"As nossas ciências e tecnologias tornaram-se cada vez mais estreitas em seu foco, e não conseguimos compreender nossos problemas multifacetados de uma perspectiva interdisciplinar." - Fritjof Capra - A ciência de Leonardo da Vinci
Em novembro de 2007 publicamos no jornal GIRO
ABC o artigo com o título “A Copa de 2014 e o meio ambiente”. Naquela época,
ajudado pelo bom desempenho da economia internacional anterior à crise de 2008,
o país vivia um clima de crescimento em todas as áreas. Assim, a notícia de que
a Copa mundial de futebol seria realizada no Brasil trouxe uma onda adicional
de entusiasmo. Seria a grande chance para que o País divulgasse sua imagem de
nova potência econômica, comprometida com a modernização de suas estruturas e a
promoção do bem estar de sua população – além de mais uma vez poder mostrar a
força do futebol brasileiro.
No entanto, era necessário preparar o País para um evento
desta monta. O governo teria que cuidar da expansão da infraestrutura, setor
onde há décadas os sucessivos governos não haviam feito grandes investimentos. Em
nosso texto dissemos que “serão necessários anos de
preparação na melhoria da rede hoteleira de muitas cidades, investimentos em
logística de aeroportos nacionais e internacionais, pavimentação de estradas e
aumento da segurança pública, só para citar alguns itens.”
Outro aspecto é a
questão ambiental. A Copa e as Olimpíadas poderiam e deveriam ser utilizadas
como uma vitrine, mostrando por um lado os grandes recursos naturais do País, e
por outro os esforços que estavam sendo envidados para a preservação destas riquezas.
A Alemanha, país que havia sediado a Copa de futebol em 2006, realizou grandes
investimentos em energia e mobilidade, conseguindo assim reduzir as emissões de
gases de efeito estufa durante todo o evento. Os esforços do governo alemão com
a assim chamada “Copa Verde”, trouxeram a admiração mundial, principalmente das
entidades preservacionistas. Com relação a esse tema escrevemos no artigo que “O
Brasil poderá aproveitar esta boa oportunidade e também construir uma imagem
como país voltado para a questão ambiental. Para consolidar esta imagem, o
governo poderia aumentar os investimentos em saneamento, dados os baixíssimos
índices de tratamento de esgoto (15%). As prefeituras, algumas delas tão
afoitas para atrair os jogos para suas cidades, poderiam melhorar a qualidade
de seus aterros sanitários, num país onde ainda 25.000 pessoas vivem em lixões.”
Passaram-se mais de
seis anos e hoje retrospectivamente podemos ver as grandes oportunidades
perdidas, principalmente nos setores de infraestrutura e meio ambiente. Por
falta de estrutura hoteleira os preços das diárias chegam às nuvens. O governo
relutou em chamar o setor privado para participar na construção de aeroportos e
quando viu que não teria recursos, realizou licitações às pressas. Mesmo assim,
nove dos doze aeroportos não ficarão prontos a tempo. O mesmo vale para
estradas e demais sistemas de mobilidade urbana. O saneamento e a implantação
de amplos programas de gestão de resíduos urbanos continuam atrasados. Apenas
alguns estádios receberam equipamentos de geração de energia fotovoltaica e
sistemas de recuperação de água. Pouco para um evento de tão grande importância,
que poderia projetar o Brasil como grande mercado de tecnologias ambientais.
Infelizmente, a
depender do que preparamos para esta Copa, continuaremos sendo apenas o “país
do futebol” – muito pouco para um país com tantos recursos e potencial. E mesmo
este pouco ainda depende do desempenho da nossa seleção de futebol.
(Imagens: fotografias de Paul Strand)
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