"Não se deve confundir liberalismo com conservadorismo. Na realidade, liberais e conservadores só têm em comum a sua oposição ao socialismo. Como prevalece de uma maneira geral a ilusão de que o espectro político seja linear, os liberais ora são colocados à direita dos conservadores, ora mais ao centro. Nada mais equivocado." - Donald Stewart Jr. - O que é o liberalismo?
Até os anos 1950 o Brasil
era um país essencialmente rural, com somente 35% de sua população vivendo em
áreas urbanas. Atualmente, mais de 85% dos brasileiros vivem em cidades, a
maioria delas com até 100 mil habitantes. São as cidades, concentrando a maior
parte dos habitantes, que têm um forte impacto nas atividades econômicas e na
gestão dos recursos do país. Esta a razão pela qual é importante que os
municípios criem planos que ordenem seu crescimento, possibilitando um
desenvolvimento harmônico e voltado ao bem estar de sua população.
Um dos principais
instrumentos para ordenar o crescimento de uma cidade é o Plano Diretor. Este é
um plano que servirá como diretriz à expansão territorial, populacional e
econômica de uma cidade. Na definição da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), um Plano Diretor é o "instrumento básico de um processo
de planejamento municipal para a implantação da política de desenvolvimento urbano,
norteando a ação dos agentes públicos e privados (ABNT, 1991)". Parece
óbvio, mas o Plano Diretor tem como função principal proporcionar um
crescimento planejado dos municípios - coisa que a maior parte deles não coloca
em prática.
Recentemente o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Perfil dos Municípios
Brasileiros (Munic), contendo diversos dados sobre os 5.570 municípios
brasileiros. Lançado pela primeira vez em 1999, o estudo investiga o
funcionamento das instituições públicas municipais em seus diversos aspectos. Chama
a atenção na atual edição (2015) de que metade das cidades do Brasil não dispõe
de um Plano Diretor. Segundo matéria sobre o assunto publicada no jornal O
Estado de São Paulo, a ausência de um Pano Diretor em tão grande número de
cidades pequenas e médias revela a ausência de peritos, preparados para
realizarem este tipo de trabalho junto às prefeituras. Mesmo assim o avanço
nesta área foi considerável, já que há dez anos somente 14,5% dos municípios
tinham o plano.
Com relação ao planejamento
urbano levando em consideração os aspectos ambientais - tema da Agenda 21
lançada durante a Eco 92 no Rio de Janeiro -, somente 22% das cidades
brasileiras estão em fase de implantação deste programa. Emílio La Rovere, coordenador
do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente do programa de pós-graduação
em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma em declaração
ao jornal O Estado de São Paulo: "É preciso mudar a cultura dos prefeitos
e capacitar o corpo técnico dos municípios. Em geral, eles incham a folha de
pagamentos, empregam parentes, prestam favores políticos, não têm funcionários
de carreira".
Para a maior parte dos
municípios a agenda ambiental ainda é um plano para um futuro longínquo. Sem
recursos financeiros e pessoal capacitado, as cidades mal conseguem atender
suas prioridades imediatas, como a gestão dos resíduos urbanos, o tratamento
dos efluentes domésticos e a varrição e limpeza das ruas. Até a implantação da
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi postergada pelo Congresso para
2018, por não ter a maioria dos prefeitos condições de implantá-la. Dadas as
condições atuais do país, já faremos muito se conseguirmos universalizar o
Plano Diretor e fazer com que seja efetivamente seguido por todas as
administrações.
(Imagens: fotografias de Ricardo E. Rose)
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