Na
ditadura militar, a anistia de 1979 serviu acima de tudo para blindar os
militares contra julgamentos futuros que poderiam vir a ser promovidos por
civis no regime democrático que já se avizinhava. Teve um único propósito:
garantir, a título de ‘pacificação’, impunidade.
Hoje,
a retórica da pacificação mobilizada pela coalização facho reacionária,
identificada com a minoria bolsonarista em torno de uma ‘anistia ampla, geral e
irrestrita’ (sempre a reversão das expressões democráticas para destruí-la!),
retorna com o mesmo vício de origem que macula a história brasileira.”
(...)
“Nessas condições, a anistia não pacifica: mina as defesas da democracia e
transforma o atentado contra a ordem em atalho político. Mais: num contexto
como este, não devemos esquecer nada, nem dispensar a lei. É tempo, ao
contrario, de lembrar continuamente, de aplicar a lei em todo o seu rigor. Só
assim os guardiões da cidadela democrática podem honrar suas togas e seus
mandatos.
É
preciso ser claro: para a extrema direita, ‘pacificação’ só existe quando
consegue instaurar a ditadura. A paz que reivindica é a do silencio imposto, da
unanimidade forçada, da política reduzida ao medo. É a paz que se ergue sobre
críticos calados, adversários perseguidos, inimigos eliminados.
É,
sim, uma paz. Todavia, e a paz dos cemitérios.”
Trecho do artigo “A paz dos cemitérios” de Christian Lynch, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, publicado no jornal Folha de São Paulo em 14/09/2025


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