"The new religious wars are now really culture wars. They are not just about scientific history - about what best accounts for the development of the human species, for instance - but more fundamentally about the meaning of human life and what living well means." - Ronald Dworkin - Religion without God
Em outubro de 2013 o governo realizou o leilão da área de exploração
de petróleo do Campo de Libra, na região onde se encontra a reserva do pré-sal.
Esta, como tem sido noticiado, deve ser uma das maiores reservas de petróleo do
mundo, identificada nos últimos anos. No entanto, a principal dificuldade de
exploração do pré-sal é que o petróleo se encontra a uma profundidade média de
sete mil metros, abaixo de cerca de cinco mil metros de água e solo, e mais
dois mil metros de sal, depositado ali por um antigo mar.
O risco e a dificuldade de extração são muito grandes, o que
aumenta os custos de exploração dos poços, fato que provavelmente foi uma das
causas do pouco interesse de outros participantes no leilão da área de Libra. O
único grupo a apresentar uma proposta para a área foi um consórcio formado pela
anglo-holandesa Shell, a francesa Total, as chinesas CNPC e CNOOC e a
Petrobrás. Grandes grupos do setor petrolífero como a inglesa BP, as americanas
Exxon e Chevron não participaram do leilão. No plano nacional o leilão também
despertou críticas tanto por parte dos petroleiros, contrários à privatização e
internacionalização da exploração da área, quanto de grupos empresariais e
outros especialistas, que se manifestaram quanto à falta de planejamento do
processo.
Além das críticas dos petroleiros e dos empresários, não
faltaram também as manifestações dos grupos ambientalistas. Segundo levantamentos, a
exploração da reserva petrolífera do Campo de Libra resultará em emissões de
cerca de cinco bilhões de toneladas de CO², volume correspondente ao total das
emissões do País durante três anos. Estimativas dão conta de que o potencial
total de emissões do pré-sal é de 35 bilhões de toneladas CO², que colocarão o
Brasil entre os dez maiores emissores de gases de efeito estufa – isto sem
contar as emissões de gases resultantes do desmatamento da Amazônia e da
pecuária.
Outro aspecto ainda longe de estar equacionado é a questão
do Plano Nacional de
Contingência, que deve estabelecer as medidas a serem
tomadas no caso de um vazamento petrolífero. O risco de acontecer um vazamento
é bastante alto, dados os desafios técnicos e logísticos envolvendo toda a
exploração de petróleo em águas tão profundas. Além disso, existe o fato de que
com relação às plataformas de exploração o Brasil atua com equipamento antigo,
já que cerca de um terço das plataformas utilizadas, segundo ambientalistas, tem 30 ou mais anos de
funcionamento. Logo após o anúncio do resultado do leilão, a ministra do Meio
Ambiente, Izabella Teixeira, veio a público defender maiores penalidades para
os culpados por acidentes de derramamento de petróleo, que atualmente alcançam
multas de até R$ 50 milhões. A ministra disse que não se devem estabelecer
valores, já que a indenização pode ser de R$ 200 milhões ou R$ 1 bilhão,
dependendo da situação.
As críticas quanto ao planejamento do leilão têm fundamento.
No aspecto ambiental, por exemplo, ficou claro que o assunto não é
prioridade, tendo sido discutido somente a posteriori, depois de o Plano Nacional de
Contingências ter sido estabelecido por decreto presidencial. No entanto,
existe uma longa distância, principalmente no Brasil, entre a discussão de um
plano de contingências e seu efetivo funcionamento - sabemos o que aconteceu na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Assim, no caso de ocorrer um vazamento de petróleo e o plano de contingências não funcionar, os grandes prejudicados serão os milhões de habitantes e turistas da região Sudeste do País.
(Imagens: fotografias de François Kollar)