O ensinamento de mestre Chen
Mestre
Lei Chen estava reunido com alguns de seus discípulos debaixo de um grande
pinheiro, em frente ao palácio do governo. Entre os novatos circulava a notícia
de que os guardas do governador, o conde Zhao, haviam capturado um bandido, que há
anos assaltava viajantes nas estradas da região, nos arredores da aldeia de Tien.
-
Mestre, pergunta um jovem aluno, o roubo é algo tão ruim assim?
-
Sim e não, disse mestre Chen. Os camponeses pobres colhem clandestinamente frutas
nas terras dos nobres, porque quase nada têm para comer. Vocês acham isso um
mal tão grande assim? O que lhes parece pior, o camponês que foge com um cesto
de pêssegos ou o nobre que confisca grande parte do arroz colhido no outono, pelos
aldeões da aldeia de Tien? Quem está tirando mais do outro?
-
Mas como saber onde está o limite entre o pequeno e o grande furto? - pergunta
outro discípulo mais velho.
-
Estes são tempos estranhos, meu caro Gang Li, diz o mestre. Kung Fu Tsu (Confúcio),
nosso grande professor, também viveu em época conturbada como a nossa. Hoje,
como naquela época, os poderosos tiram do pobre, espoliam o Estado e poucas
vezes são punidos - quando o são. O castigo, se acontece, é brando, porque quase
todos os nobres e senhores de terras agem da mesma maneira, praticando os
mesmos atos vis. Nenhum deles ousa acusar o outro. ‘Comeram todos da mesma
panela’, como diz o ditado do povo da região de Guangxi.
- E
o salteador das estradas de Tien, o que acontecerá com ele mestre? – pergunta
outro ouvinte.
- Como
eu disse, prezado Yong Wu, vivemos tempos inquietos. A justiça não impera mais,
como ocorria nos antigos Tempos de Ouro, antes de mestre Kung. Os poderosos não
são punidos e o povo é penalizado com o máximo rigor. O bandido capturado, mesmo sendo
um ladrãozinho de estradas, sem ter praticado crimes graves, certamente será
torturado pelos guardas e depois decapitado nos fundos do palácio do conde Zhao.
-
Será sempre assim mestre, isso nunca mudará?
-
Talvez sim, quando um dia o povo reunido em multidões, descobrir que tem muito
mais força do que algumas dúzias de nobres opressores que vivem à custa do povo, disse mestre Cheng.
Fim
(Qualquer
semelhança com a atualidade é mera coincidência)
Ricardo E. Rose


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