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quarta-feira, 29 de maio de 2019

Marx e as ideias dominantes em cada época

sábado, 25 de maio de 2019

"'A atitude de Nietzsche pode ser concebida como um spinozismo mais radical. Spinoza, sustenta o filósofo, não levou a batalha contra o antropomorfismo longe o bastante.' Em suma, no contexto do pensamento nietzschiano, não só Deus, mas também 'as sombras de Deus' teriam que ser removidas."   -   André Martins (org.) O mais potente dos afetos: Spinoza e Nietzsche 


Estudando a filosofia de Hegel, Marx passou gradativamente a criticá-la, utilizando como instrumento, entre outros, os autores materialistas da Antiguidade – Demócrito e Epicuro – os quais examinou em sua tese de doutorado. Ainda neste período de formação de sua filosofia, Marx foi também influenciado pela chamada “esquerda hegeliana”; grupo de filósofos que se utilizando da dialética hegeliana, combatia a visão idealista de Hegel, tendo como pressuposto uma abordagem materialista. A maior parte das críticas de filósofos como Bruno Bauer (1809-1882), David Strauss (1808-1874), Max Stirner (1806-1856) e Ludwig Feuerbach (1804-1872), principais expoentes da esquerda hegeliana, eram dirigidas à religião.

Estas críticas, no entanto, segundo Marx, ainda não atingiam diretamente o ponto. Os membros da esquerda hegeliana criticavam as idéias religiosas como produto da consciência; atacavam-nas como idéias incorretas sobre a realidade. Marx dizia que esta crítica ainda era metafísica, idealista, pois não ia às causas das idéias religiosas. Não cabia provar que conceitos metafísicos como “alma”, “Deus”, “eternidade” eram ilusões; era necessário identificar as origens de tais conceitos. Em relação a este ponto, escreve Marx na segunda nota das Teses sobre Feuerbach:
“A questão de saber se é preciso conceder ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão de teoria, porém uma questão de prática. É na prática que o homem deve comprovar a verdade, isto é, a realidade efetiva e a força, o caráter terrestre de seu pensamento. A disputa referente à realidade ou à não-realidade efetiva do pensamento – que está isolada da prática – é uma questão puramente escolástica.” (Marx apud Labica, 1990, p.31)

Marx aprofunda então sua crítica, dizendo que os integrantes da esquerda hegeliana são conservadores, já que combatem, segundo Reale e Antiseri, “contra frases e não contra o mundo real de que tais frases são o reflexo”. Ainda é Marx que escreve: “Não veio à mente de nenhum desses filósofos procurar o nexo existente entre a filosofia alemã e a realidade alemã, o nexo entre a sua crítica e o seu próprio ambiente material” (Marx apud Reale e Antiseri, 1991, p. 187)

É a partir da crítica à religião que Marx mais adiante passará à crítica de toda a ideologia e terá condições de explicar a origem da superestrutura – as idéias e instituições que mantêm a sociedade. Nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, escreve Marx:
“Este é o alicerce da crítica irreligiosa: o homem faz a religião; a religião não faz o homem. Mas o homem não é um ser abstrato, acovardado fora do mundo. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a perder-se. O homem é o mundo do homem, o Estado a coletividade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. (Marx, 2005, p. 45 – negrito nosso).   

Nestes escritos Marx já identifica a religião como sendo algo criado pelo homem; pelos mesmos que dominam o Estado e a sociedade. Daí para explicar o restante das produções do espírito humano foi apenas um passo. Marx identificou dois aspectos nas sociedades, que para nós podem ser evidentes depois de tanto terem sido repetidas por vários pensadores, mas que foram revolucionários à sua época:
a)    Que a religião, junto com todo o resto da cultura é uma produção humana, espelho das condições socioeconômicas; e
b)    Que a produção espiritual do homem (a cultura e as instituições) reflete o modo de produção e serve aos interesses dos detentores dos meios de produção.

Em outras palavras, Marx identificou a relação existente entra as idéias e as instituições de uma sociedade e a maneira como funcionava sua economia. Em relação a esta ideia, escreve Marx em A Miséria da Filosofia:
“As relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens mudam seu modo de produção e, mudando o modo de produção, a maneira de ganhar a vida, mudam todas as suas relações sociais. O moinho manual nos dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial. Os mesmos homens que estabelecem as relações sociais em conformidade com sua produtividade material produzem também princípios, as ideias, as categorias, em conformidade com suas relações sociais. Assim, essas ideias, essas categorias são tão pouco eternas quanto as relações que exprimem. São produtos históricos e transitórios. (Marx, 2007, p. 100-101 – negrito nosso).

Um exemplo clássico desta análise é o da sociedade feudal; estática, dividida basicamente em três classes: a nobreza, os religiosos e os servos. Esta divisão de classes reflete a maneira como a sociedade feudal era economicamente estruturada; o seu modo de produção (pelo menos em grande parte da alta Idade Média). Os senhores feudais; a nobreza eram, junto com a Igreja, detentores das terras agricultáveis – a agricultura era a principal atividade econômica. Os servos de gleba eram responsáveis pela produção, pela manutenção material da sociedade.

Sob ponto de vista econômico eram os servos, que praticando a agricultura e o artesanato, proviam a sociedade. A principal atividade dos nobres eram os torneios e as batalhas, além de gerirem a política; aos religiosos cabia cuidar dos aspectos espirituais da sociedade: a religião e a cultura. Nobres e religiosos viviam, pois, à custa dos servos. Para manter e justificar esta estrutura social, este “modo de produção feudal”, como dizia Marx, havia necessidade do uso da força e de ideias.

A força era largamente aplicada, principalmente durante as perseguições aos hereges (que questionando a religião, colocavam em dúvida a estrutura social) e na repressão de levantes de agricultores e artesãos, notadamente no final da baixa Idade Média. Além disso, havia a violência diária, praticada pelo nobre e pelo bispo através de seus agentes.

As idéias foram sendo elaboradas aos poucos, sempre adaptadas às necessidades espirituais de cada período (não podemos esquecer de que a Idade Média é um nome para um longo período de mil anos na história da sociedade ocidental). Alguns exemplos refletem bem a relação entre a superestrutura e a infraestrutura; e a justificação desta pela outra:
- Assim como a sociedade era formada por servos e nobres – estes divididos em marqueses; condes; barões; príncipes; e reis, etc. – a hierarquia celestial também era formada por anjos; arcanjos; querubins; etc., até chegar a Deus. Havia também uma hierarquia infernal, formada por figuras como Astarot, Asmodeu, Belzebu, etc., cada um com uma atribuição, até chegar a Lúcifer ou o Demônio;
- O próprio inferno, segundo Dante Alighieri escreve na Divina Comédia (e nisso se baseava em uma tradição cultural que já estava formada à sua época), era dividido em nove círculos e diversas seções – havia até uma hierarquia entre os pecadores e seus pecados;
- As próprias guildas, as associações de artesãos da baixa Idade Média, tinham uma rígida hierarquia, refletindo graus de experiência e conhecimento; os mestres e os diferentes graus de aprendizes.

Outro aspecto da sociedade feudal é sua visão estática do mundo. Nada mais havia a explicar – e, consequentemente a pesquisar – já que tudo havia sido estabelecido por alguns sábios da Antiguidade, como Ptolomeu (astronomia), Aristóteles (ciências naturais) Hipócrates e Galeno (medicina), entre outros. Os escritos destes sábios, por outro lado, havia sido aprovada pela Igreja, a representante de Deus na terra, e deste modo eram lei. Dentro desta estrutura social e culturalmente estática – exatamente para justificar e manter as relações de produção – as inovações eram lentas e controladas. 



A análise de Marx permitiu que enxergássemos a sociedade e seu desenvolvimento sob outra ótica, ultrapassando as visões metafísicas e “místicas”. Finalizamos este texto com a oitava nota das Teses sobre Feuerbach: “Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que orientam a teoria para o misticismo encontram sua solução racional na prática humana e na compreensão desta prática” (Marx apud Labica, 1990, p.34).


Bibliografia:
Labica, Georges. As “Teses sobre Feuerbach de Karl Marx”. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor: 1990, 194 p.
Marx, Karl. A miséria da filosofia. São Paulo. Editora Escala: 2007, 156 p.
Marx Karl. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo. Editora Marin Claret: 2005, 198 p.
Reale, Giovanni. Antiseri Dario. História da Filosofia Vol. III. São Paulo. Paulus Editora: 1991, 1113 p.

(Imagens: pinturas de Giuseppe de Nittis)

Você sabia (meio ambiente)?

sábado, 18 de maio de 2019
"A dissociação absoluta necessária para evitar a catástrofe ambiental (redução do uso de recursos materiais) nunca foi alcançada, e parece impossível enquanto o crescimento econômico continuar. O crescimento verde é uma ilusão."   -   Georges Monbiot , escritor e ambientalista inglês


Energia elétrica no Brasil, você sabia?

A eletricidade que consumimos é produzida por usinas hidrelétricas (64,8%); termelétricas a carvão e gás (18,3%); queima de biomassa como o bagaço de cana-de-açúcar (9,4%); reatores nucleares (1,4%); e geradores eólicos (6,1%)?
Cerca de 10% desta energia é perdida na transmissão da eletricidade, da fonte geradora para a distribuidora (como por exemplo a Eletropaulo), e na distribuição (da distribuidora para o consumidor). A energia perdida custou muito dinheiro para ser gerada.
Você pode ajudar a reduzir o desperdício de eletricidade usando equipamentos elétricos e eletrônicos que consomem menos eletricidade, instalando lâmpadas LED, e verificando a cada cinco anos o estado da fiação elétrica de sua casa.



Lixo e reciclagem no Brasil, você sabia?

O Brasil é um dos maiores geradores mundiais de lixo doméstico. Em 2014 o país produziu 78,5 milhões de toneladas de lixo, dos quais cerca de 90% foram coletados e destes 58% foram destinados corretamente em aterros sanitários?
Isto significa que 10% do lixo que o país produz não é coletado e 42% são colocados em lixões sem controle ou jogados em terrenos baldios. Essa grande quantidade de lixo polui o solo e os rios, além de ser criadouro de insetos, como o mosquito da dengue, e de ratos que transmitem várias doenças.
O lixo deve ser acondicionado corretamente em sacos plásticos e sua parte reciclável (plásticos, metais e papel) deve ser separada onde existe coleta de material reciclável.





Lixo eletrônico polui o meio ambiente, você sabia?

Equipamentos eletrônicos e de informática (computadores, celulares, baterias, TVs) não devem ser jogados diretamente no lixo, já que depois de certo tempos liberam substâncias altamente tóxicas, que contaminam o solo, os rios e plantas?
Em 2014 o Brasil produziu cerca de 1,4 milhões de toneladas de lixo eletrônico. Deste volume somente 4% foi reciclado e o restante foi parar em aterros e lixões.
Muitas empresas fabricantes de equipamentos eletrônicos e de informática já dispõem de locais onde você pode entregar seu lixo eletrônico, onde este material é reciclado e destinado corretamente.


Água, você sabia...

Que sem a presença de água a vida seria impossível? Marte e Vênus, planetas que não dispõem de água em quantidades suficientes são exemplos disso.
Que a quantidade de água no planeta Terra não varia, permanecendo igual, mas podendo mudar de lugar? O deserto do Saara, por exemplo já teve bastante água e o local onde está o Pantanal já foi deserto.
Que pelo uso excessivo e incorreto da água milhões de pessoas são afetadas? No mundo 1,8 bilhão de pessoas estão sendo ameaçadas pela desertificação e a seca.


(Imagens: grafites dos "Os Gêmeos")

Darcy Ribeiro, realizador e teórico

sábado, 11 de maio de 2019
"Há uma nova pobreza no mundo, a pobreza de tempo para a vida e, simultaneamente, a abundância de tempo dos desempregados, tempo inútil porque não serve para nada."   -   José de Souza Martins (sociólogo e professor), em artigo no jornal Valor de 3/5/2019

Em seus trabalhos Darcy Ribeiro analisa a formação da civilização humana, dando grande peso ao desenvolvimento tecnológico (Processo Civilizatório), além de estudar pormenorizadamente o processo de destruição das culturas indígenas do Brasil (Os índios e a civilização). 

Debruçou-se sobre a formação do povo brasileiro (O povo brasileiro), através da miscigenação biológica e cultural entre o índio, o colonizador branco e o negro escravizado. Sem ilusões sobre este processo (diferente de Freyre), Ribeiro o descreve como doloroso, denunciando que o Brasil “sempre foi um moinho gastando gente”.

Na área da educação Darcy Ribeiro foi considerado um grande organizador – vide a UNB, os CIEPs e a Universidade Estadual do Norte Fluminense –, além de assessoria na reforma de universidades na Costa Rica, Argélia, Uruguai, Venezuela e Peru.  

Grande parte de seu pensamento teórico nessa área herdou de seu mestre, o educador Anísio Teixeira (1900-1971). Também foi bom antropólogo de campo, mas algumas de suas obras foram criticadas como sendo romantizadas demais e não usarem dados e pesquisas mais atualizados. Mesmo assim, pode ser colocado entre os mestres da cultura brasileira, como: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior, Celso Furtado, Florestan Fernandes e Antônio Cândido de Mello e Souza.


Trechos das obras de Darcy Ribeiro


O Processo Civilizatório

"Empregamos o conceito de revolução tecnológica para indicar que certas transformações prodigiosas no equipamento de ação humana sobre a natureza, ou de ação bélica, correspondem alterações quantitativas em todo modo de ser das sociedades, que nos obrigam a tratá-las como categorias novas dentro do continuum da evolução sociocultural. Dentro dessa concepção, supomos que o desencadeamento de cada revolução tecnológica, ou à propagação de seus efeitos sobre contextos socioculturais distintos, através de processos civilizatórios, tende a corresponder a emergência de novas formações socioculturais." (Ribeiro, 1997, p.20)

"Em face destes desenvolvimentos futuros, que propiciarão a generalização da prosperidade, a divisão da sociedade em classes econômicas (surgida como fruto dos primeiros acréscimos revolucionários da produtividade do trabalho humano e que só permitia o progresso pela escravização de extensas camadas) tenderá a reduzir-se cada vez mais, até se extinguir completamente. Contra esta tendência, porém, erguer-se-ão com o vigor desesperado da luta pela sobrevivência todos os interesses privatistas, cujos privilégios se assentam na desigualdade social. Supunha-se que esse embate se desse de forma catastrófica, em certo nível do amadurecimento da nova economia. Na verdade, desencadeou-se diante da mera possibilidade teórica de implantar a igualdade e a abundância, através do processo civilizatório que se cristalizou nas formações socialistas revolucionárias como uma antecipação histórica. Sua universalização é que está em causa, neste momento, bem como as vias pelas quais se efetivará e os modelos de sociedade que deverão configurar os povos." (Ribeiro, 1997, p. 163)



Os índios e a civilização

"O Brasil de que vamos tratar é, principalmente, este Brasil interior, de matas e campos indevassados, que só agora vão sendo integrados ao sistema socioeconômico nacional. Ali, índios e civilizados se defrontam e se chocam, hoje, em condições muito próximas daquelas em que se deram os primeiros encontros da Europa com a América indígena. De um lado, são índios armados de arco e flecha que, do recesso de suas matas, olham o brasileiro que hoje avança sobre suas terras, tal como o Tupinambá quinhentista olhava as ondas de europeus que se derramavam das naus portuguesas. Do outro lado, são brasileiros engajados nas frentes de expansão da sociedade nacional que avançam por uma terra que consideram sua e veem no índio uma ameaça e um obstáculo." (Ribeiro, 1986, p. 8)

"Prevê-se uma redução progressiva da população indígena, à medida em que diversos grupos passem da condição de isolamento à da integração. Esta redução não condenará a parcela indígena da população ao desaparecimento como contingente humano, porque o grupo indígenas, ao alcançarem sua integração, tendem a experimentar certo grau de incremento demográfico. Este incremento que, presentemente, permite a alguns grupos refazer parte do seu montante original, poderá levar muitos outros grupos a aumentar sua população, desde que lhes sejam asseguradas condições de vida adequadas." (Ribeiro, 1986, p.445)


O povo brasileiro

"Aquela uniformidade cultural e esta unidade nacional - que são, sem dúvida, a grande resultante do processo de formação do povo brasileiro - não devem cegar-nos, entretanto, para disparidades, contradições e antagonismos que subsistem debaixo delas como fatores dinâmicos da maior importância. A unidade nacional, viabilizada pela integração econômica sucessiva dos diversos implantes coloniais, foi consolidada, de fato, depois da independência, como um objetivo expresso, alcançado através de lutas cruentas e da sabedoria política de muitas gerações. Esse é, sem dúvida, o único mérito indiscutível das velhas classes dirigentes brasileiras. Comparando o bloco unitário resultante da América portuguesa com o mosaico de quadros nacionais diversos a que deu lugar a América hispânica, pode se avaliar a extraordinária importância desse feito." (Ribeiro, 2014, p. 20)

"Os outros povos latino-americanos são, como nós mesmos, povos novos, em fazimento. Tarefa infinitamente mais complexa, porque uma coisa é reproduzir no além-mar o mundo insosso europeu, outra é o drama de refundir altas civilizações, um terceiro desafio, muito diferente, é o nosso, de reinventar o humano, criando um novo gênero de gentes, diferentes de quantas haja. (Ribeiro, 2014, p. 409)


Utopia selvagem

"Seu forte, contudo, não está nas sabedorias do fazer. Está, isto sim, é nas artes do conviver. Nisto estão sozinhos. Organizam suas vidas em comunidade como quem acha que o importante na vida é só viverem todos juntos, convivendo livremente, sem medo de donos, nem de reis, nem de deuses. Até suponho que os socialistas verdadeiramente comunistas o que querem, sem saber, é um mundo como este Galibi. O que buscam há tanto tempo e tão afanosamente - esse velho sonho ansiado de uma coisa que só faltava imaginar bem para possuir realmente - é, nada mais nada menos, do que essa convivência índia num reino mecânico e computacional: civilizado." (Ribeiro, 2014, p.140-141)

(Imagens: pinturas de Martha Cohoon)

A filosofia é um esporte de combate

domingo, 5 de maio de 2019


A filosofia é um esporte de combate
(Artigo do filósofo Vladimir Safatle, publicado no jornal Folha de São Paulo de 3/5/2019)

Quando a filosofia se tornou um dos alvos prediletos do desmonte do desgoverno Bolsonaro, alguns acharam por bem adotar a estratégia da sensibilização para o lugar da filosofia na formação de profissionais eticamente mais orientados e com capacidade de análise crítica.
Ou seja, contra a acusação de sua inutilidade seria o caso de expor, ao contrário, sua pretensa grande utilidade para a reprodução otimizada das estruturas de nossas formas de vida. Como se este desgoverno atual fosse composto de pessoas incapazes de compreender a formação necessária e desejada para o estágio atual de nossas demandas de gerenciamento social.
No entanto, gostaria de dizer que o sr. Bolsonaro acerta quando elege a filosofia e a sociologia como seus alvos privilegiados contra a educação nacional.
Pois, enquanto existir neste país um departamento de filosofia e um departamento de sociologia, nossos alunos serão ensinados, todos os dias, a desprezar governos como este que assumiu recentemente.
Desses departamentos virão levas de jovens que farão de tudo para que este governo caia.
Não é necessário filmar aulas ou procurar outras formas de indícios. Mesmo não falando diretamente das decisões políticas e intervenções atuais, mesmo sem chamar de gato um gato, nossos alunos estão a todo momento sendo formados para desprezar e lutar continuamente contra quem governa um país da maneira com este país está a ser governado.
Quando eles aprendem a filosofia de John Locke, descobrem como, desde o século 17, a filosofia política defende o tiranicídio, ou seja, o direito de a população assassinar os tiranos que procuram submetê-la a golpes de Estado —como o que conhecemos em 1964 e tão louvado por alguns atualmente.
Quando eles abrem os livros de Spinoza, descobrem a potência da crítica às construções teológico-políticas como essas que o evangelo-fascismo de setores que tomaram de assalto o governo tenta impor à sociedade brasileira.
Quando ensinamos Rousseau aos nossos alunos, eles entendem melhor o caráter inegociável da soberania popular, com sua recusa à transferência de poder para figuras autárquicas que se julgam no direito de decidir até conteúdo de propaganda de banco.
Quando eles leem Hegel, compreendem a força de exigências de reconhecimento social das singularidades, de como a invisibilidade social é a forma suprema da inexistência.
Quando é Nietzsche o eixo do debate, fica mais claro o tipo de miséria embutida nos "valores" morais e religiosos que este desgoverno se vê no direito de empurrar goela abaixo da sociedade brasileira.
Como vocês veem, não foi necessário nem sequer falar sobre Marx, Foucault, a desconstrução, a Escola de Frankfurt e tantos outros que causam pânico no Planalto atualmente.
Como vocês veem, não é necessário falar de forma explícita sobre a política atual para que todas as consequências sejam imediatamente compreendidas pela inteligência de nossos alunos.
Ou seja, a história da filosofia é um grande combate contra aquilo que tentam fazer com a sociedade brasileira. A única maneira de parar esse combate seria, exatamente, eliminando-nos, como este governo sonha fazer.
No entanto, a universidade brasileira é composta de gerações e gerações de debates e ideias que não são apagadas ao sabor de canetadas e cortes ministeriais.
Enquanto houver um jovem com livros de Spinoza, Rousseau, Hegel, Adorno, Nietzsche, Deleuze, Lucrécio, Platão (se quiserem saber de onde veio o comunismo, leiam "A República") esta batalha já está ganha.
Não será a gritaria de um ministro da Educação piromaníaco e irrelevante que fará alguma diferença.

(Vladimir Safatle, professor de filosofia na USP e autor de diversos ensaios)


(Imagem: coruja de Minerva, símbolo da Filosofia) 

Você sabia (meio ambiente)?

sábado, 4 de maio de 2019
"Para aqueles que lutam pelo pão diário, o ócio é um prêmio longamente antecipado - até que eles o conquistam."   -   John Maynard Keynes, citado por Eduardo Gianetti em O Livro das Citações


Solos

Você sabia que um solo propício à agricultura tem uma profundidade média de 30 a 50 centímetros, demorando milhares de anos para ser formado?
Que a erosão, a salinização, a compactação e a contaminação destroem anualmente uma quantidade considerável de solo fértil e que 33% dos solos do mundo estão degradados?
Conservar a vegetação original, agricultura com pouco uso de agrotóxicos, não espalhar lixo e resíduos de construção e indústria, são práticas que mantêm a qualidade dos solos.


Coruja buraqueira

Você sabia que a coruja buraqueira é bastante comum em todo o Brasil, afora a Amazônia? Vive em buracos localizados em campos, pastos, restingas, planícies e praias, inclusive na cidade de Peruíbe.
Que a coruja buraqueira enxerga cem vezes mais que o ser humano e também tem uma audição muito desenvolvida? Sua dieta inclui ratos, insetos e pequenos répteis, contribuindo para o controle de espécies danosas ao homem.
O casal, de pé fora do ninho, se reveza no cuidado dos filhotes. Por isso, é bom evitar chegar muito perto da casa desta simpática ave, para não ser expulso. Ajude a proteger a coruja buraqueira! 


Esgoto

Você sabia que apenas 52% do volume dos esgotos é coletado no Brasil e que somente 45% deste volume é tratado? Isto quer dizer que ainda uma grande parte do esgoto de nossas casas acaba caindo nos rios, lagos e no mar.
O Brasil é um dos países da América latina com os mais baixos índices de tratamento de esgoto. O governo federal, os governos estaduais e municipais são responsáveis pelo tratamento do esgoto.
Esgotos não tratados causam doenças, principalmente em crianças, poluem os cursos de água e o restante do meio ambiente.


(Imagem: vitral medieval)