DIA DO TRABALHO E LUTA

quinta-feira, 1 de maio de 2025

(Fonte: Jorge Zanoni)


 


(Fonte: Brasil de Fato)


Maria Helena Vieira da Silva (1908-1922)

quarta-feira, 30 de abril de 2025


Conheça mais sobre a vida e obra do artista no site do Centro de Arte Moderna Gulbekian abaixo:

https://gulbenkian.pt/cam/artist/maria-helena-vieira-da-silva/

Leituras diárias

terça-feira, 29 de abril de 2025

“Mas Marx explicou que as ideias não caem do céu, mas refletem mais ou menos com precisão, situações objetivas, pressões sociais e contradições além do controle de homens e mulheres. Mas a história não se desenrola como resultado do livre arbítrio ou desejos conscientes do ‘grande homem’, reis, políticos ou filósofos. Pelo contrário, o progresso da sociedade depende do desenvolvimento das forças produtivas, que não é o produto de um planejamento consciente, mas se desenvolve nas costas de homens e mulheres. Pela primeira vez, Marx colocou o socialismo em uma base teórica firme. Uma compreensão científica da história não pode ser baseada nas imagens distorcidas da realidade flutuando como fantasmas pálidos e fantásticos nas mentes de homens e mulheres, mas em relações sociais reais. Isso significa começar com um esclarecimento da relação entre formas sociais e políticas e o modo de produção em um determinado estágio da história. Isso é precisamente o que é chamado de método de análise materialista histórico.

Algumas pessoas se sentirão irritadas com essa teoria que parece privar a humanidade do papel de protagonistas no processo histórico. Da mesma forma, a Igreja e seus apologistas filosóficos ficaram profundamente ofendidos pelas alegações de Galileu de que o Sol, não a Terra, estava no centro do Universo. Mais tarde, as mesmas pessoas atacaram Darwin por sugerir que os humanos não eram a criação especial de Deus, mas o produto da seleção natural. Na verdade, o marxismo não nega de forma alguma a importância do fator subjetivo na história, o papel consciente da humanidade no desenvolvimento da sociedade. Homens e mulheres fazem história, mas não o fazem inteiramente de acordo com seu livre arbítrio e intenções conscientes. Nas palavras de Marx: ‘A história não faz nada’, ela ‘não possui riqueza imensa’, ela ‘não trava batalhas’. É o homem, o homem real e vivo que faz tudo isso, que possui e luta; a ‘história’ não é, por assim dizer, uma pessoa à parte, usando o homem como um meio para atingir seus próprios objetivos; a história nada mais é do que a atividade do homem perseguindo seus objetivos.’ (Marx e Engels, A Sagrada Família, Capítulo VI).

Tudo o que o marxismo faz é explicar o papel do indivíduo como parte de uma dada sociedade, sujeito a certas leis objetivas e, em última análise, como representante dos interesses de uma classe específica. As ideias não têm existência independente, nem desenvolvimento histórico próprio. ‘A vida não é determinada pela consciência’, escreve Marx em A Ideologia Alemã, ‘mas a consciência pela vida’. As ideias e ações das pessoas são condicionadas por relações sociais, cujo desenvolvimento não depende da vontade subjetiva de homens e mulheres mas ocorre de acordo com leis definidas que, em última análise, refletem as necessidades do desenvolvimento das forças produtivas. As inter-relações entre esses fatores constituem uma teia complexa que muitas vezes é difícil de ver. O estudo dessas relações é a base da teoria marxista da história.” (Woods & Sewell, pág. 28 e 29).

 

Alan Woods, Rob Sewell, What is marxismo? (O que é marxismo?)

Outras leituras

segunda-feira, 28 de abril de 2025


 

“Obediência e docilidade são induzidas hoje através dos hábitos cotidianos de consumo e comunicação. O sujeito contemporâneo é um sujeito constantemente distraído. Muito foi escrito sobre os efeitos chocantes e desorientadores das informações e imagens supérfluas com as quais somos sobrecarregados hoje, e a dissonância cognitiva e infelicidade subjetiva produzida por nossa total imersão nos circuitos do capitalismo comunicativo. Sofremos de um tipo de transtorno de déficit de atenção tecnologicamente induzido. Não apenas somos sobreestimulados pela constante ativação semiótica, através de tecnologias comunicativas invasivas e onipresentes – além dos limites do que nosso organismo pode suportar (Berardi, 2009) – mas também, somos atraídos, por meio da participação em mídias sociais e blogs, para circuitos de gozo capitalístico acompanhado por redes de vigilância.” (Newman, pág. 46). 

“O que também podemos tirar disso é o poder potencial que reside em uma atitude ascética em relação à vida. Embora essa possa ser uma atitude imposta a muitos de nós pela necessidade econômica, pode, no entanto, formar a base de uma nova sensibilidade e ethos. Um novo modo de subjetividade, para o qual se torna central a recusa de consumo desnecessário e o desejo por um modo de vida mais simples. A única maneira que podemos nos libertar, em última instância, do sistema econômico que nos escraviza – através da dívida e do trabalho sem fim e sem sentido – é deixando de desejá-lo, recusando o fetichismo da mercadoria e desinvestindo nossos desejos no modo de vida capitalista e na economia psíquica de culpa que surge com o constante endividamento. Parte disso seria repensar toda a ideologia do crescimento econômico e afirmar as prioridades da sustentabilidade humana e ecológica, até mesmo abraçando a ideia de decrescimento (décroissance). Franco Berardi fala sobre a importância da ‘lentidão’ como uma resposta ao constante imperativo capitalista de crescimento e aceleração, particularmente no contexto europeu: ‘a vindoura insurreição europeia não será uma insurreição de energia, mas uma insurreição de lentidão, afastamento e exaustão. Será a autonomização do corpo e alma coletivos com relação à exploração da velocidade e da competição.” (Newman, pág. 77). 

 

Saul Newman (1972-) professor de teoria política na Universidade de Londres, escreve sobre o pós-anarquismo. O trecho acima faz parte do livro Do anarquismo ao pós-anarquismo.

A frase do dia

domingo, 27 de abril de 2025

“Se não há justiça para o povo, que não haja paz para o governo.”

 

Emiliano Zapata (1879-1919), herói nacional mexicano, líder da Revolução Mexicana de 1910.

Metendo a mão nas aposentadorias (que já são uma merreca!)

sábado, 26 de abril de 2025

 ASSIM É O BRASIL!

(Fonte: Thyagão no Diário do Nordeste)

Vila Mariana (De Tarde) - Azymuth

 Música brasileira


Azymuth

Música: Vila Mariana (De Tarde) (2016)

Álbum: Fênix




https://www.youtube.com/watch?v=pr2lHWaimuo


Azymuth é uma banda brasileira de diversas influências, formada em 1973 na cidade do Rio de Janeiro por três conhecidos músicos de estúdio que acompanharam diversos artistas de sucesso da música popular brasileira na década de 1970José Roberto Bertrami, Alex Malheiros e Ivan Conti

Obtiveram moderado sucesso com sua carreira no Brasil até se mudarem para os Estados Unidos e iniciar uma carreira internacional longa, eclética e de sucesso durante os anos 1980. Após problemas no início da década seguinte, voltaram à boa forma a partir da segunda metade da década, impulsionados pelo estouro do acid jazz e um renovado interesse pelo seu trabalho, assinando com a gravadora inglesa Far Out Recordings.


(Fonte do texto: Wikipedia)

No meu tempo...

sexta-feira, 25 de abril de 2025


 (Fonte: Alan Sieber/Revista Piauí)

Luis Fernando Veríssimo (1936-)

quinta-feira, 24 de abril de 2025


Veja entrevista com o escritor e jornalista Luis Fernando Veríssimo para o site Super Libris. Famoso por seus textos humorísticos, Veríssimo é um dos mais populares autores nacionais. 

https://www.youtube.com/watch?v=LHy12KNUOIw

Dia Mundial do Livro

quarta-feira, 23 de abril de 2025


“Tantos livros, tão pouco tempo.” 

Frank Zappa (1940-1993), músico, compositor, multi-instrumentista do rock e jazz estadunidense, citado por Goodreads

Leituras diárias


 

“Canguilhem conclui sua demonstração com uma declaração bastante profética, mesmo porque, na época em que a enunciou, o laboratório ainda não dominava o saber clínico. Ele assinala que nunca experiência alguma de laboratório (nenhuma fisiologia) possuirá valor diagnóstico se tiver como objetivo suplantar a observação clínica. Como deveríamos, hoje, nos lembrar dessa declaração magistral! Pois apenas a revalorização da arte da clínica, fundada na escuta e observação do doente, é capaz de assegurar um verdadeiro status ao profissional da medicina moderna, evitando que ele se torne lacaio do laboratório e da farmacologia. Sabemos, com efeito, que é da arte do diagnóstico que dependem tanto a leitura verdadeira do exame laboratorial quanto a capacidade de prescrever uma terapêutica correta – e portanto eficaz.” (Roudinesco, pág. 29). 

Espectros de Marx é provavelmente um dos mais belos livros de Derrida, e são compreensíveis as razões de seu sucesso mundial. Em vez de se voltar para o passado ou evocar com nostalgia uma época morta, ele convoca uma nova luta contra as potências triunfantes das tecnociências, que pretendem se apoiar no ato de morte do período marxista para impor uma ordem globalizada em que o homem não passaria de uma mercadoria fadada a uma servidão mais viva porque dissimulada sob os traços do ideal democrático: pois é preciso gritar, no momento em que alguns ousam neo-evangelizar em nome de uma democracia liberal enfim reatada consigo mesma como ideal da história humana: em vez de cantar o advento do ideal da democracia liberal e do mercado capitalista na euforia do fim da história, em vez de celebrar ‘o  fim das ideologias’ e o fim dos grandes discursos emancipatórios, nunca desprezemos essa evidência macroscópica, feita de incontáveis sofrimentos singulares: nenhum progresso permite ignorar que, em números absolutos, nunca tantos homens, mulheres e crianças foram escravizados, condenados à fome ou exterminados sobre a Terra.” (Roudinesco, pág. 166).

 

Elisabeth Roudinesco (1944-), historiadora e psicanalista francesa em Filósofos na tormenta: Canguilhem, Sartre, Foucault, Althusser, Deleuze, Derrida

Dia Mundial da Terra

terça-feira, 22 de abril de 2025



Terra, que Terra?


(Fonte: Brasil de Fato e IA)

Outras leituras

 

“Sobre este corpo anêmico, atrofiado, balofo, tripudiam os políticos. É a única questão vital para o país — a questão política. Feliz ou infelizmente, não há outro problema premente a resolver: nem social, nem religioso, nem internacional, nem de raças, nem graves casos económicos e financeiros. Somente a questão política, que é a questão dos homens públicos. Há-os de todo o género: os inteligentes, os sagazes, os estúpidos, os bem-intencionados (dantesca multidão), os que a sorte protege como nas loterias, os efémeros, os eternos. É o grande rebanho que passa, pastando, de que falava Nietzsche. De vez em quando surge uma individualidade, ou nascente ou já sacrificada pela incomensurável maioria: os nomes dessas exceções, de raros, acodem logo ao bico da pena, mas de fato e desde muito, estão desaparecendo rapidamente os que possuíam, na expressão dos historiadores românticos, ‘o magnetismo da personalidade’.” (Prado, pág. 98) 

“Em meio desse cataclismo em preparo, que papel caberá ao Brasil? O da mais completa ignorância do que se passa pelo mundo afora. Dorme o seu sono colonial. Ainda acredita no embalo dos discursadores, nas teorias dos doutrinários e na enganadora segurança dos que monopolizaram, pela fraqueza dos indecisos, as posições de domínio e proveitos. Não vê o desastre que se aproxima; não vê o perigo de estarmos à margem dos grandes caminhos mundiais da navegação e da aviação; não vê que a terra se tornou pequena demais para os imperialismos, pacíficos ou guerreiros, e que é um paradoxo a laranjeira à beira da estrada, carregada de laranjas doces...  Apesar da aparência de civilização, vivemos assim isolados, cegos e imóveis, dentro da própria mediocridade em que se comprazem governantes e governados. Neste marasmo podre será necessário fazer tábua rasa para depois cuidar de renovação total.” (Prado, págs. 101 e 102) 

 

Paulo Prado (1869-1943), escritor, poeta, mecenas incentivador da Semana de Arte Moderna de 1922 e empresário brasileiro em Retrato do Brasil: Ensaio sobre a tristeza brasileira

Trump e China

segunda-feira, 21 de abril de 2025

 (Fonte: Kamensky no "X")

Essa não poderia faltar


 

Robin Trower

I want to take you with me (2003)


https://www.youtube.com/watch?v=pqVKhj3M90M


Leituras diárias

domingo, 20 de abril de 2025


 

“O Bacharel Cosme Fernandes, considerado o fundador de Iguape, viveu muitos anos no Bairro de Icapara. Diz a tradição que, já nos seus anos derradeiros, teria passado o tempo guardando ouro em pó. Após a sua morte, cumprindo-se a vontade do Bacharel, seu corpo foi enterrado numa grande cova aberta na rocha viva, no Morro do Icapara (ou Outeiro do Bacharel), sendo recoberto pelo ouro em pó acumulado e muitas jóias. A cova, depois, foi tampada com uma grande pedra.”

 

Roberto Fortes em Lendas Iguapenses, publicado em Enciclopédia Caiçara Volume V, organizado por Antonio Carlos Diegues

Eduardo Giannetti (1957-)

sábado, 19 de abril de 2025


Assista à entrevista com o economista, filósofo, professor e escritor Eduardo Giannetti dada para o Canal Um Brasil em 2024. Giannetti doutorou-se na Inglaterra, foi assessor econômico do partido político Rede Sustentabilidade e é membro da Academia Brasileira de Letras. Veja no link abaixo: 

https://www.youtube.com/watch?v=2CxwB4ZsrwU

Ler

sexta-feira, 18 de abril de 2025


 Não perca tempo na vida! Leia!

Nicolas Vlavianos (1929-2022)

Conheça mais sobre a vida e obra do artista no site Wikipedia e Escritório da Arte baixo:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolas_Vlavianos

e

https://www.escritoriodearte.com/artista/nicolas-vlavianos

Outras leituras

quinta-feira, 17 de abril de 2025

“A começar pelo método Paulo Freire, de alfabetização de adultos, que foi desenvolvido nesta oportunidade. Este método, muito bem-sucedido na prática, não concebe a leitura como uma técnica indiferente, mas como força no jogo da dominação social. Em consequência, procura acoplar o acesso do camponês à palavra escrita com a consciência de sua situação política. Os professores, que eram estudantes, iam às comunidades rurais, e a partir da experiência viva dos moradores alinhavam assuntos e palavras-chave — ‘palavras geradoras’, na terminologia de Paulo Freire — que serviriam simultaneamente para discussão e alfabetização. Em lugar de aprender humilhado, aos trinta anos de idade, que o vovô vê a uva, o trabalhador rural entrava, de um mesmo passo, no mundo das letras e no dos sindicatos, da constituição, da reforma agrária, em suma, dos seus interesses históricos. Nem o professor, nesta situação, é um profissional burguês que ensina simplesmente o que aprendeu, nem a leitura é um procedimento que qualifique simplesmente para uma nova profissão, nem as palavras e muito menos os alunos são simplesmente o que são. Cada um destes elementos é transformado no interior do método, em que de fato pulsa um momento da revolução contemporânea: a noção de que a miséria e seu cimento, o analfabetismo, não são acidentes ou resíduo, mas parte integrada no movimento rotineiro da dominação do capital.”

 

Roberto Schwarz (1938-) crítico literário austríaco e professor de Teoria Literária Brasileira  em As ideias fora do lugar: Ensaios selecionados

Não é a corrupção

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Publicamos este artigo em 24/09/2022. Foi escrito durante o governo Bolsonaro, mas analisa problemas que ainda enfrentamos.


 


"Não é a consciência dos homens que determina sua existência, é, ao contrário, sua existência social que determina sua consciência."   -   Karl Marx   -   Obras econômicas      



Os homens, na sua imensa maioria, somente possuem opiniões coletivas. Os mais independentes professam, em geral, as opiniões dos grupos sociais a que pertencem.” (Le Bon, pág. 195)

O meio social exerce nas nossas opiniões e na nossa maneira de proceder uma ação intensa. A despeito de nossa vontade, ele determina inferências inconscientes, que sempre nos dominam. Os livros, os jornais, as discussões, os acontecimentos de uma época criam um ambiente que, embora invisível, nos orienta.” (Le Bon, pág. 198)

 

 

Uma das narrativas mais comuns sobre a política no Brasil, profundamente entranhada na mentalidade popular, é a de que a corrupção, praticada por políticos desonestos, é a origem de grande parte das dificuldades dos país. Corolário desta premissa é de que o povo não sabe votar, já que escolhe os candidatos errados para ocuparem os cargos públicos. Esta é a razão, segundo senso comum amplamente difundido entre a população, pela qual o país parece não se desenvolver, apesar de seu enorme potencial. A premissa é afirmada e repetida por gente do povo comum, por empresários, analistas de todos os tipos, pela mídia em geral e, principalmente, pela classe média. Escreve o sociólogo e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jessé Souza em seu livro A classe média no espelho:

Para a classe média, o tema da moralidade, que lhe permite se ver como mais virtuosa do que a elite e o povo, torna-se mais evidente em função da maior ou menor sensibilidade à questão da corrupção restrita ao Estado. Agora, há boas razões para se odiar e desprezar o povo: afinal, é graças à suposta conivência deste que existem líderes populistas corruptos e inescrupulosos. A preservação do abismo social da desigualdade mais injusta pode ser agora moralizada e justificada.” (Souza, págs. 121-122)

Mas será que a história é tão simples assim? Bastaria acabar com a corrupção, o suborno, a extorsão, o fisiologismo, o clientelismo, o nepotismo, o peculato e o tráfico de influência, entre outros, para que o país se desenvolvesse, proporcionando uma vida digna a todos os seus cidadãos? Será que os países mais desenvolvidos conseguiram, ao longo de suas histórias, eliminar quase completamente a fraude e a desonestidade na administração pública, sendo esta a causa de seu sucesso econômico e social?

Neste artigo tentaremos mostrar que a assim chamada corrupção, a rapina, o saque dos recursos públicos, acontece de uma maneira muito mais ampla do que usualmente se propagandeia, envolvendo valores mais vultuosos, sendo praticada por métodos quase sempre legais ou legalizados, mas não necessariamente éticos. Aqueles que se beneficiam desta apropriação legalizada dos recursos do país, evidentemente têm o maior interesse em que a narrativa simplória sobre corrupção no Brasil permaneça, e para isso contam com a colaboração inocente ou não de diversos segmentos da sociedade.

Neste ponto do texto convêm esclarecer a maneira como pretendo tratar a expressão “corrupção”. Qualquer governo, seja em que período histórico for, atua com base em recursos obtidos da sociedade que administra. Estes fundos são os impostos pagos em dinheiro ou em produtos (alimentos, madeira, metais, etc., nas sociedades pré-industriais) pelo cidadão ao Estado. Simplificando, é através da arrecadação destes tributos que o administrador – seja ele um rei, ministro, presidente ou uma junta governamental – realiza as obras públicas necessárias no país, paga os salários dos funcionários públicos de todo tipo e, eventualmente, propicia outros benefícios ao povo. Os impostos pagos ao governo são fixados com antecedência e resultam de negociações entre os grupos sociais que detêm o poder: o rei e sua família; o rei e outros nobres; um governante e grupos econômicos que o apoiam; um governante e um parlamento eleito pelo povo; etc. As soluções encontradas ao longo da história foram as mais diversas, dependendo do regime político. Mas o objetivo é sempre o de arrecadar fundos para que o governo possa atuar.

Como exemplo disso, pode-se tomar a ascensão da burguesia comercial e industrial na civilização ocidental. Os primórdios deste processo situam-se no século XVII, com a Revolução Gloriosa (1688), na Inglaterra, e no século XVIII com a Revolução Francesa (1689), quando a classe burguesa começa a participar dos governos, competindo com a nobreza. A burguesia ascende economicamente e socialmente e passa a dominar a política de países europeus – movimento que durante o século XIX se estenderia à maior parte das nações ocidentais. Com isso, os parlamentos destes países, compostos por representantes oriundos da burguesia ou alinhados aos seus interesses, votam leis que atendam aos interesses econômicos desta classe, em suas diversas áreas de atuação econômica. No Brasil, desde a Independência, o processo foi semelhante. No período imperial e na república, a política foi o domínio dos grupos economicamente hegemônicos; primeiro a elite cafeeira (século XIX até 1930), posteriormente a industrial (1930-1980) e atualmente a financeira. As leis aprovadas pelos diversos parlamentos ao longo dos últimos 200 anos da história brasileira, atendem primordialmente os interesses dos grupos econômicos dominantes, os quais também dominam a máquina do Estado. Sobre isso escreve o jurista, sociólogo e historiador Raymundo Faoro em sua obra Os donos do poder:

A comunidade política conduz, comanda, supervisiona os negócios, como negócios privados seus, na origem, como negócios públicos depois, em linhas gerais que se demarcam gradualmente. O súdito, a sociedade, se compreendem no âmbito de um aparelhamento a explorar, a manipular, a tosquiar nos casos extremos. Dessa realidade se projeta, em florescimento natural, a forma de poder, institucionalizada num tipo de domínio: o patrimonialismo, cuja legitimidade assenta no tradicionalismo – assim é, porque sempre foi.” (Faoro pág. 363)

Historicamente sempre foram poucos os parlamentares alinhados com os interesses das camadas pobres da população. Por diversas razões, era difícil que tais pessoas tivessem recursos suficientes para se elegerem em grande número, de modo a fazerem diferença no Legislativo. Já parlamentares prontos a defenderem os interesses das categorias econômicas mais poderosas, como por exemplo o setor agropecuário, bancário, industrial, religioso, etc., obtêm apoio financeiro e estratégico em suas campanhas políticas. Entende-se, assim, por que os temas de interesse da maior parte da população, os pobres, remediados e as baixas classes médias, são menos discutidos e aprovados no Parlamento, enquanto as pautas de interesse do poder econômico são apresentadas como as únicas verdadeiramente importantes para o país. Esta prática faz com que os recursos arrecadados pelo Estado, sejam prioritariamente alocadas nas “pautas de interesse nacional”; leia-se aquelas de interesse dos grupos economicamente dominantes. Foram poucas as vezes na história brasileira em que se formaram Congressos com participação significativa de políticos empenhados na defesa das causas populares. Dada esta situação, cabe perguntar se o domínio classista na política, a apropriação dos recursos de toda a sociedade por uma parte dela, não pode também ser chamado de corrupção. Desenvolveremos este ponto de vista com mais detalhes adiante no texto.

Voltaremos ao tema da corrupção como ela é usualmente apresentada. Os meios de comunicação, geralmente, fazem pouca referência à corrupção em outros países. Os livros de história, igualmente, quando tratam do tema, concentram-se nos fatos ocorridos por aqui, ou quando muito em Portugal. A impressão que o leigo muitas vezes tem é que a falcatrua é pouco usual em outras nações, notadamente nas desenvolvidas, sendo mais corriqueira em antigas colônias e nos países pobres. No livro Corruption, a short history (Corrupção, uma curta história), ainda inédito no Brasil, o jornalista, escritor e editor italiano Carlos Alberto Brioschi faz um curto relato da história desta prática, “tão antiga quanto a prostituição”, segundo ele. Iniciando seu relato na Antiguidade, Brioschi percorre várias civilizações, passando pela Idade Média, o Renascimento até chegar aos tempos contemporâneos.

Em suas análises, o livro demonstra que ao longo da história humana a prática ocorre em todas as classes sociais – especialmente entre as mais ricas –, com a colaboração de empresas, bancos, governos, empresários, juízes, religiosos; gente de todo tipo e profissão, e não somente dos políticos. Brioschi explica que os antigos egípcios, para descreverem um fenômeno distinto da corrupção mas com ela relacionado, algo como “oferta”, usavam o termo “feqa”, enquanto que os mesopotâmios falavam em “tatu”. A Bíblia menciona o hebraico “shohadh”, os antigos gregos “doron” e os romanos “múnus”. A palavra corrupção, com o sentido mais aproximado do que lhe damos atualmente, aparece pela primeira vez na antiga Roma, onde “corrumpere” queria dizer em linguagem jurídica da época a liberação de um documento judicial – uma autorização, por exemplo – em troca de uma compensação.

O autor demonstra em sua obra que a prática era geral, em todas as culturas. Era comum na antiga polis grega do século V AEC, conhecida como o berço da democracia. Um ministro do rei Chandragupta Maurya, da Índia do século IV AEC, escreveu em um tratado sobre administração pública que “é impossível a um servidor público não se aproveitar um pouco do governo”. A corte papal no período do Renascimento era dominada por diversos tipos de corrupção, notadamente a simonia, a venda de cargos religiosos, tão criticada pelo reformador Martinho Lutero e um dos principais motivos de sua ruptura com a igreja católica. A administração colonial inglesa também não foi um exemplo de transparência e honestidade. Vários administradores, tanto na Índia quanto na América do Norte, foram removidos do cargo por atos ilícitos. Benjamin Fletcher (1640-1703), administrador colonial da cidade de Nova York entre 1692 e 1697, foi expelido da função por ter dado proteção aos piratas, que do porto da cidade atacavam embarcações em outras regiões da costa americana. Outro caso famoso mencionado por Brioschi é o do engenheiro francês Ferdinand Lesseps, uma das mais importantes figuras do projeto de construção do Canal de Panamá (1880-1914), iniciado pela França e concluído pelos Estados Unidos. Lesseps lançou uma ampla campanha publicitária na França para promover e financiar a construção da obra. O engenheiro distribuiu, segundo a imprensa francesa da época (1889), mais de quatro milhões de francos para comprar a anuência de políticos e funcionários do governo ao projeto. Foi aberta uma comissão para investigar o caso, mas este foi arquivado em 1893. O livro continua os relatos, baseados em diversos documentos oficiais e na literatura, passando pela corrupção em regimes aparentemente incorruptíveis, como a Alemanha nazista e a Itália nos tempos de Mussolini, mostrando que governos autoritários não são livres de falcatruas; no máximo conseguem varrer a sujeira para debaixo do tapete, devido à censura – como fizeram também os militares do Brasil no período da ditadura civil-militar de 1964. O caso Watergate (1972) e as acusações contra os candidatos Hilary Clinton e Donald Trump, durante as eleições de 2016, expõe o fato de que mesmo as nações consideradas como exemplo em muitas áreas, admiradas por parte das elites de países em desenvolvimento, também têm seus casos de corrupção.

A corrupção, é um fenômeno de todos os tempos e sociedades. Faz parte da natureza humana tentar tirar vantagem das situações, por vezes mesmo que à custa da quebra de regras e em detrimento de seu grupo social. Judas Iscariotes traiu a Jesus e ao grupo de seus seguidores em troca de trinta moedas. Marcus Junius Brutus (58 – 42 AEC), filho adotivo e assassino de Júlio César, foi movido por ambição política, assim como o general Augusto Pinochet Ugarte (1915-2006), que traiu seu superior, o então presidente do Chile Salvador Allende, em 1973. Na história brasileira temos os casos de Domingos Fernandes Calabar (1609-1635), que por ambição uniu-se aos invasores holandeses contra os portugueses, tendo sido posteriormente capturado e executado. Joaquim Silvério dos Reis (1756-1819), um dos participantes da Conjuração Mineira, traiu o movimento para se livrar de dívidas que tinha com a coroa portuguesa. Todos, a seu modo, obtiveram vantagens, quase sempre temporárias, em detrimento do grupo social a que pertenciam ou cujas regras deveriam observar.

Em seu artigo Basta de corrupção, publicado na obra História do Brasil para ocupados, organizada pelo historiador Luciano Figueiredo, o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho, analisa diversos aspectos da corrupção no Brasil. Diz Carvalho que “no século XIX os republicanos acusavam o sistema imperial de corrupto e despótico. Em 1930 a Primeira República e seus políticos foram chamados de carcomidos. Getúlio Vargas foi derrubado em 1954 sob a acusação de ter criado um mar de lama no Catete.” O Golpe de 1964, diz o autor, foi organizado para lutar contra a subversão e a desonestidade, mas terminou sob acusações de corrupção e despotismo. O ex-presidente Fernando Collor (1990-1992) foi eleito sob a promessa de “acabar com a corrupção e os marajás”, mas foi expulso do cargo por fazer exatamente o mesmo.

Carvalho considera estes fatos como indício de um “eterno retorno” da ideia da corrupção, sendo que seu sentido vai mudando ao longo dos tempos – dependendo de quem a classifica de corrupção, acrescentaríamos. “Ao falar em corrupção no final do império, nenhum republicano queria dizer que D. Pedro II era corrupto.” (...) “Do mesmo modo em 1930, quando os revoltosos classificaram de carcomidos os políticos da ‘Velha República’, não queriam dizer que eram ladrões. Corruptos eram os sistemas, não as pessoas.” Todavia, por diversas razões, ainda segundo o autor, houve uma mudança no sentido que se dava à corrupção a partir de 1945. Por essa época entrou na cena política brasileira o udenismo, o pensamento do partido da União Democrática Nacional (UDN), que começou a atacar a corrupção individual; a falta de moralidade dos indivíduos. Um de seus mais destacados membros, foi o jornalista e político Carlos Lacerda (1914-1977) importante opositor político do presidente Getúlio Vargas (1882-1954). O que se depreende da análise do historiador é que a partir deste ponto da história recente do país, a pecha de corrupto passou dos sistemas políticos ou períodos de governo para os indivíduos que deles participavam.  

A instituição Transparência Internacional publica um relatório anual intitulado Índice de Percepção de Corrupção (IPC), no qual os países são ordenados de acordo com o nível de corrupção percebido entre os funcionários públicos e políticos. A organização, segundo o Wikipedia, define corrupção como “o abuso do poder confiado para fins privados”. Nesta lista, o Brasil ocupa o 96º lugar no ranking mundial de corrupção em 2021, entre 180 outras nações e territórios, obtendo nota 38 (as notas mais altas são para nações menos corruptas e as mais baixas para as mais corruptas). A média global é de 43 pontos, posição na qual o Brasil se encontrava há dez anos (posição 44). O combate à corrupção em todo o mundo, segundo relatório da instituição, está estagnado há dez anos, devido aos recentes ataques às instituições e direitos humanos. No cômputo geral, o Brasil encontra-se na média mundial; nem muito transparente mas também não por demais corrupto. Não existem dados mais concretos sobre os valores que envolvem a corrupção no país. Números da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2009 estimam que 1% a 4% do PIB são comprometidos por essa prática (que seriam cerca de R$ 87 bilhões a R$ 348 bilhões em 2021). A Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) fez um estudo em 2010, que apontou que a corrupção compromete entre 1,38% a 2,3% do PIB. Em 2013, um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que cada real desviado para a corrupção representa uma perda de três reais.

Como se vê, existem muitas estimativas, algumas delas provavelmente influenciadas por interesses, como comprovam fatos recentemente ocorridos (caso Petrobrás e outros). A excessiva ênfase que se dá ao tema na política brasileira é, como diz o historiador José Murilo de Carvalho, algo “cujo sentido vai mudando ao longo do tempo”.

Voltaremos agora ao tema que, na nossa avaliação, é a maior de todas as corrupções: a da apropriação dos recursos que pertencem à toda a sociedade, por uma parte dela. Como dissemos, grande parte da população brasileira compartilha da ideia de que a corrupção é o maior mal da política. Este pensamento fixo é constantemente repetido pelos principais formadores de opinião do país. No entanto, vimos acima que o fenômeno não é de longe exclusivo da nossa nação, nem de sociedades em comparável nível desenvolvimento social e econômico; ao contrário, aparece em todos os grupos sociais, em todos os tempo. Dados também indicam que o Brasil não se encontra no grupo dos países mais corruptos do planeta, ocupando posição média, condizente com nosso nível de desenvolvimento econômico, político e social. Sobre esta verdadeira doutrinação que se faz na sociedade brasileira em relação à corrupção, escreve o já mencionado sociólogo Jessé Souza em seu livro A classe média no espelho:

A questão aqui não tem a ver, e nunca teve, com a verdade. Como traço cultural brasileiro, a ideia de corrupção não passa de um instrumento para dominar e colonizar as pessoas, garantindo que a inferioridade seja moralizada. Quem é colocado numa posição moralmente inferior não pode se defender de seu algoz. Hoje em dia, por meio da repetição diária na imprensa, venal e vendida desde sempre, nas escolas e nas universidades, esta autoconcepção vira-lata virou uma espécie de segunda pele do brasileiro. Todos se veem deste modo e se compreendem a partir desta perspectiva.

Pior, todos veem a si mesmos através de uma autoimagem degradada que implica perda de autoconfiança e de autoestima. A partir daí, 99,9% dos brasileiros, seja ou não intelectuais, vão identificar o grande problema brasileiro como sendo apenas a corrupção no Estado e na política. Não por acaso, ‘patrimonialismo’ é o termo predileto dos arautos da farsa da Lava Jato em conluio com a Rede Globo na manipulação do público.” (Souza, pág. 120)

A verdadeira corrupção encontra-se na maneira como determinados grupos sociais se apossam das riquezas do país, que deveriam estar acessíveis a toda a sociedade. O economista André Lara Rezende, um dos especialistas que contribuíram para a criação do Plano Real (1994) durante o governo do presidente Itamar Franco (1992-1995) aborda esta situação em seu texto A camisa de força ideológica da macroeconomia:

Assim como a burguesia nascida com a revolução industrial promoveu o avanço da produtividade e das possibilidades materiais, mas também uma enorme concentração de riqueza, o capitalismo financeiro, associado à revolução informática, está à frente de uma nova era de igualmente extraordinários ganhos de produtividade e concentração de riqueza. Neste início de século XXI, as contradições de uma relação incestuosa entre uma tecnocracia a serviço do capitalismo financeiro e os ocupantes do Estado, políticos eleitos e servidores públicos, atingiram um ponto de ruptura, que ameaça a viabilidade das democracias representativas das economias capitalistas contemporâneas.” (Resende, pág. 3)

O tipo de sistema econômico implantado no país, notadamente a partir do governo Temer, está jogando a pá de cal no que resta das nossas indústrias, eliminando gradativamente o capitalismo industrial, substituindo-o pelo financeiro. A capacidade de produção industrial vem caindo num ritmo bastante acelerado, principalmente ao longo dos últimos anos. Somente durante a década de 2010, a participação da indústria no PIB caiu 33%, eliminando mais de 800 mil empregos neste setor. Em 1986 a indústria de transformação tinha peso de 27,3% no PIB do país, enquanto que em 2020 este percentual caiu para 11,3%, segundo jornal eletrônico Poder 360º em matéria de 3/6/2021. A economia torna-se cada vez mais financeirizada e o funcionamento da economia se baseia progressivamente nessas premissas, como escreve o economista Ladislaw Dowbor em Resgatar a função social da economia:

O empresário efetivamente produtivo não precisa de “confiança” ou de discurso ideológico, mas de famílias com capacidade de compra, para ter para quem vender; e precisa de juros baratos para conseguir financiar a produção. No Brasil, ele não tem nem uma coisa, nem outra. Após tantos anos de “Ponte para o Futuro”, em diversos formatos, as empresas no Brasil estão trabalhando com 30% de capacidade ociosa. David Harvey tem razão, o que era capital, portanto dinheiro inserido no processo de acumulação produtiva do capital, hoje é essencialmente patrimônio. Entre 2020 e 2021, os 315 bilionários brasileiros aumentaram os seus patrimônios em 700 bilhões, um aumento da ordem de 50% numa economia parada. No início da pandemia, em apenas quatro meses, entre março e julho de 2020, o grupo mais restrito de 42 bilionários brasileiros (em dólares) tinha aumentado as suas fortunas em 180 bilhões de reais: é o equivalente a 6 anos de Bolsa-Família para 42 milhões pessoas, em 4 meses, em plena pandemia. Lembrando ainda que, desde 1995, esse tipo de ganho é isento de impostos (lucros e dividendos distribuídos), e que se trata essencialmente de ganhos sobre atividades improdutivas.” (Dowbor, pág. 44)

Nessa situação, a economia continua com crescimento fraco desde 2014, sem capacidade de incorporar os ainda 10,1 milhões de desempregados e os cerca de 4,3 milhões de desalentados, que desistiram de procurar emprego (dados de 08/22). Por outro lado, devido à falta de oportunidades no mercado, milhões de brasileiros abrem seu próprio negócio. Segundo a Agência Brasil, nos primeiros nove meses de 2020 o número de micro empreendedores individuais (MEI) cresceu 14,8%, em comparação com o mesmo período de 2019, com cerca de 19 milhões de registros. Outros dados indicam que 14 milhões de pessoas de 18 a 64 anos, ou seja, 9,9% da população adulta, comandam negócios no país, colocando o Brasil em 7º lugar no ranking do empreendedorismo mundial. No entanto, mesmo para estes pequenos empresários a vida no país não é fácil. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), uma em cada cinco empresas fecha as portas em menos de um ano de operação (dados de 2020). Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informa que 21% das empresas fecham após o primeiro ano e 60% encerram suas atividades com menos de cinco anos de vida. Um dos principais motivos para este alto índice de mortalidade entre as micro e pequenas empresas é a alta taxa de juros, o custo do dinheiro, mencionado no texto de Ladislau Dowbor acima.

Ao trabalhador sobram cada vez menos alternativas. Se minguam os empregos, por outro lado tem parte de seus direitos trabalhistas diminuídos com a reforma trabalhista implantada em 2017, durante o governo do presidente Michel Temer. O argumento principal da reforma era o de que se tornava necessário baixar os custos do trabalho, da mão de obra, para que os empregadores tivessem recursos para investir no aumento da produção e da infraestrutura, podendo gerar mais postos de trabalho – fato que efetivamente não ocorreu. Grande parte dos recursos economizados pelos empresários com a reforma (os custos das ações judiciais trabalhistas, por exemplo) foi direcionada ao mercado financeiro. Outra má notícia recebida pelo trabalhador, foi a Reforma da Previdência, aprovada em 2019 sob argumento do ministro da Economia do governo de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, de que “a adoção da medida é imprescindível, para evitar custos excessivos para as futura gerações e comprometimento de benefícios de aposentadorias e pensões.” Os principais pontos da Exposição de Motivos (da Reforma da Previdência) 029/19 incluem: 1) Envelhecimento da população; 2) Trabalhadores mais pobres já se aposentam com idade mínima; 3) Brasileiros se aposentam cedo (idade dos aposentados brasileiros está entre as menores do mundo. Alemanha, Áustria e Bélgica aposentam com 65 anos); 4) Déficit na Previdência Social. A classe dos militares, todavia, conseguiu uma outra regulação e não foi afetada pela Reforma como os demais trabalhadores.

O estabelecimento do Teto de Gastos através da PEC 241, que entrou em vigor a partir de 2017, estabelece um limite de gastos no orçamento federal para os próximos 20 anos (a contar de 2017), com bases no orçamento de 2016. Com isso o governo ficará impossibilitado de elaborar um orçamento com valores acima daqueles do ano anterior, podendo apenas corrigi-los pela inflação. Poderá ocorrer um amento de gastos em uma determinada área, desde que em outras haja um corte correspondente. Na prática, as despesas do governo não poderão ter incremento real por 20 anos.

O principal argumento para a provação do projeto é de que os gastos do governo vinham crescendo demais e a arrecadação diminuindo, o que estava aumentando gradativamente o déficit no orçamento da União. O maior impacto desta medida é a diminuição dos investimentos nas áreas da Saúde e da Educação, além de outras áreas da administração pública. Em 2020, com a crise econômica provocada pela pandemia da Covid, foi necessário instituir o pagamento do auxílio emergencial; benefício cuja validade foi limitada a quatro meses. Em substituição a este programa, o governo de Jair Bolsonaro criou o Auxílio Brasil, também de caráter temporário, a ser encerrado em dezembro de 2022 e cuja manutenção para 2023 não foi prevista no Orçamento.  

O objetivo principal de todas estas medidas – Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência e fixação do Teto de Gastos – é, por parte do governo, desonerar o orçamento permitindo atingir o equilíbrio fiscal e, para os empresários, desonerar a folha de pagamentos, possibilitando que possam ampliar suas atividades e fazer novas contratações, reduzindo o desemprego. Este é o discurso oficial, repetido por todos os formadores de opinião alinhados com a orientação econômica do Planalto.

No entanto, se por um lado são implantadas medidas claramente prejudiciais ao trabalhador e aos pequenos empreendedores – incluindo o povo em geral –, por outro lado existem diversas vantagens oferecidas aos grandes grupos empresariais, aos bancos e ao setor financeiro. A política do “Estado mínimo”, defendida pelos economistas e empresários que compõem e apoiam o governo, aplica-se apenas ao cidadão comum e não aos grandes grupos econômicos. Esta política representa um retrocesso em termos de benefícios sociais oferecidos ao cidadão, em direção contrária ao que fazem as economias europeias. Jessé Souza escreve em A Tolice da Inteligência Brasileira:

Nas grandes democracias capitalistas europeias, a relação entre ganhos de capital e massa salarial é inversa à brasileira. A tese do patrimonialismo serve para ocultar um tipo de capitalismo selvagem e voraz – construído para beneficiar uma pequena minoria – e ainda apontar o culpado em outro lugar: no Estado, supostamente o único lugar de todos os vícios sociais. (Souza, pág. 91)

Segundo muitos analistas, os governos Temer e Bolsonaro tinham como principal estratégia político-econômica a eliminação gradativamente dos benefícios sociais alcançados com a Constituição de 1988, que supostamente oneravam o Estado. Para isso foi preciso enfatizar a imagem do “Estado perdulário”, culpado pela falta de recursos para combater as mazelas econômicas e sociais do país. O passo seguinte seria eliminar ou reduzir benefícios, como direitos trabalhistas, previdenciários e sociais; tudo vendido à população como ações necessárias para tirar o país da crise econômica. Fato é que a condução da economia brasileira reflete principalmente a ideologia de seus dirigentes, de orientação neoliberal, dominante em grande parte do discurso econômico oficial. Ou seja, as prioridades na utilização dos recursos do país não estão subordinadas a uma lógica econômica de caráter social – recuperar a economia para gerar bem estar para a população –, mas refletem uma política econômica que defende os interesses de grupos minoritários. Sobre esse ponto, escreve André Lara Resende:

A teoria econômica que hoje pauta grande parte de nosso entendimento do mundo é tida como o embasamento, se não científico, técnico, das políticas públicas. Os economistas, embora pretendam ter um sólido arcabouço teórico e sustentação empírica, que lhes daria legitimidade para ditar políticas, são mais um grupo de contadores de histórias (...)

(...) Porque procura organizar a atividade humana, a teoria econômica é inevitavelmente ideológica. Suas histórias procuram organizar a sociedade segundo valores e interesses não explicitados.

Neste apogeu de seu prestígio, uma parte expressiva da teoria econômica convencional, “mainstream”, se tornou disfuncional. Embora existam muitas correntes de teoria econômica, a mainstream é a predominantemente ensinada nos cursos de economia, aquela que, de forma mais ou menos sofisticada, serve de substrato para os analistas e os comentaristas da vida pública.” (Resende, pág. 2)

Exemplos de como a economia é “inevitavelmente ideológica” e “procura organizar a sociedade segundo valores e interesses não explicitados” (mas bastante claros) são muito impressivos. Segundo a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco Nacional) a renúncia fiscal durante o ano de 2021 estava estimada em R$ 456,6 bilhões; cerca de 5,9% do PIB, dos quais R$ 141,2 bilhões a instituição considera como justificada. Outros R$ 315,4 bilhões são considerados privilégios tributários pela instituição. Dentre os maiores privilégios tributários em 2021 incluem-se: 1) Isenção de IR sobre lucros e dividendos: R$ 58,9 bilhões; 2) Não cobrança de imposto sobre grandes fortunas: R$ 58,0 bilhões; 3) Simples nacional: R$ 29,7 bilhões; 4) Zona Franca de Manaus: R$ 23,9 bilhões, entre outros num total de 10 itens, totalizando R$ 245,8 bilhões.

Já para 2022 a previsão é de que o governo federal abrirá mão de arrecadar R$ 442,3 bilhões por meio de renúncia fiscal, valor equivalente a 4,6% do PIB, segundo o jornal eletrônico Poder 360º de 8/2/2022. Quem faz esta projeção é Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara, baseada em texto aprovado pelo governo. Segundo o jornal, 84% desta renúncia referem-se a R$ 371 bilhões que o governo deixará de cobrar em tributos e equivalem a 20% de toda a arrecadação do país. “Ou seja, mesmo no vermelho, o Brasil deixa de receber dinheiro para ajudar um setor ou parcela da população”, escreve o jornal. A título de comparação, o orçamento do Ministério da Educação previsto para 2023 é de R$ 86,6 bilhões, enquanto que o da Saúde será de R$ 160,4 bilhões.

Um outro exemplo de como a condução da economia brasileira atende a interesses bem determinados, está expresso no orçamento da União de 2022, sendo:

Receitas: R$ 4,18 trilhões

Despesas: R$ 4,33 trilhões, dos quais:

R$ 2,776 trilhões – Encargos especiais e reservas de contingências;

R$ 2,737 trilhões – Encargos especiais, dos quais: R$ 1,339 trilhão (51%) refinanciamento da dívida; e R$ 708 bilhões (26%) serviço da dívida interna.       

Ou seja, 77% (R$ 2,047 trilhões) da dívida interna brasileira são devidos a refinanciamento e serviço da dívida. Ladislau Dowbor em Resgatar a função social da economia aborda esta questão:

“Quando falamos de mudança no modo de produção capitalista, não se trata de discussão semântica. Pois muito além da exploração salarial, temos de entender melhor os mecanismos atuais de apropriação do excedente social por meio do endividamento generalizado, do aumento extorsivo dos dividendos, de intermináveis patentes, da evasão fiscal, dos paraísos fiscais, da apropriação do capital natural do planeta, da microdrenagem de recursos por tarifas, das taxas sobre transferências internacionais, de cobranças sobre os cartões de crédito, do rentismo dos monopólios, dos monopólios de demanda, da especulação imobiliária, do comércio de informações pessoais, da manipulação publicitária individualizada, da inflação e outros mecanismos que entendemos muito menos, e que somos individualmente incapazes de enfrentar. Um salário extorsivo pode levar a uma greve, lutas, paralisia e acordos com a empresa. Quem é extorquido por uma taxa elevada de juros vai se manifestar onde? Em frente a uma agência bancária? Uma parte importante do que você pagou no Uber vai para grupos financeiros nos Estados Unidos. Não é preciso fazer um cheque ou uma ordem de pagamento: é automático. O dinheiro imaterial é muito fluido, e vaza por todos os lados. Quanto mais os intermediários privados drenam os nossos recursos, mais desviam a nossa atenção para os impostos. O Estado se tornou o grande bode expiatório, mas é só seguir o dinheiro para ver de quem se trata. A quem pertence o Estado, no Brasil, em 2022?” (Dowbor, pág. 36)

Outra fonte de geração de dívidas no orçamento são as “operações compromissadas”, que ocorrem do seguinte modo. As instituições bancárias não fazem grandes esforços para emprestar à população e às empresas, a não ser a juros altíssimos, já que a competição no setor bancários é muito reduzida. A sobra de caixa dos bancos, o dinheiro não emprestado, não é perdido, porque sobre estas as instituições financeiras recebem remuneração diária, com recursos pagos pelo Banco Central. Estas operações, que já existem há vários governos, têm a função de controlar o volume de moedas em circulação para evitar a inflação. Sobre as ‘operações compromissadas’ e sua relação com a inflação, escreve a auditora fiscal Maria Lucia Fattorelli:

Ademais, todos sabemos que a inflação, no Brasil, decorre de causas relacionadas aos excessivos aumentos dos preços administrados (combustível, gás de cozinha, energia, telefonia, planos de saúde, tarifas bancárias etc.) e preços de alimentos. A ausência de relação entre as chamadas “Operações Compromissadas” e a redução do volume de moeda em circulação “para controlar inflação” ficou escancarada em 2017, diante da queda da inflação e do aumento do volume das Compromissadas a um patamar recorde, ou seja, o comportamento dos dados foi totalmente contraditório ao argumento do Banco Central.

Segundo os especialistas, esta modalidade de operação é utilizada de forma distorcida, o que tem possibilitado na prática o surgimento de uma maneira “desusada” de sobra de caixa dos bancos. No restante do mundo, o volume total destas operações compromissadas é bastante reduzido. No mercado financeiro brasileiro, chega a atingir cerca de 20% do PIB (dados de 2020). Ao longo de 10 anos, segundo cálculo do site Auditoria Cidadã da Dívida, a remuneração de sobra de caixa dos bancos, considerando a atualização monetária dos juros diários pagos, gerou um custo de aproximadamente R$ 1 trilhão ao orçamento do país – aproximadamente R$ 100 bilhões ao ano. Uma outra consequência para as finanças do país é que esta remuneração diária aos bancos, parada no Banco Central, também provoca escassez de recursos disponíveis para empréstimos, fazendo com isso que os juros subam a patamares bastante altos, aumentando a dívida pública.

Como dissemos no início deste texto, a verdadeira corrupção a nosso ver não é aquela usualmente investigada e comprovada pelas autoridades policiais e que muitas vezes se aproxima da criminalidade comum. Este tipo de irregularidade, apesar de grave, causa menos prejuízos ao país do que aquela outra, que se apropria dos recursos da sociedade e que se faz geralmente ao amparo da lei, com a aprovação das autoridades, regularizada por decretos, portarias, Planos e Leis Orçamentárias. É legal, mas não é ética, como diz a sabedoria popular. Não é aceitável que numa sociedade a maior parte da população tenha que passar a vida trabalhando e mesmo assim passar por grandes necessidades, enquanto que parcela reduzida possa dispor de comodidades e luxos sequer imaginados pela maioria. E tudo isso porque a distribuição dos recursos da sociedade foi organizada de maneira a favorecer minorias, que se apropriam da maior parte das riquezas geradas.

Nem discutiremos a questão do mérito, a meritocracia, porque hoje já é senso comum que esta é mais outra falácia, assim como a da corrupção, criada para confundir os inocentes. Ambos os conceitos têm até uma certa similaridade. Assim, se você não é uma pessoa bem sucedida na sociedade de mercado capitalista, é porque você não se esforçou suficientemente ou ainda não está devidamente preparado. Já a corrupção ocorre pelo fato de terem sido eleitos políticos desonestos, votados por pessoas mal informadas, ainda despreparadas para exercerem o voto. Não se debate, por exemplo, o fato de que estes políticos, tidos por desonestos, dão suporte a governos que aprovam leis de interesse dos grupos economicamente dominantes, ao mesmo tempo que ignoram ou dificultam as causas populares ou aquelas “sem patrocinadores”.

Concluindo, a polêmica sobre a corrupção deve passar necessariamente pela debate sobre a função do Estado, sobre a distribuição equitativa de seus recursos e sobre os mecanismos através dos quais o Estado deve obtê-los. Esta discussão além de ser técnica é ideológica: o Estado deve servir a todos igualitariamente, ou não?    

 


 

Fontes consultadas

 

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Faoro, Raymundo. Os donos do poder – Formação do patronato brasileiro Vol. 2. Publifolha. São Paulo: 2000, 392 pgs.  

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Souza, Jessé. A Tolice da Inteligência Brasileira – Ou como o país se deixa manipular pela elite. Leya Editora Ltda. São Paulo: 2015, 271 pgs.

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Maria Lucia Fattorelli. O Banco Central gasta centenas de bilhões para remunerar sobra de caixa dos bancos. Disponível em: <https://auditoriacidada.org.br/conteudo/extra-classe-banco-central-gasta-centenas-de-bilhoes-para-remunerar-sobra-de-caixa-dos-bancos/>. Acesso em 14/09/2022  



(Imagens: pinturas de Herman-Max Pechstein)