrícola em estados como Paraná, Goiás e Mato Grosso, provoca uma demanda maior por equipamentos e insumos agrícolas, iniciando o processo de mecanização do campo. Este fato, aliado à grande oferta de empregos nos centros urbanos, fortalece bastante o êxodo rural, que já vinga ocorrendo desde a década de 1940, mas se tornará mais acentuado entre os anos 1950-1980. Neste processo haverá um deslocamento de cerca de 30 milhões de pessoas do campo para as cidades. No início dos anos 1950 aproximadamente 70% da população brasileira ainda vivia no campo e 30% nas cidades. Apenas trinta anos depois, esta proporção havia se invertido. É preciso não subestimar o impacto que estas migrações causaram nas grandes metrópoles brasileiras, já que os investimentos na expansão da infraestrutura não foram suficientes para atender a crescente demanda por serviços públicos, vindo a provocar o colapso da qualidade de vida nas grandes regiões metropolitanas.

Durante este período da história do país, chamado de "milagre econômico", a questão da degradação ambiental não era discutida. O governo da época, formado por militares e tecnocratas, estava mais interessado em aumentar a produção industrial e na ocupação de terras virgens (como no caso da construção da rodovia Transamazônica), do que na proteção dos recursos naturais. A falta de preocupação ambiental era compreensível para a época, já que o país tinha que crescer e gerar riqueza para a maior parte de sua população. Em consequência desta orientação, inexistia praticamente uma legislação ambiental, não havia órgãos de controle ambiental e a ação de ONG's era fortemente cerceada. A opinião pública não tinha acesso a informações e desconhecia a degradação ambiental em andamento - a proteção dos recursos naturais provavelmente não passaria pela cabeça da maior parte dos brasileiros à época.

Aproveitando a completa ausência de controle ambiental, o setor privado – nacional e estrangeiro – também não realizava quaisquer investimentos para atenuar o impacto de suas atividades industriais. O setor público, principalmente governos estaduais e municipais, sempre priorizou o fornecimento de água potável, já que tais investimentos eram imediatamente percebidos pela população, geravam receita e tinham um custo de instalação menor do que o tratamento de esgotos domésticos. Quanto aos resíduos domésticos ou indústrias, não havia legislação específica ou diretrizes técnicas, e desta maneira eram destinados às valas ou "lixões", construídos de modo primitivo, sem qualquer tipo de proteção do solo.

No final da década de 1970, a situação econômica mundial e do Brasil sofrem uma grande mudança. Os capitais de investimento, ainda fartos no mercado mundial antes da segunda crise do petróleo (1979), tornaram-se escassos. Os países ricos redirecionam seus investimentos, há uma retração geral dos mercados em desenvolvimento e a economia brasileira deixa de crescer nos níveis médios de 5% ao ano, registrados nos 15 anos anteriores (1964-1979). No quadro político interno tem início o processo de redemocratização, que culmina com a votação da Constituição em 1988 e a convocação das eleições presidenciais diretas em 1989.

Com relação ao meio ambiente, em meados da década de 1970 já se esboça um maior controle, através da criação de leis mais específicas e do surgimento dos órgãos de controle ambiental. Esta preocupação, mesmo que ainda incipiente, culmina com a votação de diversos artigos na Constituição, versando especificamente sobre a proteção ao meio ambiente. 

A abertura da economia brasileira que tem início no final dos anos 1980 e se amplia a partir de 1990 com o governo Collor, também trouxe benefícios ambientais. As empresas brasileiras tiveram que melhorar sua produtividade para poder enfrentar a concorrência dos produtos importados. O aumento da produtividade também implicava um melhor uso das energias e insumos, reduzindo, desta forma, os resíduos perdidos na produção. Empresas exportadoras também foram pressionadas por seus compradores estrangeiros a implementarem sistemas de produção mais limpos, já que os consumidores dos países ricos preferiam produtos fabricados por processos ambientalmente corretos. Com mais informações disponíveis, os consumidores e a opinião pública brasileira, passaram a exigir melhores produtos e condições de vida, com qualidade ambiental. O número de ONG's também aumenta rapidamente, atuando em diversos segmentos, desde programas sociais que envolvem iniciativas de reciclagem de materiais, ações populares exigindo o tratamento do esgoto doméstico, até movimentos por moradias e reforma agrária. Os conceitos de "desenvolvimento sustentável" e "tecnologias limpas" – discutidos durante o Encontro Internacional sobre Meio Ambiente realizado no Rio de Janeiro, em 1992 (ECO 92) – passaram a ser gradualmente incorporados às estratégias das grandes empresas brasileiras e estrangeiras e a muitos setores do governo federal.

O mercado ambiental brasileiro é o maior da América Latina. Devido a sua população e extensão territorial, o governo brasileiro precisa fazer grandes investimentos em saneamento e gestão de resíduos, além de outros setores. Até o momento uma grande parte da população - cerca de 45% - ainda não tem esgoto tratado. Na questão dos resíduos domésticos, a maioria dos municípios ainda não dispõe de aterros sanitários corretamente instalados.

A indústria ambiental brasileira surgiu durante os anos de 1950, como resposta a demanda que se iniciava no setor público (prefeituras) e privado, principalmente na área de tratamento de água e efluentes. Os poucos fabricantes de equipamento que existiam no mercado ainda não estavam especializados e forneciam equipamentos para processos industriais, assim como para o tratamento de água e efluentes. A demanda existente no mercado ainda era muito pequena e deste modo não existia a especialização. Equipamentos não disponíveis eram importados ou fabricados por empresas já atuando no setor, dependendo do volume da demanda. O desenvolvimento da indústria ambiental ocorreu em grande parte devido às necessidades específicas cada vez mais crescentes da indústria, apesar de o setor público sempre ter sido o maior comprador de equipamentos neste segmento.

O mercado da indústria de saneamento tomou impulso a partir da década de 1970, quando o governo federal instituiu o PLANASA (Plano Nacional de Saneamento), criando as companhias estaduais de saneamento. Estas companhias receberam as concessões das prefeituras para assumirem os serviços de tratamento de água e de esgoto das cidades. Deste modo, as companhias estaduais de saneamento acabaram por centralizar estes serviços, tornando-se importantes interlocutores para as empresas privadas, fabricantes de equipamentos e consultorias fornecedoras de serviços especializados. Atualmente existem 27 companhias estaduais de saneamento, atendendo cerca de 3.800 municípios. Os 1.700 municípios restantes possuem serviços de tratamento de água e esgotos autônomos. 

A demanda do mercado é suprida por fabricantes estabelecidos no Brasil; empresas de capital nacional ou multinacional. Como o mercado de equipamentos de saneamento estava fechado às importações até 1990, desenvolveu-se internamente uma forte base industrial, capaz de suprir a maior parte das demandas de equipamentos e serviços do setor. Existem nichos de mercado, como instrumentação de controle e monitoramento, análise e automatização, que ainda não são supridos pela indústria nacional em sua totalidade. Estas tecnologias são supridas por importações, realizadas através de representantes brasileiros de fabricantes estrangeiros.

O mercado para as tecnologias para gerenciamento de resíduos desenvolveu-se em época posterior ao do das tecnologias de tratamento de água e de efluentes. A maior parte da legislação relacionada com o transporte, manuseio, recuperação e destinação final de resíduos só foi desenvolvida durante a década de 1980. Por outro lado, o transporte e a disposição dos resíduos domésticos são de responsabilidade das prefeituras, que estão em situação deficitária em sua maioria, impossibilitadas de realizarem novos investimentos. Para dar uma destinação correta a seus resíduos, as empresas privadas se utilizam em principalmente da oferta de serviços e equipamentos já existente no mercado nacional. A exemplo do mercado de saneamento, o setor de gerenciamento de resíduos é dominado por empresas brasileiras, principalmente quanto aos equipamentos. Existem algumas empresas de consultoria atuando em associação com empresas estrangeiras, mas sua quantidade ainda é muito diminuta em relação ao potencial do mercado.

O mercado ambiental brasileiro continua em constante evolução. A nova legislação referente ao gerenciamento, a Política Nacional de Resíduos Sólidos está criando novas mudanças no mercado, abrindo novas perspectivas de negócios para as empresas. Igualmente as tecnologias de energias renováveis estão se tornando cada vez mais representativas na matriz energética. O grande impulso, no entanto, virá da melhoria do controle ambiental e de uma maior conscientização por parte da população, exercendo papel fiscalizador sobre as ações do governo.
(Imagens: pinturas de Herbert Kornfeld)

Notas rápidas (Homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 6 de junho de 2018



"Deus me proteja de todo o mal" 

A toda hora se vê esta frase em colantes nos automóveis. São muitos os que pedem proteção, aparentemente contra os mais variados males.

Não é comum ver tais pedidos nos carros de outros países, especialmente naqueles que detêm um Produto Interno Bruto (PIB) comparável ao do nosso país. Países iguais ao nosso na riqueza, pelo menos de acordo com as estatísticas, mas desiguais na desgraça.

Por que será?

A impressão que se tem é que estas nações não são assoladas por tantos flagelos. Apenas têm que enfrentar terremotos, tsunamis, nevascas, furacões, secas e eventuais crises econômicas. Não são castigados com as maldades humanas que nos assolam. 

Por aqui parece que a coisa é mais brava. Há muito mais mal contra o qual é preciso pedir proteção a Deus.

Mas, alguns têm seu pedido atendido. A maioria não!

(Imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg)

Notas sobre o desenvolvimento da questão ambiental

sábado, 2 de junho de 2018

"- Quer dizer que não há esperança?
  - Sim, há muita esperança. Mas não para nós." 
                       Gustav Janouch   -   Conversas com Kafka


A atividade humana vem influindo no meio ambiente desde a Antiguidade. Nas últimas décadas, arqueólogos encontraram cada vez mais indícios de que diversas cidades da Mesoamérica pré-colombiana foram abandonadas, devido à exaustão dos recursos hídricos, provocada pelo desflorestamento da região. Hoje, sabe-se que grande parte das regiões costeiras do Mar Egeu foi cobertas por pinheiros e carvalhos, cortados para construção de embarcações das frotas marítimas de fenícios, cretenses, gregos e romanos. A destruição dos ambientes naturais ocorre ao longo de toda a história; passando pelo avanço da fronteira agrícola na Europa durante a Idade Média, pela extração de madeiras nas Américas e especiarias na Ásia, até o estabelecimento de extensas áreas de monocultura, derrubando e vegetação original de muitas regiões do planeta.

Com o desenvolvimento da máquina a vapor no final do século XVIII, com aplicações na indústria têxtil, na mineração e no transporte em geral, utilizando-se do carvão mineral como principal fonte energética, o impacto ao meio ambiente passou a aumentar exponencialmente. Iniciada na cidade de Manchester, e a princípio restrita à Inglaterra, a mecanização das atividades industriais e de transporte rapidamente se estendeu ao continente europeu. Em poucos anos a França e a Alemanha passam a dominar e desenvolver diversas tecnologias, baseadas na utilização do carvão mineral, bastante abundante e de fácil extração na região.

Associada à industrialização, ocorre o fenômeno da migração de grandes massas humanas do campo para a cidade. Procurando melhores oportunidades de vida, milhares de camponeses e trabalhadores sem especialização deixam o campo e as pequenas cidades, para migrar para as cidades maiores, onde esperavam encontrar trabalho nas indústrias. A vida na cidade era, todavia, pior do que aquela que deixaram para trás, no campo. Charles Dickens, escritor inglês que melhor retratou estes aspectos da sociedade inglesa durante o século XIX, descreve a vida destes operários; homens, mulheres e crianças, submetidos a jornadas de trabalho de até 16 horas, ganhando salários baixíssimos e vivendo em péssimas condições de higiene e conforto. O acúmulo de indústrias, moradias – na realidade imensos cortiços – e de outras atividades em um pequeno espaço, queimando carvão para diversos fins (acionamento de máquinas, aquecimento, cozimento de alimentos), gerava muita fumaça, provocando diversas doenças respiratórias.

Este, porém, não era o único problema ambiental urbano à época. Havia a contaminação da água, já que inexistiam sistemas de coleta e tratamento de esgotos. O economista Barrington Moore Jr., em seu livro Aspectos morais do crescimento econômico relata que surtos de cólera mataram centenas de pessoas na década de 60 do século XIX, em Londres. Isto fez com que a prefeitura se convencesse da necessidade de construir um sistema de coleta e tratamento desses resíduos. "A partir daí, as famílias puderam instalar banheiros em suas residências e diminuíram os casos de cólera", relata o autor. No decorrer da segunda metade do século XIX e início do século XX, todas as grandes aglomerações urbanas da Europa Ocidental passaram a coletar e a tratar os esgotos domésticos. Surtos de cólera, como, por exemplo, os ocorridos nos últimos anos do século XIX na cidade de Hamburgo, tornaram-se cada vez mais raros.

Com o desenvolvimento tecnológico, o século XX trazia novos problemas ambientas: a poluição provocada pelas emissões atmosféricas, resíduos e efluentes industriais. Na publicação Meio Ambiente: Acidentes, Lições e Soluções, dos engenheiros Cyro E. do Valle e Henrique Lage, são listados, entre outros fatos, alguns dos principais acidentes ambientais ocorridos no século XX:

1914 / 1918: Gases tóxicos na guerra que matam cerca de 100.000 pessoas;
1928: Acidente com gás fosgênio mata dez pessoas e fere 150 em Hamburgo;
1930: Uma ocorrência de smog próximo a Liége causa cem vítimas fatais;
1932: Indústria química em Minamata (Japão) passa a lançar mercúrio no mar;
1951: Indústria do estado de Ohio lança 200 t. de poeira radioativa na atmosfera;
1952: Mercúrio lançado ao mar em Minamata começa a fazer vítimas fatais;
1952: Smog causado por queima de carvão causa quatro mil mortes em Londres.

A lista apresentada pelos autores é bastante extensa, mostrando que os impactos provocados pelas indústrias – na época ainda sem efetivo controle ambiental de suas atividades – foram bastante danosos. A mobilização da sociedade, forçando governos a criarem uma estrutura legal para regulamentar as atividades industriais, ainda não havia ocorrido.

Após a Segunda Grande Guerra diversas regiões do globo, notadamente os Estados Unidos, a Europa e o Japão (estes dois últimos com recursos do Plano Marshall) apresentam um crescimento de suas atividades econômicas, sem precedentes. Aumenta a atividade industrial e com ela o fluxo mundial de matérias-primas, fontes energéticas (principalmente petróleo) e produtos acabados. Paralelamente, inicia-se a "Revolução Verde" na agricultura, baseada na mecanização das atividades e no uso maciço de fertilizantes e agrotóxicos a fim de aumentar a produtividade das safras agrícolas. Neste contexto de intensas atividades econômicas, o meio ambiente recebe cargas cumulativas de resíduos e efluentes, já que a maior parte dos países não dispunha de leis ambientais abrangentes e específicas.

No entanto, fatos novos começam a mudar este panorama. Em 1962 a bióloga norte-americana Rachel Carson publica o livro Primavera Silenciosa, que analisa o efeito dos inseticidas no meio ambiente. Em um trecho de seu livro Carson escreve: "Pela primeira vez na história do mundo, agora todo ser humano está sujeito ao contato com substâncias químicas perigosas, desde o instante em que é concebido até sua morte." Pouco depois, em 1968, é criado o Clube de Roma, formado por cientistas dedicados a estudar o problema da fome mundial e a degradação da natureza provocada pelas diversas atividades humanas. Com relação à falta de alimento em vastas regiões da Ásia, África e América Latina, o Clube de Roma fez, baseado em estudos da época, diversas previsões catastróficas que não acabaram se concretizando. Todavia, parte de suas atividades serviu de alerta para muitos governos e instituições, sobre os rumos que o sistema industrial estava tomando.

No aspecto social, surgem nos Estados Unidos e na Europa diversos movimentos, com diferentes orientações ideológicas, que colocam em questão o sistema econômico e a organização social vigente, base do que se chamava o American way of life (modo de vida americano), cuja grande ênfase estava no aumento do consumo e da produção. Fizeram parte destas correntes de opositores ao regime os vários movimentos de contracultura que dos Estados Unidos se espalharam pelo mundo. Alguns anos depois, muitos personagens remanescentes destes grupos vieram a constituir as primeiras ONG's (Organizações Não-Governamentais) atuando no setor ambiental, como a Greenpeace e a Worldwatch Institute, entre outras.

A década das grandes mudanças no setor ambiental foi a de 1970. Além da realização de diversas convenções internacionais, que iriam estabelecer as bases para a regulamentação de muitas atividades (transporte marítimo de produtos perigosos, proteção às espécies ameaçadas, controle de emissões, entre outras), foram criados órgãos ambientais e estabelecidas legislações sobre resíduos, inicialmente nos países industrializados. A legislação e as normas técnicas ambientais destes países tornaram-se cada vez mais restritivas, forçando a indústria a introduzir procedimentos que reduzissem a geração de resíduos, efluentes e emissões, passando assim a um melhor aproveitamento dos seus recursos. O responsible care iniciado pela indústria química, é um exemplo de tais iniciativas. Na Alemanha, por exemplo, a partir da década de 1970, a água de refrigeração empregada pela indústria passou a ser utilizada pelo menos por três vezes, antes de ser descartada. Segundo a publicação From Ideas to Action - Business and Sustainable Development (Das ideias à ação - empresas e desenvolvimento sustentável), a indústria química alemã reduziu em poucos anos suas necessidades de energia por unidade produzida em um terço.

Por outro lado, o gradual desenvolvimento do desempenho ambiental dos países desenvolvidos, acaba conduzindo à visão de que "são os países ricos que estão mais preocupados com os efeitos da continuidade das agressões ao meio ambiente, criando um número maior de leis de proteção ambiental do que nos países pobres. Os países ricos reclamam de estarem em desvantagem com relação aos menores custos de produção em países menos favorecidos, onde as leis ambientais são pouco rígidas ou nem mesmo existem", segundo citado por Philip Kotler em O Marketing das Nações".

A melhoria da legislação e do controle ambiental, associados ao aumento da conscientização dos consumidores, propiciou condições favoráveis para o surgimento de uma indústria ambiental nos países desenvolvidos, ainda na década de 1970. Na Europa, a Alemanha foi o país que mais rapidamente se destacou neste mercado. Dispondo de uma legislação bastante elaborada e de capitais públicos e privados, suficientes para executar os investimentos ambientais, a economia do país permitiu que se formasse todo um setor ambiental, constituído em grande parte pelo Mittelstand, as empresas de porte médio, que foram as grandes impulsionadoras da recuperação econômica alemã do pós-guerra.

O mercado ambiental mundial movimentou cerca de US$ 950 bilhões 2017, em serviços e equipamentos. Os países que lideram este mercado são os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão, cada um detendo cerca de 20% do mercado mundial. Outros atores importantes neste mercado são a França, Inglaterra e a Itália.
A exemplo do que ocorre na Alemanha, o mercado mundial de meio ambiente é dominado pelas pequenas e médias empresas, atuando em seus nichos de mercado, com alto nível de especialização, já que o segmento é bastante diversificado e requer soluções altamente técnicas. A exceção a esta regra é o mercado de saneamento básico (tratamento de água e esgoto doméstico) onde, devido à privatização dos serviços em alguns países, aliados aos valores de investimento envolvidos, atuam os grandes grupos econômicos do setor.
(Imagens: pinturas de David Normal)