Leia o relatório sobre o meio ambiente no Brasil "Passando a boiada"

sábado, 30 de janeiro de 2021

Queimadas e desmatamentos aumentaram 34% em 2019 e 9,5% em 2020. Mesmo assim, o governo federal propôs uma grande redução no orçamento do Ministério do Meio Ambiente; a maior em 21 anos.

Veja detalhes da situação do meio ambiente no Brasil no relatório "Passando a boiada", lançado em 22/01/2021 pela ONG Observatório do Clima:



PROTEJA A MATA ATLÂNTICA

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

 


PROTEJA A MATA ATLÂNTICA

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 


Crise, até quando?

sábado, 23 de janeiro de 2021

 "A justiça não existe; a justiça pertence à ordem das coisas que se deve fazer  justamente porque não existem."   -   Émile-Auguste Chartier (Alain)   -   Consideraçõe II


O vírus Covid-19 continua assolando o mundo. O esforço para se chegar a uma vacina foi algo inédito na história da medicina. Milhares de cientistas e pesquisadores trabalhando ininterruptamente, dezenas de grandes laboratórios em todo o planeta utilizando o que de melhor havia em termos de equipamentos e muitos recursos financeiros investidos. Nunca uma iniciativa para combater uma doença envolveu países, empresas e profissionais de tal maneira. Assim, quando as primeiras vacinas foram aprovadas pelos órgãos competentes, foi grande o alívio e a alegria em todo o planeta.

No entanto, quando se pensava que com uma vacina os problemas estariam relativamente encaminhados, surge uma segunda onda mais agressiva do vírus; aparecem três novas importantes mutações (Inglaterra, África do Sul e Amazônia); e o processo de vacinação em todos os países é mais demorado e confuso do que se esperava. Se já havia uma expectativa de uma lenta mas constante normalização das atividades econômicas, da vida social e cultural, esta perspectiva teve que ser mais uma vez postergada – provavelmente para o segundo semestre de 2021.

As consequências econômicas, sociais e políticas do desenvolvimento da sindemia (novo termo utilizado para tratar da pandemia do Covid-19) continuam imprevisíveis. Ao fim de cada fase do processo aparece uma nova surpresa, de modo que poucos arriscam uma opinião sobre quando  literalmente “o mundo voltará ao normal” – ou pelo menos a uma situação em que possa retomar as atividades como antes.

No Brasil a situação ainda é mais preocupante, já que mal iniciamos o processo de vacinação por falta de insumos. O governo, propositalmente deu pouca importância à sindemia desde o início, tentando poupar de eventuais prejuízos os grupos econômicos que contribuíram para sua eleição. Assim, evitou decretar lockdown, minimizou a gravidade da doença e a necessidade das medidas profiláticas, desestimulando o uso da máscara e do isolamento social. Pressionado pelo aumento dos casos de contaminação e de mortes, o presidente foi obrigado a instituir o auxílio emergencial, possibilitando às pessoas sem rendimentos a ficarem em casa. O auxílio foi distribuído pelo governo entre abril e dezembro de 2020, para aproximadamente 65 milhões de pessoas.  Depois, com a sindemia alastrada e dezenas de milhares de vitimados mortos, o governo, influenciado pelas opiniões do presidente americano Trump, admirado pelo presidente Bolsonaro e com o qual mantinha uma relação de subserviência, resolveu propagar o uso de medicamentos sem eficiência cientificamente comprovada. A aprovação de vacinas e o início da vacinação é mais outra história de conflito ideológico entre grupos negacionistas e representantes da ciência por um lado; e, por outro, de batalha política entre o presidente Bolsonaro e seu antigo admirador, o governador de São Paulo, João Dória.

É evidente que toda esta confusão traz consequências para a economia – que já vinha combalida desde o final de 2014 – e para todas as outras atividades comuns a qualquer sociedade. Tudo isto ainda é agravado pela situação histórica de concentração de renda e benefícios na sociedade brasileira. A baixa renda, as péssimas condições de vida e as poucas chances de melhoria econômica e social da maior parte da população, foram escancaradas durante o período da sindemia no Brasil.

Assim, enquanto o processo de vacinação não tiver início efetivo e for mantido até alcançar a maior parte da população, o país continuará nesta pasmaceira, sujeito a avanços e recuos. Os efeitos, podemos ver claramente na atividade econômica travada, na ausência de investimentos, salvando-se apenas o mercado financeiro, que pouco agrega à geração de empregos, consumo das famílias e movimentação da economia real.

Na educação permanece o impasse sobre o início das aulas presenciais, essenciais para a maioria dos estudantes do ensino básico. A possibilidade de que mais um semestre seja praticamente perdido pelos alunos, principalmente por aqueles das camadas sociais mais baixas, representará uma grande lacuna na educação de centenas de milhares de jovens de todo o país. Quanto esta lacuna poderá prejudicar as futuras carreiras profissionais destes jovens?


Neste momento, segundo muitos economistas, é necessário que o Estado efetivamente atue como indutor do processo de retomada da economia, através da destinação de recursos para a área de infraestrutura especialmente, para que a economia volte a girar. Esta iniciativa ajudará a atrair capitais privados que, animados pela intenção do governo, também voltarão a investir. Onde estão os investidores brasileiros e internacionais anunciados tantas vezes pelo ministro da Economia, Paulo Guedes?

O Brasil ainda não tem um setor privado suficientemente robusto para que este possa encabeçar o processo de retomada econômica – aliás, ao que parece, poucos países têm uma iniciativa privada assim. Quando a situação econômica fica difícil, as empresas procuram proteção do Estado. Por outro lado, grande parte da iniciativa privada nacional está mais interessada em aumentar seus lucros no mercado de capitais, do que investindo na economia real. E esta é também a ideologia do atual governo, que sempre se referiu à ideia do “estado mínimo”.

Dado este quadro, bastante resumido, da situação atual do país, fica difícil ser otimista em relação ao futuro próximo. Sem planos ou projetos, cortando investimentos nas áreas da saúde, da educação, da pesquisa, do meio ambiente, da cultura, entre outros, ficará difícil a recuperação do país. Por quanto tempo a sociedade brasileira ainda terá que aguardar por melhores tempos? E o governo o que fará? Deixará como está, pra ver como fica?


(Imagens: gravuras e desenhos de Käthe Kollwitz)

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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

FILÓSOFOS NA PRAIA

Filosofar também é possível à beira mar 

https://filosofosnapraia.blogspot.com/

2020: sem avanços na área ambiental

sábado, 16 de janeiro de 2021

 

"Cada um de nós chama de barbárie aquilo que não faz parte de seus costumes."   -   Michel de Montaigne   -   Os ensaios


Iniciamos este blogue em maio de 2010 e desde então vimos comentando principalmente os temas ligados à área ambiental. Não podemos dizer que durante este período de mais de dez anos foram grandes os avanços do Brasil nesta área, já que – sejamos francos – o meio ambiente nunca foi uma preocupação real dos governos e da maior parte da sociedade brasileira.

Todas as administrações, inclusive o atual, sempre priorizaram fundamentalmente os desafios na área econômica, já que o país poucas vezes teve um período de crescimento constante e harmônico. Sempre vivemos a síndrome do “voo da galinha”, com expansões e retrações da economia; com todas as consequências sociais e políticas deste processo. Nestas condições, é até compreensível que a preocupação com a proteção do meio ambiente não tenha sido um dos temas principais da sociedade e do Estado brasileiro.

No entanto, vivemos inseridos no mundo, na teia de relações econômicas e políticas globais, na qual a questão ambiental, por diversas circunstâncias, é aspecto importante. Mesmo que certos ministros do atual governo do país não tenham esta visão, o Brasil deverá tomar outra postura interna e externa em relação à proteção dos recursos naturais, sob risco de vir a sofrer represálias políticas e comerciais.

Não se trata de politizar o tema, fato que interessaria a grupos de pressão retrógados, que ainda não perceberam – ou querem negar – a relação da economia com a natureza, por esperarem tirar vantagens da exploração incontrolada dos recursos naturais. Vejamos, por exemplo, as condições do avanço do desflorestamento da Amazônia. Entre os anos de 2000 e 2018 a região perdeu 8% de sua cobertura vegetal, cerca de 270 mil km² - uma área maior do que a do território do Reino Unido. De 2014 a 2018 foram desmatados em média, 112,8 mil hectares por ano; média que cresceu para 215,6 mil hectares em 2019 e 226,5 mil hectares em 2020. Cerca de 60% destes 442 mil hectares desmatados em 2019/2020 ocorreram em áreas ilegalmente descritas como propriedade particular no Sistema Nacional de Cadastros Ambientais Rurais (SICAR).

No entanto é falsa a ideia de que estes territórios estão sendo invadidos para a expansão da fronteira agrícola, como se o país já não tivesse área suficiente para ainda ser ocupada pelo agronegócio. Além disso, a produtividade agrícola da Amazônia é, por razões físicas, climáticas e econômicas, cerca de 1/4 ou 1/5 da produtividade agrícola do estado de São Paulo, por exemplo. O objetivo principal da derrubada da floresta é a criação de gado de corte, para abastecimento dos mercados mundiais; sobretudo os países europeus e a China. Outro propósito da eliminação da vegetação e ocupação da área é a regularização de sua posse, visando futura especulação imobiliária, já que o Congresso aprovou recentemente a possibilidade de venda de terras a estrangeiros. Seria uma explicação do aumento de 50% na derrubada das florestas em terras públicas, durante o biênio 2019/2020.

Na área das mudanças climáticas – estas também negadas por ministros do atual governo – também demos alguns passos para trás. Depois de um importante protagonismo internacional durante muitos anos, através de uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério das Relações Exteriores, a atual administração conseguiu a desastrada façanha de ser premiada com o “Fóssil Colossal”. O prêmio, outorgado pela Rede Internacional de Ação Climática (CAN), reunindo 1,3 mil organizações ambientais mundiais, é oferecido aos países que mais obstruem negociações mundiais que possam levar a um avanço no combate às mudanças climáticas. Ainda por este motivo, o Brasil também não foi convidado a participar Cúpula da Ambição Climática, realizada em dezembro de 2020, reunindo líderes mundiais e empresários, com o objetivo de debater medidas de redução dos efeitos da crise climática.

Na área da gestão de resíduos a situação também permaneceu inalterada, ou quase: a destinação incorreta de resíduos sólidos urbanos aumentou 16% na última década no Brasil. Ou seja, em 2010, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 43,2% do volume total de resíduos sólidos eram descartados de forma incorreta. Em 2019 este volume cresceu para 59,9% dos resíduos. Ao mesmo tempo a geração destes resíduos cresceu de 67 milhões de toneladas anuais em 2010, para 79,6 milhões de toneladas em 2019. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010 e já prorrogada por duas vezes, havia sido elaborada para gradualmente encaminhar uma solução para o problema dos imensos volumes de resíduos no Brasil. Falta de planejamento e recursos, no entanto, fizeram com que poucos municípios conseguissem até 2020 implantar a política de gestão.

Assim, apesar deste imenso volume de resíduos dispostos de maneira incorreta em terrenos, lixões irregulares, córregos e até em clareiras de floresta, somos também o quarto maior produtor mundial de resíduos plásticos, gerando 11,3 milhões de toneladas anuais, segundo estudo realizados pela ONG WWF em parceria com o Banco Mundial. O mesmo estudo, todavia, informa que apenas 1,28% deste plástico são reciclados. Reportagem recente da revista Galileu (outubro de 2020) informa que apenas 3% do volume total de resíduos sólidos gerados no pais são reciclados; volume que praticamente não se alterou nos últimos 10 anos.

Em outras áreas, como a do saneamento, a situação também não avançou nos últimos anos. A reportagem publicada pelo jornal Globo em 24/06/2020, resume a situação: 35 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada (cerca de 16% da população) e 47% da população (100 milhões de pessoas) não dispõem de serviços de coleta de esgotos. Do volume total de esgoto coletado, apenas 46% são tratados antes de serem descarregados em córregos, rios ou no oceano. Um Plano Nacional de Saneamento (Plansab) existe desde 2014, mas desde esta data até hoje o saneamento avançou pouco, quase nada. Recentemente o Congresso aprovou uma lei que permite a privatização dos serviços de água e esgoto, que na prática ainda não foi possível ser avaliada. O país ainda aguarda a vinda dos grandes investidores internacionais, largamente anunciados pelo ministro Paulo Guedes desde o início de seu mandato. 

Com este quadro do saneamento, o país está colocado entre os países abaixo da média nesta área no ranking mundial. Apesar de ainda sermos a décima-segunda maior economia do mundo e ainda estarmos entre os 15 países mais industrializados do planeta, temos grande parte da população sem acesso ao saneamento básico; o básico para que um país posso se colocar entre as nações minimamente desenvolvidas. Na área de gestão de resíduos urbanos, como vimos, a situação é parecida. Por outro lado, avançamos fortemente na destruição do ambiente natural; seja na Amazônia, no Cerrado, na Mata Atlântica ou em outros biomas. 

A impressão geral que se tem, é que somos uma sociedade que sobrevive – não vive! – exaurindo e poluindo os recursos naturais; através do desmatamento e da monocultura agrícola, através do lançamento de esgotos nos rios e no mar, através do descarregamento de lixo no solo e na água. Sujamos, emporcalhamos e destruímos o meio ambiente, como insanos. Mas, quem tira proveito disso? Quem é que lucra com isso?


(Imagens: pinturas de Luiz Sacilotto)

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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Antes de Cabral: sambaquis, Peabiru & outras histórias

Temas pré-históricos e históricos brasileiros

Faça download de meu mais recente e-book com textos de 2020

sábado, 9 de janeiro de 2021

 



Leituras diárias

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

 


“A reclamação que a direita faz quanto ao comunismo – de que todos teríamos de comprar nossos produtos de um único fornecedor estatal – foi suplantada pela necessidade de comprar tudo da Amazon.” (Bridle, pág. 131)

 

James Bridle, A nova idade das trevas – A tecnologia e o fim do futuro

Leituras diárias

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

 


“Admitir o indescritível é uma faceta da nova idade das trevas: é aceitar que há limites naquilo que a mente humana pode conceber. Mas nem todos os problemas das ciências são superáveis pela aplicação da computação, por mais simpáticos que sejam. Conforme aplicamos soluções mais complexas a problemas mais complexos, nos arriscamos a desconsiderar problemas sistêmicos maiores. Tal como o processo acelerado da Lei de Moore, que travou a computação em uma rota, que exigiu certa arquitetura e certo hardware, a opção por essas ferramentas também molda de maneira fundamental o modo como podemos tratar e até pensar o próximo grupo de problemas que encaramos.” (Bridle, pág. 118-119)

 

James Bridle, A nova idade das trevas – A tecnologia e o fim do futuro

Leituras diárias

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021



“Bancos de sementes são cruciais para manter um arremedo de biodiversidade genética. São fruto de um movimento que começou nos anos 1970, quando se percebeu que a Revolução Verde na agricultura estava levando fazendeiros a abandonar suas sementes usuais, desenvolvidas há séculos em cada local, para dar lugar a criações nova e híbridas. Acredita-se que há um século a Índia tinha mais de 100 mil variedades de arroz; hoje tem poucos milhares. O número de variações de maçã nas Américas caiu de 5 mil para centenas. No somatório geral, segundo uma estimativa da Organização da Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, perdeu-se 75% da biodiversidade de culturas agrícolas.” (Bridle, pág. 64)

 

James Bridle, A nova idade das trevas – A tecnologia e o fim do futuro

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terça-feira, 5 de janeiro de 2021
CONSIDERAÇÕES OPORTUNAS

Excertos, citações, passagens, fragmentos, aforismos, máximas, ditados, provérbios, opiniões, pensamentos, declarações, frases, comentários, etc, que recuperamos de nossas leituras ao longo dos dias e dos anos. O que consideramos digno de ser citado; interessante, pertinente, significativo, instigante, didático, questionador, provocador e crítico.

https://consideracoes-oportunas1.webnode.com/

E A VACINA?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

 


Ainda não o iluminismo?

sábado, 2 de janeiro de 2021

 

"A necessidade de uma metafísica impõe-se irresistivelmente a todo homem e, nos pontos essenciais, as religiões fazem justamente as vezes de metafísica para a grande massa que é incapaz de pensar."   -   Arthur Schopenhauer   -   O mundo como vontade e representação


Georges Minois, historiador contemporâneo francês, relata em seu História do Ateísmo a surpresa de certas autoridades eclesiásticas medievais, ao constatarem que os camponeses de regiões remotas não estavam totalmente cristianizados; ainda mantinham muitas crenças e práticas religiosas ligadas ao paganismo. Depois de mais de mil anos de hegemonia da igreja católica no continente europeu, o cristianismo ainda não havia conseguido suplantar totalmente concepções religiosas mais antigas. Escreve Minois: “Algumas dezenas de milhares de pessoas que vivem ao longo de anos fora do enquadramento religioso provam que é preciso seriamente rever a imagem de uma Idade Média unanimemente cristã e crente. Jean Delumeau demonstrou já amplamente a parte de lenda que se prende com a expressão ‘Idade Média cristã’: esta religião, cheia de superstições, magia, astrologia, restos de crenças pagãs, que tem realmente a ver com a ‘mensagem evangélica?’”

Não são poucos os autores que colocam em dúvida esta generalização, praticada principalmente pelos potentados religiosos da época medieval – com o provável objetivo de afirmarem a hegemonia da Igreja – e mais tarde tida como fato pelos historiadores a partir do século XVIII; a de que o cristianismo estava firmado como crença religiosa entre o povo medieval. Hoje, estudos mais acurados demonstram que isto efetivamente não foi o caso.

O mesmo ocorre, na interpretação de muitos pensadores, com a ideia do Iluminismo e de todas as ideias e ideais que o envolvem. Surgido e desenvolvido em países como a Inglaterra, Holanda e França entre os séculos XVII e XVIII, para então se difundir pelo restante da Europa e nas Américas – principalmente os Estados Unidos – o Iluminismo representava uma nova maneira de enxergar o mundo. Valorização da liberdade individual (Revolução Francesa e Americana), da ciência (Galileu e Newton), do pensamento racional (Descartes, Spinoza, Kant) e da crítica, principalmente à religião e aos governantes autoritários (os Enciclopedistas, Voltaire, Rousseau, D´Holbach, Hume e muitos outros). No início do século XIX Napoleão, em seu movimento de ocupação de parte da Europa, ajudou a divulgar os ideais do Iluminismo através de reformas na Educação, na organização e administração dos Estados e em várias outras instituições. Para Portugal e, consequentemente, para o Brasil, o marco do iluminismo foi a atuação do diplomata e estadista Marquês de Pombal (1699-1782). Como Secretário de Estado do Reino, Pombal implantou uma série de reformas administrativas, econômicas e sociais e reduziu o poder da Igreja Católica sobre o Estado português.

No decorrer do século XIX, apesar da derrota militar de Napoleão (1815), os paradigmas do Iluminismo foram gradualmente incorporados pelas nações ocidentais – o próprio conceito moderno de Estado é fruto de princípios gestados durante este período. O desenvolvimento do capitalismo mercantil (sécs. XVI – XVIII) e, mais tarde, do capitalismo industrial (séc. XIX) – este último baseado nos fortes avanços da tecnologia no final do século XVIII – ajudaram a difundir ainda mais o espírito iluminista, caracterizado por uma visão de mundo baseada na ciência. A religião perde sua forte influência sobre as massas, sendo suplantada pela atividade política, com o surgimento de partidos, das ideologias políticas e dos nacionalismos.  

Da mesma forma que o cristianismo católico não conseguiu hegemonia na Europa medieval, o iluminismo também não foi capaz de predominar completamente no mundo moderno – nem mesmo nas regiões que mais sofreram a influência da cultura europeia, sejam a própria Europa e as Américas. Apesar de estarem na origem dos avanços da ciência, dos direitos que se tornaram o fundamento da maioria das constituições ocidentais, da educação, da cultura e da prática política, os ideais do iluminismo ainda não impregnaram totalmente as sociedades modernas ocidentais.

Como explicar a predominância de crenças religiosas anacrônicas, preconceitos de todos os tipos, práticas sociais autoritárias e excludentes; tudo isso em sociedades altamente desenvolvidas sob aspecto tecnológico e econômico, contando com boas escolas e intensa atividade cultural? Como explicar as invencionices veiculadas nos grupos das redes sociais sobre todo tipo de assunto, mais recentemente sobre temas políticos, sobre a sindemia da Covid-19, sobre prováveis (ou improváveis) medicamentos e curas?

No Brasil tais reações podem em grande parte ser explicadas pela fraca instrução básica, ausência de cultura científica, falta de raciocínio lógico e senso crítico – itens básicos de uma educação alicerçada nos conceitos do iluminismo. Já é comum que nas redes sociais alguém critique o “exagero das notícias sobre os mortos com a Covid”. Lê-se frases como: “A imprensa só fala nos quase 200 mil mortos, mas nada comenta sobre os mais de 6,8 milhões de doentes recuperados.” Dado o absurdo de tal afirmação, caberia responder no mesmo tom de non sense: “Realmente, também com relação à Segunda Grande Guerra, só falam dos cerca 70 milhões de mortos, sem mencionar que quase 2,3 bilhões de pessoas em todo o mundo sobreviveram ao conflito!”

 

(Imagens: Ilustrações de J. Carlos)

Leituras diárias

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

 


“Durante as últimas décadas, contudo, as ciências biológicas chegaram à conclusão de que a história liberal é pura mitologia. O único e autêntico ‘eu’ é tão real quanto a alma eterna cristã, Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa. Se você olhar profundamente para dentro de si mesmo, a aparente unidade que consideramos óbvia se dissolve numa cacofonia de vozes conflitantes, nenhuma das quais é meu verdadeiro ‘eu’. Humanos não são in-divíduos. Eles são ‘divíduos’” (Harari, pág. 294)

 

Yuval Noah Harari, Homo Deus – Uma breve história do amanhã