"Os
seis milhões de votos esfriaram Pécuchet a respeito do povo e puseram-se, ele e
Bouvard, a estudar a questão do sufrágio universal. Extensivo a todo mundo, não
podia ser inteligente. Um ambicioso sempre dirigirá, os outros obedecerão como
um rebanho, pois os eleitores não eram sequer obrigados a saber ler, razão por
que, segundo Pécuchet, houvera tantas fraudes na eleição presidencial.
-
Não houve nenhuma – replicou Bouvard –, atribuo o resultado mais à estupidez do
povo. Pensa em todos os que compram a Revalescière, a pomada Dupuytren, a água
das castelãs, etc. Esses idiotas formam a massa eleitoral, e nós estamos
sujeitos à sua vontade. Por que não se pode obter, com a criação de coelhos,
três mil libras de renda? É que uma aglomeração excessiva torna-se causa de
morte. Do mesmo modo, pelo simples fato de existir a multidão, os germes da
estupidez que ela contém se desenvolvem e os seus efeitos são incalculáveis.”
(Flaubert, pág. 148).
Gustave Flaubert (1821-1880) escritor francês em Bouvard e Pécuchet (1872)


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