Mestre Chen

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

(Fonte: AA -American Affairs)
 

O ensinamento de mestre Chen

 

Mestre Lei Chen estava reunido com alguns de seus discípulos debaixo de um grande pinheiro, em frente ao palácio do governo. Entre os novatos circulava a notícia de que os guardas do governador, o conde Zhao, haviam capturado um bandido, que há anos assaltava viajantes nas estradas da região, nos arredores da aldeia de Tien.

- Mestre, pergunta um jovem aluno, o roubo é algo tão ruim assim?

- Sim e não, disse mestre Chen. Os camponeses pobres colhem clandestinamente frutas nas terras dos nobres, porque quase nada têm para comer. Vocês acham isso um mal tão grande assim? O que lhes parece pior, o camponês que foge com um cesto de pêssegos ou o nobre que confisca grande parte do arroz colhido no outono, pelos aldeões da aldeia de Tien? Quem está tirando mais do outro?

- Mas como saber onde está o limite entre o pequeno e o grande furto? - pergunta outro discípulo mais velho.

- Estes são tempos estranhos, meu caro Gang Li, diz o mestre. Kung Fu Tsu (Confúcio), nosso grande professor, também viveu em época conturbada como a nossa. Hoje, como naquela época, os poderosos tiram do pobre, espoliam o Estado e poucas vezes são punidos - quando o são. O castigo, se acontece, é brando, porque quase todos os nobres e senhores de terras agem da mesma maneira, praticando os mesmos atos vis. Nenhum deles ousa acusar o outro. ‘Comeram todos da mesma panela’, como diz o ditado do povo da região de Guangxi.

- E o salteador das estradas de Tien, o que acontecerá com ele mestre? – pergunta outro ouvinte.

- Como eu disse, prezado Yong Wu, vivemos tempos inquietos. A justiça não impera mais, como ocorria nos antigos Tempos de Ouro, antes de mestre Kung. Os poderosos não são punidos e o povo é penalizado com o máximo rigor. O bandido capturado, mesmo sendo um ladrãozinho de estradas, sem ter praticado crimes graves, certamente será torturado pelos guardas e depois decapitado nos fundos do palácio do conde Zhao.

- Será sempre assim mestre, isso nunca mudará?

- Talvez sim, quando um dia o povo reunido em multidões, descobrir que tem muito mais força do que algumas dúzias de nobres opressores que vivem à custa do povo, disse mestre Cheng.

 

Fim

 

(Qualquer semelhança com a atualidade é mera coincidência)

 

Ricardo E. Rose

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