"Gerações foram criadas sem que houvesse uma preocupação ambiental. Houve uma ocupação desordenada com construção de residências em encostas." - Luis Eduardo Peixoto, presidente do Comitê de Ações Emergenciais de Petrópolis - Revista Isto É 15/01/2011
"É preciso uma política com um componente repressivo que impeça a construção irregular e remova quem está em área de risco." - Ignácio Cano, professor da UFRJ - Idem
"É a desgraça do populismo, a permissividade de deixar a ocupação de áreas de uma maneira irresponsável, como se eles (os políticos) fossem aliados dos mais pobres." - Governador Sérgio Cabral - Idem
" Perdí minha casa e meu carro no desabamento" (...)"Agora, o que eu quero é sair daqui." - Lia Vieira, vítima da enchente. - Idem
Chega o verão e o país volta à rotina das enchentes, dos desabamentos e das mortes. Com o crescimento desordenado das cidades, o número de vítimas fatais vem aumentando a cada ano. Em 2008, em Santa Catarina, foram 54 mil desabrigados e 133 mortos. As chuvas de 2009 causaram 39 mortes no Nordeste e 29 em São Paulo. Em janeiro de 2010 morreram 138 pessoas em Angra dos Reis e mais 256 em Niterói, em abril. Em 2011, até o dia 15 de janeiro, já ocorreram 536 mortes na região serrana do Rio de Janeiro e 23 no estado de São Paulo. Em sua maior parte, os óbitos foram causados por desbarrancamentos de encostas associados às enxurradas em regiões montanhosas, situadas em áreas da Mata Atlântica.
A crescente ocupação irregular das encostas da serra do Mar e a falta de controle e orientação por parte das autoridades responsáveis é o principal motivo das mortes e da destruição. Tragédias como a deste ano e as dos anteriores já vem acontecendo com certa regularidade, desde a década de 1960, ceifando vidas em ocupações humanas localizadas junto às encostas. Os fatores que causam estas catástrofes são vários: chuvas fortes intermitentes associadas à ocupação desordenada de áreas de risco, à destruição da cobertura florestal e ao crescimento das cidades sem qualquer tipo de planejamento. Nenhum dos fatores, no entanto, é desconhecido pelos especialistas. Estes vêm realizando estudos há bastante tempo e tem constantemente advertido as autoridades federais, estaduais e municipais, sobre os riscos que estas regiões correm.
A tragédia no Rio de Janeiro foi classificada pela ONU como uma das dez piores do mundo. A falta de comunicação e de um plano de emergência fez com que aqui morresse um número superior de pessoas do que nas enchentes em Queensland, na Austrália. Por lá foram inundados mais de 1 milhão de quilômetros quadrados – área superior à soma dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo – e treze pessoas perderam a vida. Mesmo a Indonésia, país comparativamente mais pobre que o Brasil, tem um eficiente sistema de comunicação e mobilização da população, para evitar catástrofes relacionadas a terremotos e tsunamis.
Não vivemos mais em um país atrasado, ignorante e desinformado, onde a ineficiência e a má gestão da causa pública – patentes em acontecimentos como estes – ainda podem ser escondidos, ao se culpar a fatalidade ou a vontade de Deus por catástrofes como esta. Os cientistas sabem que fenômenos como a cabeça de água – grande volume de água em um rio, gerado por uma precipitação forte em suas cabeceiras – já ocorria na região há centenas de milhares de anos. Também o deslizamento das encostas, quando a terra se encontra muito encharcada, é fenômeno que já acontecia na serra do Mar antes que populações se fixassem em seus vales e suas montanhas.
A ocorrência de tais acidentes naturais não pode ser evitada, mas seu impacto destruidor pode ser bastante reduzido através de medidas de prevenção. É obrigação do poder público utilizar toda a tecnologia disponível, para proteger a vida do cidadão em situações como esta. A falta de recursos é desculpa que não pode ser aceita; a prioridade é a vida humana e não, por exemplo, o aumento dos salários dos deputados e dos senadores.
(imagens: ilustrações medievais sobre a Peste Negra)
(imagens: ilustrações medievais sobre a Peste Negra)
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