"Capitalismo é a crença impressionante de que os mais perversos entre os homens farão as coisas mais perversas para o bem maior de todos." - John Maynard Keynes - citado em Os 100 maiores visionários do século XX.
No primeiro semestre deste ano,
especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climática (IPCC) da ONU
já haviam anunciado um grande aumento das emissões de gases de efeito estufa
(GEE), que provocam o aquecimento da atmosfera e com isso as mudanças rápidas
do clima. Recentemente, durante a primeira conferência nacional sobre o tema, especialistas
brasileiros do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) lançaram um
relatório sobre como estas mudanças afetarão o Brasil em aspectos econômicos e
sociais.
A publicação em três volumes foi preparada
por 350 especialistas e traz uma série de diferentes previsões sobre o que
poderá acontecer, dependendo de um aumento maior ou menor da temperatura da
Terra. Segundo o documento, a temperatura média no Brasil poderá aumentar de 3º
C a 6º C até 2100, o que deverá trazer mudanças no regime de chuvas das
diferentes regiões - fato que influenciará bastante a agricultura e a geração
de energia.
Na região amazônica, por exemplo, a
temperatura média poderá subir 6º C, o que poderá trazer uma mudança na
distribuição das chuvas, fazendo com que os índices pluviométricos caiam em até
45%. O fenômeno fará com que bacias hidrográficas tenham menos volume de água, alterando
a vegetação e a fauna e provocando impacto nas atividades econômicas. O
documento diz que o rio Tocantins, por exemplo, passando por Goiás, Tocantins,
Maranhão e Pará, sofrerá uma redução em 30% em seu escoamento. Tal fato
afetaria a geração de energia nas grandes hidrelétricas - Tucuruí, Estreito,
além de outras ainda por construir - ao longo do rio, desestabilizando a rede
nacional de eletricidade. Outro provável aspecto é que com a redução dos
índices pluviométricos na Amazônia e queda da evapotranspiração na floresta, as
nuvens de chuva que usualmente se deslocam desta região para o Centro-Oeste,
Sudeste e Sul, seriam menos volumosas.
Na região Nordeste o aumento da temperatura
em mais 5,5º C aceleraria o processo de desertificação da região, destruindo o
já bastante afetado bioma da Caatinga. A área do Agreste ficaria cada vez mais
seca e imprópria para a atividade agrícola, provocando a gradual migração de
milhões de sertanejos para as capitais ou outras regiões do país. Outra
situação apresentada pelo relatório é o aumento de 30% das chuvas na maior
parte da região Sudeste e de 40% no Sul. Ainda na região Sul, a bacia dos rios
Paraná e Prata terá um aumento de vazão entre 10% a 40%.
Com todas estas mudanças no regime das
chuvas e nas temperaturas médias, o Brasil também enfrentará grandes desafios
no setor agrícola. Especialistas que analisaram a situação preveem que a
produtividade das culturas de soja poderá cair em 20% nos próximos sete anos,
chegando a uma queda de 24% até 2050. Da mesma forma, a cultura do arroz poderá
encolher em 7,5%, a do algodão 4,7% e a do milho 16%.
É importante observar que estas previsões
não são sentenças e não ocorrerão da noite para o dia. Muito depende de como
será o aumento das emissões por todo o globo. Países que até agora não
assumiram compromisso de reduzir sua geração de gases, como a China, os Estados
Unidos, o Japão e inclusive o Brasil, deverão adotar obrigações em futuro
próximo. No caso do Brasil há que se investir muito mais na geração de energia de
fontes renováveis e diminuir definitivamente os desmatamentos na Amazônia.
(Imagens: portas em Iguape, SP - fotografias de Ricardo E.Rose)
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