Natal, consumo e meio ambiente

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Há uma memória involuntária que é total e simultânea. Para recuperar o que ela dá, basta ter, como dizia Machado, "padecido no tempo" (...)".   Pedro Nava  -  Baú de Ossos

Chegamos ao final do ano e aproxima-se o Natal. É esta a época em que todos consomem mais; compram presentes, renovam os eletrodomésticos da casa, organizam festas com fartura de alimentos e bebidas. Neste ano, o comércio prevê um aumento das vendas, já que há mais dinheiro em circulação, devido ao crescimento da economia. Natal é a festa do consumo, a época em que as pessoas muitas vezes gastam mais do que podem e acabam se endividando, dada a facilidade de crédito. Através da mídia, ocorre um verdadeiro processo de lavagem cerebral, para que todos comprem de tudo, o máximo possível. Papai-Noel, “o bom velhinho”, é uma figura patética, anunciando produtos ao som de música natalina, transformou-se no verdadeiro garoto-propaganda de um consumismo irresponsável. Já é uma tradição na sociedade capitalista: no Natal todos devem consumir, cada vez mais, mais do que consumiram no Natal passado (que servirá como base para calcular o aumento das vendas deste ano). O costume, segundo os estudiosos, surgiu nos Estados Unidos depois da 2ª Grande Guerra, durante os chamados “anos dourados” do capitalismo. A economia crescia como nunca e havia pouquíssimos desempregados; a indústria colocava a cada ano novos produtos no mercado e todos tinham recursos para comprar. O impacto do consumo ao meio ambiente era problema desconhecido – triste inocência. Assim o Natal, entre outras coisas, tornou-se mais uma oportunidade para que os que podem (e também os que não podem – para quê existe o crédito?) comprem coisas que não precisam – as milhares de bugigangas que a sociedade de consumo nos oferece, depois de nos convencer que precisamos delas.
A famosa pergunta de Machado de Assis em seu Soneto de Natal "Mudaria o Natal ou mudei eu?", escrito em 1901, é mais atual do que nunca. Quem ainda se lembra da época do Advento, os quatro domingos que antecedem o Natal? Quantos ainda freqüentam a Missa do Galo, celebrada à meia-noite do dia 24 de dezembro, quando, segundo antiga tradição, nasceu Jesus de Nazaré? Os valores e os costumes mudam em todas as sociedades. Assim foi durante toda a história humana e também será no futuro, já que somos seres culturais, que vivem e se comunicam através de símbolos criados na cultura. Todavia, novos tempos requerem novas preocupações. Precisamos nos dar conta de que nossa civilização capitalista, mais especificamente a parte dela que celebra o Natal, não é mais a mesma de duzentos, cem ou cinqüenta anos atrás. Cresceu a população, aumentou o consumo, escasseiam os recursos naturais, tudo em ritmo acelerado, cada vez mais rápido. O aquecimento do planeta, provocado pela emissão de gases de efeito estufa – um dos subprodutos do nosso sistema econômico – está provocando o desaparecimento de muitas espécies e alterando o clima e a geografia do mundo.
A grande contradição da celebração do Natal na sociedade de consumo é que o homenageado em nada parecia incentivar o excesso de apego aos bens materiais – o consumo – como vemos hoje. A continuarmos neste ritmo, principalmente nos países desenvolvidos, nossos natais serão celebrados em condições climáticas e ambientais cada vez mais adversas.
O Natal continua sendo uma boa oportunidade para pensarmos sobre o que estamos fazendo com nossas vidas, com nosso planeta.
(imagens: Jackson Pollock)

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