Leituras diárias

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

 



“Há outra possibilidade. Talvez Deus seja – como sugere o escritor Gilles Lapouge – o grande oceano do esquecimento, para onde fluem nossas lembranças, nossos sonhos, nossas realizações, as imagens que guardávamos, os odores, os sons, os gostos. Também para lá escorre tudo o que soubemos e perdemos. Os mistérios dos maias, dos teothuacanos, de todos os povos que mergulharam em suas águas turvas, das cidades soterradas, dos centros abandonados, de Sodoma e Gomorra, da Mesopotamia, do Egito dos faraós e da Esfinge; e os nossos princípios morais, a nossa ética, as amizades, os amores, a devoção dos cães, os conhecimentos dos vencidos, os livros queimados, religiões que há muito deixaram de consolar, dúvidas jamais esclarecidas – tudo isso segue nas corredeiras do nosso rio, na direção do desconhecimento que se mistura com a memória, da morte que se confunde com a vida. Deus, afinal, talvez seja mais nossa inexistência e nossa ignorância do que nossos pálidos feitos e nossa enlouquecida aventura.” (Konder)

 

Leandro Konder, O grande esquecimento (artigo no Jornal de Letras, s/d)


Textos de Schopenhauer

sábado, 29 de janeiro de 2022


Baixe textos do filósofo Arthur Schopenhauer (1788-1860) através do link abaixo:


(Wikipedia)

https://onlinecursosgratuitos.com/17-livros-e-textos-de-arthur-schopenhauer-em-pdf-para-baixar/

Beck, Bogert, Appice - Lady

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

 As melhores bandas de rock de todos os tempos


Beck, Bogert, Appice

Album: Beck, Bogert, Appice (1973)

Música: Lady




Beck, Bogert & Appice foi um supergrupo de hard rock e power trio formado pelo guitarrista Jeff Beck, o baixista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice. Os dois últimos pertenciam anteriormente às bandas Vanilla Fudge e Cactus. Jeff Beck era integrante do supergrupo ingles Yardbirds (junto com o guitarrista Eric Clapton).


(Fonte do texto: Wikipedia e autor)

Leituras diárias

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

 



“Como o budismo estava fora do controle do Buda, as ideias de oração e adoração, de uma mente universal, de magia, de deuses e, naturalmente, de carma começaram a se introduzir nas numerosas seitas budistas que foram surgindo ao longo dos séculos. Mas não em todas. Nos seus ensinamentos e em alguns dos grupos de sua vasta comunidade, Sidarta Gautama criou um modo de viver que apontava ativamente para a aparente ruptura entre o mundo humano e o universo não humano, e o fez ao mesmo tempo que duvidava profundamente de Deus ou de deuses, do carma ou de qualquer outra forma de justiça universal.” (Hecht, pág. 130).

 

Jennifer Michael Hecht, Dúvida – Os grandes questionadores e seu legado de Sócrates e Jesus a Nietzsche e Einstein

Eco-92, há 30 anos!

sábado, 22 de janeiro de 2022

 

"A maior corrupção se acha onde a maior pobreza está ao lado da maior riqueza."   -   José Bonifácio de Andrada e Silva   -   Projetos para o Brasil


Faz bastante tempo que o país não passa por um ano tão significativo, com tantas datas históricas a festejar. 2022 será, pelo menos neste aspecto, um ano memorável. Comemoraremos, por exemplo, os 200 anos da independência do Brasil e os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, entre outros. Na área ambiental, o ano também terá um importante marco; tanto para o país quanto para o mundo, já que é nesse ano que se completam 30 anos da realização da Eco-92, que acorreu na cidade do Rio de Janeiro.

A Eco-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também ficou conhecida como a Cúpula da Terra, Cimeira do Verão e Conferência do Rio de Janeiro, reuniu chefes de estado, empresários, ONGs, cientistas, personagens e instituições ligadas às questões do meio ambiente, do clima, da economia e aos temas sociais. O encontro, realizado entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, concentrou discussões sobre diversos assuntos relacionados à questão ambiental, que vinham sendo tratados em diversos fóruns internacionais de forma descentralizada. Foi através desta importante reunião, que temáticas como a biodiversidade, as mudanças climáticas, o desenvolvimento sustentável, a energia renovável, a proteção dos recursos hídricos e da floresta, a desertificação e o ecoturismo, entre os principais, passaram a ser tratados de maneira conjunta e interdisciplinar. A preocupação com a questão das mudanças climáticas, que hoje tem importância primordial nas estratégias de governos e empresas – pelo menos nos países desenvolvidos -, ganhou notoriedade a partir da Eco-92.

Para o Brasil o evento também foi um marco. A Eco-92 contribuiu, efetivamente, para que aumentasse no país o interesse e a mobilização em relação aos temas ambientais, fazendo com que ainda em 1992 o então presidente Collor, criasse o ministério do Meio Ambiente e as estruturas operacionais a ele ligadas. Enquanto transcorria a Conferência no Rio de Janeiro, a cidade de São Paulo realizava uma grande exposição de tecnologias ambientais, chamadas à época de tecnologias de combate à poluição, contribuindo para que se fortalecesse um mercado de serviços e equipamentos ambientais, ainda em fase de desenvolvimento à época.

A partir da Eco-92 a questão ambiental, em seus diversos aspectos, passou a ser tratada com mais importância pelo Estado e pelo setor privado. O aumento da presença de ONGs ambientais, a maior cobertura de temas ecológicos pela mídia, a criação de leis e o gradual desenvolvimento de uma consciência ambiental entre a população e os partidos políticos, contribuíram para o desenvolvimento do setor. Milhares de empresas em diversas áreas de prestação de serviços e fabricação de equipamentos puderam ser criadas no país, enquanto que nas universidades ampliavam-se os departamentos de pesquisa, com atividades científicas voltadas para esta área.

O setor ambiental no Brasil sofreu, no entanto, um forte revés com a crise econômica que teve início em 2016 e se estende até hoje. As empresas, em sua maior parte, reduziram seus investimentos no controle e redução de emissões e resíduos, limitando-se a cumprirem as determinações da lei – quando tanto. O setor público, sem recursos para manter suas ações de comando e controle, viu suas atividades serem reduzidas a ações pontuais, longe de poder manter estratégias ou programas de melhoria das condições dos ambientes em que opera. Além disso, há que assinalar que os últimos dois governos, de Temer e Bolsonaro, tiveram atuações desastrosas em quase tudo que se relaciona com a questão ambiental. De atitudes de descaso até posicionamentos de ataque a políticas de proteção dos recursos naturais. Estes dois fatores – a crise econômica e a resistência à implantação de políticas ambientais – acabou prejudicando o desenvolvimento do mercado interno de tecnologias de meio ambiente e comprometeu a imagem do Brasil como um dos grandes protagonistas nesta área.

Quanto mais tempo passa, tanto maior destruição dos recursos naturais. Que neste ano de 2022, 30 anos depois da Eco-92, os governos em todos os níveis se deem conta de que é preciso avaliar e mudar urgentemente a maneira como nossa sociedade convive com o ambiente.


(Imagens: pinturas de Wilhelm Trübner)

Terra pra quem?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

 


(Fonte: MST Oficial)

Reforma trabalhista (2017)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

 


Supertramp - School

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

 As melhores bandas de rock de todos os tempos 


Supertramp

Álbum: The crime of the century (1974)

Música: School





Supertramp é uma banda de rock britânica formada em 1969 por Rick Davies, que convidou Roger Hodgson e outros elementos que, sob o nome Daddy e posteriormente renomeada no início de 1970. Embora o estilo da banda tenha sido inicialmente classificado como rock progressivo, eles têm incorporado desde então uma combinação de Rock tradicional, pop e art rock em sua música. Hodgson compôs e cantou a maioria dos sucessos, tais como “Give a Little Bit” (a qual alcançou a posição nº.15 na tabela do Billboard Pop Singles e o nº. 29 na tabela dos singles do Reino Unido), “The Logical Song”, “Take the Long Way Home”, “Dreamer”, “Breakfast in America”, e “It’s Rainning Again”; Davies compôs “Bloody Well Right”, “Goodbye Stranger”, “Cannonball” "From Now One", "Crime of the Century," "Rudy". Hodgson toca as canções que escreveu nos concertos ao vivo que apresenta na sua digressão mundial “Breakfast in América”. O trabalho da banda é marcado pela composição individual de Roger Hodgson e Rick Davies, a voz de Hodgson, a voz de Rick Davies, o uso de piano elétrico Wurlitzer e saxofone nas canções.

Apesar do trabalho inicial da banda ser rock progressivo popular, eles desfrutaram de maior sucesso comercial e de crítica quando passaram a incorporar elementos mais convencionais e aceitáveis nas rádios em seu trabalho. Em meados da década de 1970, chegaram a vender mais de 60 milhões de álbuns. Supertramp alcançou o pico de sucesso comercial com a música de 1979, Breakfast in America, que já vendeu mais de 20 milhões de cópias.


(Fonte do texto: Wikipedia)

Privatização, não!

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

 


Leituras diárias

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

 


“Em última análise, é sempre a morte que a propaganda, discurso da irrestrita satisfação objetal capitalista, busca negar. Estudá-la em suas várias representações, em suas manifestações simbólicas é, também, apontar a uma consciência mais honesta do sujeito acerca da própria via. É encontrar na infelicidade comum daqueles que se percebem mortais uma alternativa mais plausível do que a alienação no desejo do Outro capitalista. Relegada a ser tabu, recalcada, a morte torna-se usina de medos, dores e angústias úteis à sociedade de consumo. Proibida, gera paixões contraditórias sobre as quais – como ocorrera com a sexualidade no Ocidente monoteísta – teme-se falar.” (Pereira, pág. 48 e 49).

 

Clóvis Pereira, Thânatos e civilização – A morte entre a psicanálise e a história da cultura


Renda básica universal (II)

domingo, 16 de janeiro de 2022

 


(Renda Universal Básica - "Você não pode pagar as pessoas para não fazerem nada"!)

Filósofo Emil M. Cioran

sábado, 15 de janeiro de 2022

S i l o g i s m o s    d a    a m a r g u r a  


Faça download do livro do filósofo romeno no link abaixo:


https://www.academia.edu/8911665/Silogismos_da_Amargura_Emil_Cioran?auto=download

Renda básica universal

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

 


Porque a renda básica universal poderia nos ajudar a lutar contra a próxima onda de choques econômicos:

Leia no link abaixo de Carta Maior:

TESTES COVID

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

 


Quando o governo começará a fazer testes em massa? Na Europa e nos Estados Unidos os testes são gratuitos e amplamente disponíveis. E aqui? 

Wishbone Ash - The King will come

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

 As melhores bandas de rock de todos os tempos 


Wishbone Ash

Album: Argus (1972)

Música: The King will come 





Wishbone Ash é um banda britânica de rock fundada em outubro de 1969 pelos baixista Martin Turner e pelo baterista Steve Upton, que havia tocado profissionalmente na Alemanha e Inglaterra. Junto com o irmão de Turner, Gleen Turner, a banda inicialmente adotou o nome de Empty Vessels. O nome não durou muito e logo virou Tanglewood. O trio saiu de sua cidade natal, Exetel, e partiu para Londres. Em 1970, iniciou-se a carreira do Wishbone Ash.

O álbum de estréia saiu em 1970, “Wishbone Ash”. Em seguida veio “Pilgrimage”, em 1971, e uma turnê em que eles abriram shows do The Who. A experiência rendeu a música “Time Was”, entre outras, que entrou no disco “Argus”, em 1972. A revista Melody Maker escolheu “Argus” como o melhor álbum inglês em 1972.

Em 1995, com Andy Pyle no baixo, o grupo gravou um disco ao vivo, “Live in Chicago”, pelo selo Griffin. O show gravado incluiu vários sucessos da carreira do grupo, como “The King Will Come” e “Throw Down the Sword”, além de algumas canções nunca lançadas nos Estados Unidos. Naquele mesmo ano, Ted Turner abandonava o grupo novamente e o único membro da formação original era Andy Powell. O guitarrista entrou no Top 20 dos melhores da história no instrumento da revista Rolling Stones.


 (Fonte do texto: Wikipedia) 

Não seja negacionista!

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

 

(Fonte: UFJF)

Leituras diárias

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

 


“Chegamos, pois ao fundo do humano: a sustentação tácita de que somos portadores de uma mente. Dela não temos impressões diretas e muito menos ideia clara e distinta. Resta a ficção a respeito da sua existência. Em outros termos, resta a crença a respeito de sua presença. E como a crença é passagem para a ação, simulamos em nossas ações no mundo os efeitos de nossas mentes. Damos assentimento constante, dessa forma, à ficção que as constituiu. Além desse limite estabelecido pela mais básica das crenças, há o abismo do desfazimento do sujeito, submetido a processos de descrença de si, a mecanismos de deflação epistêmica. Examinemos, a seguir, um experimento dessa natureza – um verdadeiro exemplo de autodestruição de crenças básicas a respeito de si mesmo, a mais pura expressão do anti-Descartes.” (Lessa, pág. 108 e 109)

 

Ricardo Lessa, O cético e o rabino

Lévi-Straus, a etnologia e a ecologia

sábado, 8 de janeiro de 2022

 

"A sociedade do cansaço, enquanto uma sociedade ativa, desdobra-se lentamente numa sociedade do doping. Nesse meio tempo, também a expressão negativa "doping cerebral" é substituída por "neuro-enhancemente" (melhoramento cognitivo)."   -   Byung-Chul Han   -   A sociedade do cansaço  


Claude Lévi-Strauss (1908-2009), foi um antropólogo, etnólogo e filósofo francês (nascido na Bélgica), fundador da disciplina da antropologia estruturalista e um dos maiores intelectuais do século XX. Em 1955 lançou seu livro Tristes Trópicos, talvez a menos acadêmica de suas obras, mas que logo se tornou sucesso mundial. A publicação, entre outras coisas, relata as atividades do cientista e professor na então recém-inaugurada Universidade de São Paulo (1934), onde lecionou de 1935 a 1939, e suas incursões ao interior do país, estudando os costumes de diversas tribos indígenas. É deste livro a frase de Lévi-Strauss que ficou mundialmente famosa e que reflete seu pessimismo em relação ao futuro da humanidade: “O mundo começou sem o homem e se concluirá sem ele.”

Em 1984, durante entrevista a Bernard Pivot, jornalista do ina (institut national de l’audiovisuel), Lévi Strauss recorda as viagens através destas regiões então intocadas do interior do Brasil, e que então, já na época da entrevista, deveriam agora estar “cheias de estradas e veículos”. (https://www.youtube.com/watch?v=s7fANFEdf0Q). Ao longo da longa entrevista, foram abordados vários temas. Desde a sua formação como filósofo e posteriormente como antropólogo e etnólogo, seus alunos e as viagens pelo Brasil, sua veneração pelo escritor francês François-René de Chateaubriand e pelo filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, e seu pessimismo em relação à sociedade industrial do século XX – Leví-Strauss dizia que gostaria de ter nascido no final do século XVIII ou começo do século XIX, o período em que viviam seus “heróis intelectuais”.   

O cientista também falou sobre a relação de sua disciplina, a etnologia, com a ecologia; ciência que à época da entrevista (1984) era estudada somente por especialistas e restrita aos atores especificamente envolvidos com a temática ambiental. A etnologia, dizia Lévi-Strauss, estuda os mitos e a cultura dos povos originários (Lévi-Strauss não os considerava primitivos), como seus costumes, cerimônias e regras sociais. Em pesquisando as culturas destas populações em todo o mundo, a etnologia também tomou conhecimento de diversas narrativas, lendas e mitos, sobre entidades sobrenaturais, que atuam protegendo as florestas, plantas e os animais. Assim, maus-tratos de animais, caça em demasia, derrubada de árvores consideradas sagradas, o uso indevido ou inoportuno de vegetais venerados, podiam ser punidos por estas entidades sobrenaturais, através de doenças, perseguições na mata, morte por animais, inimigos ou doenças.

Segundo a tradição dos indígenas do grupo Tupi-Guarani, a primeira divindade a ser criada pela força cósmica chamada Nhaderu foi Tupã, que povoou a Terra com diversas criaturas semidivinas, entre elas o Curupira, ser mítico que depois foi incorporado ao folclore brasileiro. Guardião da floresta, Curupira pune todos aqueles que entram na mata para caçar animais ou derrubar as árvores. Já o padre Anchieta (1534-1597), que participou da fundação de São Paulo, e que escreveu a Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil, gramática sobre o tupi, faz o mais antigo relato do personagem em carta datada de 30 de maio de 1560:

É coisa sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios e que os brasis chamam Corupira, que acometem os índios muitas vezes no mato, dão-lhe de açoites, machucam-nos e matam-nos (...)” (Câmara Cascudo, pág. 332)

Outra personagem mítica era a Caipora, chamada de caiçara pelos índios e jesuítas, e conhecida como a mãe da mata, protetora da floresta e dos animais. Era vista montada em porcos do mato, e assim como seu assemelhado, o Curupira, costumava atrair as pessoas com gritos que imitavam a voz humana, para agredir aqueles que matavam animais por prazer ou que os caçavam, apesar de terem alimentos em casa.

A relação da etnologia com a ecologia, no entanto, não fica só por ai. Muitas destas lendas, segundo Strauss, remetem a um tempo quando, segundo a tradição destes povos, ainda não havia uma distinção clara entre os humanos e os animais. Em diversas narrativas os animais podiam se transformar em humanos ou humanos poderiam se transformar em animais. Uma das lendas brasileiras mais famosas com estas características é a do Boto; o golfinho vermelho da Amazônia. Segundo Câmara Cascudo,

O boto seduz as moças ribeirinhas aos principais afluentes do rio Amazonas e é pai de todos os filhos de responsabilidade desconhecida. Nas primeiras horas da noite transforma-se num bonito rapaz, alto, branco, forte, grande dançador e bebedor, e aparece nos bailes, namora, conversa, frequenta reuniões e comparece fielmente aos encontros femininos.” (Câmara Cascudo, pág. 181).

A lenda do Boto, já com muitas características do universo cultural português, é baseada no relato indígena do Uauiará, que atuava de maneira semelhante em suas conquistas amorosas entre as mulheres indígenas.

Ainda em sua entrevista, Lévi-Strauss explica que segundo pesquisas realizadas por etnólogos em várias partes do globo, foram identificadas várias lendas relatando sobre o tempo em que os homens podiam entender a língua dos animais e vice-versa, chegando a se casar entre si, segundo crenças da cultura totêmica dos indígenas da região Noroeste dos Estados Unidos. Sobre isso Lévi-Strauss faz referência ao relato de um membro desta tribo:

Sabemos o que fazem os animais, quais as necessidade do castor, do urso, do Salmão e de outras criaturas, porque antigamente, os homens se casavam com eles e adquiriram este saber de suas esposas animais [...]. Os brancos viveram pouco tempo neste planeta e não sabem muita coisa a respeito dos animais; nós estamos aqui há milhares de anos e há muito tempo que os próprios animais nos instruíram. Os brancos anotam tudo num livro, para não esquecer, mas nossos ancestrais casaram com animais, aprenderam todos os seus costumes e fizeram passar estes conhecimentos de geração em geração. (Jennes apud Lévi-Strauss p. 58-59)

Os povos originários, ditos primitivos, através de sua estreita convivência com o mundo natural, criaram relatos, mitos, costumes e regras sociais, através das quais estas culturas se inseriram e sobreviveram no ambiente em que viviam, contribuindo para conservá-lo, na maioria dos casos.  Com a complexificação das relações sociais, da tecnologia e da cultura imaterial, os diversos grupos humanos foram gradativamente abandonando certas crenças e mitos, que passaram a ser substituídos por outros, mais condizentes ao ambiente cultural que aquelas comunidades estavam formando. Certas sabedorias, no entanto, permaneceram e foram transmitidas ao longo das gerações, desde o período Neolítico até a época Moderna, notadamente nas culturas campesinas de várias regiões. Conceitos e práticas centenárias ou milenares do cuidado com a preservação dos solos, das sementes, dos recursos hídricos e da preocupação com os poucos animais selvagens ainda restantes nestes ambientes, foram perpetuados ao longo das eras naquelas sociedades.

Aqui quero prestar uma homenagem póstuma a meu pai, que durante uma parte de sua vida, no final dos anos 1940, viveu na pequena fazenda de seu tio, não muito longe da cidade de Colônia, na Alemanha. Uma das que me ensinou quando era criança, e da qual me lembro muito bem, é que não se deve tirar todos os frutos das árvores; deve-se deixar sempre uma pequena quantidade deles para o alimento das outras criaturas; aves, insetos, pequenos mamíferos. Tínhamos uma casa no litoral de São Paulo, na época uma região relativamente isolada, com grande terreno cheio de ameixeiras, mamoeiros, pitangueiras, goiabeiras e alguns abacateiros. Quando os frutos ficavam maduros, colhíamos a maior parte, mas deixávamos ainda alguns para que pássaros e outros animais pudessem aproveitar as sobras.

Há centenas de gerações nossos antepassados acreditavam em entidades protetoras da fauna, flora e da agricultura. Hoje estas crenças não existem mais, mas, mesmo assim, ainda guardamos certo sentimento de veneração à natureza e ao universo, o que talvez Lévi-Strauss e a etnologia pudessem explicar.

Referências:

1984: Claude Lévi-Strauss invité d’Apostrophes I Archive ina. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s7fANFEdf0Q&t=1791s>. Acesso em 12/12/2021

 Dicionário do folclore brasileiro. Câmara Cascudo. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, s/d. 930 p.

Literatura amazônica: seus mitos e suas lendas. Disponível em <https://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao/literatura-amazonica-seus-mitos-suas-lendas.htm>. Acesso em 13/12/2021

Claude Levi-Strauss (Jenne apud Lévi-Strauss) em Lévi-Strauss e as três lições de uma ciência primeira. Disponível em <https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/view/1782>. Acesso em 12/12/2021


(Imagens: pinturas de Nguyễn Tư Nghiêm)

COVID NÃO ACABOU!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

 


Reforma Trabalhista: e os empregos?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 


West, Bruce & Laing - Why dontcha

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

 As melhores bandas de rock de todos os tempos


West, Bruce & Laing

Album: Why dontcha (1972)

Música: Why dontcha 





O West, Bruce & Laing foi  formado em 1972 na Inglaterra. O projeto surgiu de maneira muito espontânea, pois na época, Jack Bruce estava em carreira solo e depois de lançar “Harmony Row” um ano antes – em 1971 – o baixista estava sem projetos. Além disso, outro fato que colaborou com a formação do grupo foi  que Leslie West (guitarra) e Corky Laing (bateria) estavam de férias da turnê do Mountain depois dos excelentes “Nantucket Sleighride” e “Flowers Of Evil” (também de 71).

Mas na verdade o grande responsável por essa união foi o vício que o trio nutria pela heroína, talvez a maior ruína dos junkies dos anos 60 e 70.

Isso também justifica o caráter fulminante dessa reunião. O grupo ficou ativo entre 72-74 e gravou 2 grandes discos de estúdio: “Why Dontcha” e “Whatever Turns You On“, lançados em 1972 e 1973 respectivamente, além de um álbum ao vivo (Live ‘N’ Kickin’), que no mínimo consegue tangibilizar o caráter auto-destrutivo de um projeto formado por 3 viciados.

 

(Fonte do texto: Oganpazan - https://oganpazan.com.br/west-bruce-laing/)


Leituras diárias

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

 


“Uma de nossas ilusões é o tamanho do livre-arbítrio (ou, escolha nossa livre de condicionamentos culturais ou genéticos). Meus professores jesuítas diziam que Adão exerceu livre-arbítrio ao comer o fruto da árvore do conhecimento e por isso foi expulso do paraíso. ‘Mas, padre, se o Criador lhe deu curiosidade, foi seu modelo ideal, pôs a seu alcance o instrumento de torná-lo semelhante a seu Pai, ainda com o poder de divergir da opinião Dele, o que restava a Adão, senão querer aquele fruto?’ A ilusão do Livre-arbítrio inaugurou-se na mordida da maçã, à força.” (Daudt, pág. 62)

 

Francisco Daudt, A natureza humana existe

O crepúsculo dos ídolos

sábado, 1 de janeiro de 2022

 


Leia e faça download do texto O crepúsculo dos ídolos, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900):


https://www.professorjailton.com.br/novo/biblioteca/o-crepusculo-dos-idolos.pdf