Como introdução ao texto, vale lembrar uma passagem do sociólogo Max Weber, afirmando que: “Não existe qualquer análise permanente “objetiva” da vida cultural, ou – o que pode significar algo mais limitado, mas seguramente não essencialmente diverso, para nossos propósitos – dos “fenômenos sociais”, que seja independente de determinadas perspectivas especiais e parciais, graças às quais estas manifestações possam ser, explícita ou implicitamente, consciente ou inconscientemente, selecionadas, analisadas e organizadas na exposição, enquanto objeto de pesquisa.” (Weber apud Gabriel Cohn, 1989).
Sérgio Buarque de Holanda já tem uma análise menos romântica do homem brasileiro, mas também – influenciado por Max Weber – coloca aspectos da sociedade ibérica como formadores da mentalidade brasileira. Holanda ressalta a pouca valorização do trabalho como elemento integrante da cultura ibérica, devido à influência da crença católica. Nesta tradição o trabalho é um castigo, sendo destinado às classes subalternas e aos escravos. Outra característica do homem brasileiro, segundo Holanda, é o pouco respeito pela burocracia. Neste caso nos referimos à burocracia como a organização dos cargos e das atividades de uma instituição, fazendo com que atue com determinados fins, de maneira racional e organizada. Esta aversão a este tipo de organização propiciou o aparecimento das práticas do personalismo, do apadrinhamento e da troca de favores, comuns e atualíssimos na sociedade brasileira.
No entanto, os “tipos” descritos por Freire e Holanda, sem dizer algo sobre o tipo ideal brasileiro, refletem muito mais certas características que ainda hoje estão presentes na mentalidade brasileira. Por outro lado, cabe considerar também a forma como as análises de Freire e Holanda estavam influenciadas por ideologias de classe, já que o primeiro pertencia à elite latifundiária do nordeste e o segundo à burguesia do sudeste. Assim, fica a pergunta se ainda é possível apresentar um brasileiro típico, dado a complexidade de grupos e subculturas que compõem o caldo cultural do país. A resposta é que a tipificação de uma cultura, de um povo ou país depende sempre do grau de profundidade com que realizamos a análise. Esta, quanto mais superficial, menos atenta a detalhes ou generalizante, tanto menos enxerga e assim acaba finalmente encontrando seu “perfil do brasileiro típico”. O mesmo se aplica, evidentemente, a outras análises onde se deseja identificar o “consumidor típico”; o “torcedor típico”; o “eleitor típico”, e assim por diante; enxerga-se a floresta, mas não as árvores. As generalizações – sobre isso é preciso tomar cuidado – são sempre tendenciosas e não refletem a objetividade dos fatos. A própria análise cultural, segundo Weber, não é objetiva, sendo sujeita a “perspectivas especiais e parciais”.
Bibliografia:
FERNANDES, Florestan; COHN, Gabriel. Sociologia – Weber. São Paulo. Editora Ática S/A: 1989, 167 pgs.
(imagens: Francisco Rebolo)
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