"Spinoza poderia ter mencionado a admonição fundamentalmente judaica do rabi Tarphon, em Pirke Abot. 'Não se exige que completemos o trabalho, mas não estamos livres para desistir dele.'" - Harold Bloom - Abaixo as verdades sagradas
No Brasil, mais de 50% das construções de residências são
realizadas pelos proprietários, sem acompanhamento técnico de especialistas. A
fiscalização das obras, na maioria das prefeituras, ocorre de maneira incipiente
e superficial. Além do aspecto da segurança das estruturas das construções,
existe a perda de material, como restos de areia, cimento, cal, tijolos, etc.; materiais
que muitas vezes se transformam em entulho descarregado em áreas públicas ou
terrenos baldios.
O problema da perda de material no setor de construção
também afeta a maior parte das obras realizadas com supervisão técnica.
Empreiteiros e construtores de pequeno e médio porte, em sua maioria, ainda não
utilizam técnicas de reuso e reciclagem de materiais, além de muitas vezes não
disporem corretamente o entulho de obra. Especialistas calculam que 25% dos
insumos utilizados pelo setor são perdidos, o que faz com que o metro quadrado
construído no Brasil seja relativamente elevado, em comparação com outros
mercados equivalentes.
O tema do uso mais eficiente dos recursos no setor da
construção não é novo e já faz parte das preocupações das principais
instituições ligadas à construção, há pelos menos quinze anos. Grandes empreiteiras,
principalmente aquelas atuantes nos grandes centros urbanos, já incorporaram as
diretrizes do uso eficiente dos recursos, oferecendo treinamento aos seus
funcionários e implantando sistemas de gestão de canteiros de obras, visando
controlar, separar e reutilizar materiais e insumos.
Um grande avanço no setor da construção civil foi a criação
da Norma de Desempenho de Edificações nº 15.575, da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), lançada em abril de 2013. A diretriz estabelece
padrões para resistência e durabilidade de estruturas, pisos, coberturas,
vedações e sistemas hidrossanitários para construções, proporcionando mais
garantias ao comprador do imóvel e exigindo que a construtora utilize
materiais, equipamentos e mão de obra de melhor qualidade. A norma representa
um importante passo do setor da construção civil em direção à melhor gestão das
obras, tornando-as mais eficientes e sustentáveis, reduzindo a perda de
materiais.
Outro fato positivo no setor da construção civil é introdução
da certificação de construções – os selos verdes – de acordo com normas
internacionais de qualidade ambiental. Para receber este selo, as edificações
devem atender aspectos como: ter obra realizada de maneira ambientalmente
correta (reuso, reciclagem e correta destinação dos materiais, ausência de
substâncias tóxicas, uso eficiente de água e energia, entre outros); ter edifícios
equipados com sistemas de economia de água e eletricidade, materiais de alta
durabilidade; adotar princípios de urbanismo sustentável (calçadas vivas,
prioridade para deslocamento de pedestres, arborização, etc.). O Brasil já tem
mais de 900 projetos registrados aguardando certificação e somente em um selo,
o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), já existem 181 edificações
credenciadas.
O setor da construção tem forte impacto no uso de recursos
naturais, incluindo água e eletricidade. Outro aspecto, é que depois de prontos,
os edifícios funcionarão por várias décadas. Por isso é importante que, tanto
na fase de construção quanto na de uso, seu impacto ambiental seja reduzido ao
mínimo possível.
(Imagens: fotografias de Ricardo E. Rose)