Anistia interessa aos golpistas

terça-feira, 16 de setembro de 2025

(Fonte: Site Ensinar História)

(...) “Recentemente, o jornalista Pedro Dória fez um vídeo que viralizou, a partir de um artigo seu publicado no Globo, revelando que todos os golpistas perdoados ou ignorados ao longo da República participaram depois de novas tentativas de golpe, desta vez bem sucedidas.

Na ditadura militar, a anistia de 1979 serviu acima de tudo para blindar os militares contra julgamentos futuros que poderiam vir a ser promovidos por civis no regime democrático que já se avizinhava. Teve um único propósito: garantir, a título de ‘pacificação’, impunidade.

Hoje, a retórica da pacificação mobilizada pela coalização facho reacionária, identificada com a minoria bolsonarista em torno de uma ‘anistia ampla, geral e irrestrita’ (sempre a reversão das expressões democráticas para destruí-la!), retorna com o mesmo vício de origem que macula a história brasileira.”

(...) “Nessas condições, a anistia não pacifica: mina as defesas da democracia e transforma o atentado contra a ordem em atalho político. Mais: num contexto como este, não devemos esquecer nada, nem dispensar a lei. É tempo, ao contrario, de lembrar continuamente, de aplicar a lei em todo o seu rigor. Só assim os guardiões da cidadela democrática podem honrar suas togas e seus mandatos.

É preciso ser claro: para a extrema direita, ‘pacificação’ só existe quando consegue instaurar a ditadura. A paz que reivindica é a do silencio imposto, da unanimidade forçada, da política reduzida ao medo. É a paz que se ergue sobre críticos calados, adversários perseguidos, inimigos eliminados.

É, sim, uma paz. Todavia, e a paz dos cemitérios.”

 

Trecho do artigo “A paz dos cemitérios” de Christian Lynch, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, publicado no jornal Folha de São Paulo em 14/09/2025

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