“A propaganda aproveitava a brecha e
atacava, nos jornais. ‘Contra a influenza espanhola o melhor remédio é o
Quinado Constantino’; ‘Mentholatum — poderoso preservativo contra a espanhola’;
‘Comunicam do Rio de Janeiro que muitas pessoas se têm libertado da influenza
graças ao uso do preparado Odorana’; ‘A gripe espanhola já nos visitou e agora
o melhor meio de prevenir-se contra a infecção consiste em higiene rigorosa e
contínuas desinfecções com Creolisol’; ‘Srs. Médicos, na convalescença da gripe,
o melhor tônico é o Vanadiol. Age com rapidez no levantamento de forças’; ‘Influenza
espanhola — este novo flagelo que infelizmente começa a assolar o Brasil só
poderá ser combatido com as eficazes e conhecidas Pílulas Sudoríficas de Luiz
Carlos’. Correu o boato de que cachaça prevenia a doença. Daí que: ‘Todos os
médicos aconselham como o melhor preservativo a caninha do Ó com limão, mais
conhecida com o nome de batida. A melhor e mais pura caninha do Ó é a da marca
Caipira, da qual são únicos depositários Fratelli Guidi, telefone 1837 Central,
a quem devem ser feitos os pedidos imediatamente, a fim de evitar de ser
atacados dessa terrível influenza’. Mais exótica ainda era a ideia de que o
automóvel Torpedo seria capaz de velocidade tão grande que não daria
oportunidade ao vírus de atacar os passageiros. Outro pouso seguro seria ‘Poços
de Caldas — a Suíça brasileira — altitude 1200 metros — A esta estância a gripe
espanhola não atinge’. Se a incidência da doença era alta, a letalidade, até o
fim de outubro, era baixa. O Serviço Sanitário insistia nesse ponto, para
tranquilizar a população, e os jornais o secundavam. ‘Basta, como resistência à
moléstia, tomar, com rigor, as poucas e fáceis precauções aconselhadas pelos
médicos da cidade’, advertiu O Estado de S . Paulo.”
Roberto Pompeu de Toledo (1944-) jornalista e escritor brasileiro em Dias de medo e morte: a Gripe Espanhola em São Paulo
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