"O sentido do mundo deve estar fora dele. No mundo tudo é como é, e acontece tudo como acontece; não existe nele qualquer valor - e se este existisse, este não teria nenhum (valor)" - Ludwig Wittgenstein - Tractatus logico-philosophicus
A miséria, com todas as suas consequências
sociais e políticas, sempre castigou a humanidade. Muitos pensadores –
filósofos como Jean Jacques Rousseau (1712-1778), Adam Smith (1723-1790) e Karl
Marx (1818-1883) – construíram teorias sobre seu surgimento e propuseram
soluções para sua erradicação. Regimes políticos de diversas tendências,
escolas econômicas, gerações de ministros de Estado; todos tentaram se não
acabar, pelo menos reduzir o impacto da miséria.
Em publicação recente, o Banco Mundial (Bird)
informa que o número de miseráveis, classificados pela instituição como sendo
pessoas que vivem com uma renda equivalente a R$2,50 por dia, diminuiu de 43%
da população mundial em 1990 para 21% em 2010. Esta redução no percentual de pobres
em todo o globo estava prevista para acontecer somente a partir de 2015. O fato
é auspicioso, já que apesar da crise econômica mundial desde 2008, a miséria pôde ser
reduzida em muitas regiões.
O que também contribuiu para a diminuição global
da pobreza extrema foi o crescimento da economia de grande parte dos países em
desenvolvimento, notadamente na Ásia onde milhões de chineses, indianos,
vietnamitas, cambojanos e outros, foram galgados para uma melhor condição
econômica com a criação de novas oportunidades de trabalho. O mesmo aconteceu
no Brasil, México, Peru, Colômbia; países onde a criação de renda e programas
sociais resgatou milhões de cidadãos de uma situação de penúria extrema.
Grande parte dessas pessoas, segundo o
Banco Mundial, ainda se encontra em situação economicamente vulnerável, ou
seja, sujeita a voltar à situação de miserável caso a economia de seus países
seja afetada por nova crise. Diz o banco que a linha da pobreza moderada
situa-se numa renda de R$ 8,00 (ou equivalente em outras moedas) por dia. Quem
ganha entre R$ 8,00 e R$ 20,00 é considerado "vulnerável". No Brasil,
no entanto, é considerado “classe média” aquele que recebe entre R$ 12,00 e R$
40,00 por dia – o que significa que uma parte da classe média brasileira ainda está
na faixa dos vulneráveis, podendo voltar à condição de miserabilidade caso a
economia pare de crescer.
Mas não é somente a melhoria da renda que
tira o cidadão da situação de miséria. É preciso que o Estado garanta uma estrutura
de apoio social, formada por serviços de saúde, saneamento, educação,
habitação, segurança e transporte, assegurando que estas pessoas consigam manter-se
permanentemente acima da linha de pobreza. Os países em desenvolvimento
precisam fazer grandes investimentos em infraestrutura e serviços básicos, possibilitando
que seus cidadãos possam manter-se em aceitável situação econômica e social, proporcionando
assim uma vida melhor aos seus filhos, dando início a um ciclo virtuoso.
Nesse ponto o Brasil vem patinando há anos.
Apesar do efeito positivo dos programas de distribuição de renda, grandes
contingentes da população correm o risco de voltar à miséria. Falta de
planejamento, incapacidade de coordenar projetos, afora os casos de malversação
de recursos públicos, impediu que o Estado realizasse maior número de obras de
infraestrutura. Estradas e portos congestionados; hospitais, escolas e órgãos
públicos desaparelhados; a segurança do cidadão sob ameaça constante. Enfim, o
governo errou na previsão: achou que só
o consumo levaria o país adiante e quem perdeu foi o povo.
(Imagens: fotografias de Albert Renger Patzsch)
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