O caso Chevron

segunda-feira, 28 de novembro de 2011
"Quando você ler a história de um grande criminoso, agradeça sempre, antes de condená-lo, ao bom céu, que não te colocou, com tua cara honesta, no começo de uma corrente de circunstâncias como esta."  -  Georg Christoph Lichtenberg  -  Aforismos

Já se foram os tempos em que nossos políticos, sem terem liberdade para criticar o governo, esbravejavam contra supostos inimigos estrangeiros que pretendiam roubar nossas riquezas minerais (as poucas reservas petrolíferas conhecidas à época não entravam nesse cômputo), invadir a Amazônia e passar o povo brasileiro para trás. A volta da democracia fez com que os atuais congressistas abandonassem estas bravatas, agora muito mais ocupados em defender seus próprios interesses (às vezes passando o povo brasileiro para trás). Os antigos inimigos estrangeiros, reais ou imaginários, não são mais necessariamente estrangeiros ou inimigos (ou imaginários).
O que causa estranheza é o fato de que o vazamento de petróleo no poço de Campo do Frade, na Bacia de Campos, provocado pela empresa americana Chevron, tão pouco chamou a atenção de nossos parlamentares. Nada de pronunciamentos, discursos arrebatados – pelo menos não destacados pela mídia. A causa de tal mutismo, talvez, tenha sido a compenetrada votação do novo Código Florestal, no Senado. Se por um lado não havia tempo para se ocupar dos mares, pelo menos foi dada atenção às florestas. Quem sabe, tudo é possível, como já dizia Pinóquio.
O vazamento do poço de petróleo operado pela Chevron demonstra, mais uma vez, o quão pouco estamos preparados para enfrentar um acidente deste tipo. Em 2010, quando houve um grande derramamento de petróleo de um poço no Golfo do México, operado pela inglesa BP, o assunto também acabou sendo discutido por aqui, no contexto da euforia do pré-sal. Consultadas, as secretarias de meio ambiente dos estados de Espírito Santo e São Paulo informaram não dispor de estrutura para enfrentar um acidente destas proporções. A secretaria de meio ambiente do Rio de Janeiro, que à época não se pronunciou, deixou claro o quão pouco está capacitada para enfrentar vazamentos petrolíferos agora, com o acidente da Chevron. Portanto, se ocorrer algo de maiores proporções estaremos fritos – em petróleo. 
O caso Chevron teve um desenrolar pouco claro. O primeiro problema, indício de que algo estava errado, ocorreu no poço no dia 7 de novembro. A mancha de óleo do vazamento foi avistada pela primeira vez no dia seguinte, por helicópteros da Petrobrás (sócia da Chevron no poço de Campo do Frade). Críticos dizem que a empresa americana demorou muito para comunicar o acidente e que a imprensa não teve acesso às informações. O tipo de tecnologia empregada para combater o vazamento (jateamento de areia), segundo os especialistas, não seria o melhor em termos ambientais. Outro aspecto é que a petrolífera também afirmou ter recolhido óleo derramado, mas nada provou à polícia federal, que também foi envolvida no caso. O volume de óleo derramado, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), é menor do que especialistas e ONGs internacionais estimam. As multas aplicadas à empresa (uma de 50 e outra de 100 milhões de reais) são reduzidas e acabam compensando não investir em segurança, conforme os técnicos. Nos Estados Unidos tais punições teriam valor bem mais elevado. 
É de se esperar, que pelo bem do futuro do “pré-sal”, este caso não termine assim, com tantas perguntas sem resposta. Até o momento, a empresa foi impedida de operar e o vazamento parece estar controlado. As desculpas de George Buck, presidente da Chevron, no entanto, não compensarão o petróleo derramado.
(imagens: Georges Rouault)

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