O que muitos cientistas das áreas da climatologia e do meio
ambiente já vinham prevendo há mais de uma década, parece se tornar cada vez
mais real. Fenômenos como o das mudanças climáticas, associados à sazonalidade
do El Niño (variação da temperatura do oceano Pacífico que influi no volume das
chuvas no Brasil), pesarão cada vez mais sobre setores da economia brasileira,
como a agricultura e a geração de energia elétrica. As duas atividades dependem
essencialmente das chuvas; sobre as quais temos pouca influência, e que devido
ao clima poderão se tornar menos freqüentes.
Do lado do consumo da eletricidade haverá, segundo a Empresa
de Pesquisas Energéticas (EPE), um aumento médio anual de 5% nos próximos dez
anos. Do lado da geração, existe cada vez menos espaço para a construção de
grandes hidrelétricas, já que isto implicaria destruir áreas de proteção
ambiental, desalojar populações locais e ocupar reservas indígenas. Um dos últimos
megaprojetos planejados pelo governo é o de São Luiz de Tapajós, que deverá
gerar oito mil megawatts (MW). A solução alternativa, segundo orientação do
governo, é aumentar os investimentos em termelétricas movidas a gás e carvão. Com
isso, nas previsões do Ministério das Minas e Energia (MME), a matriz
hidrelétrica que hoje supre 69% da demanda de eletricidade, deverá cair até
2023 para 61%. Neste mesmo período, a geração eólica crescerá de 4% para 12% e
as termelétricas continuarão suprindo 15% da demanda – que, todavia, será maior.
Para tanto, o governo prevê aumentar a geração termelétrica dos atuais 1,5 mil
(MW) para 7,5 mil MW.
A falta de locações adequadas para novos projetos e a previsão
de sazonal redução do volume de chuvas, são dois fatores que tenderão a limitar
os investimentos em hidrelétricas. Apesar destes novos aspectos no quadro da
geração de eletricidade no país, ainda não existe um consenso sobre o rumo a
ser dado ao setor no futuro. Os programas dos atuais presidenciáveis, incluindo a candidata à reeleição, são pouco específicos com relação às matrizes a serem priorizadas. Sinaliza-se uma tendência de aumento da geração
eólica nas previsões do próprio governo, mas permanece uma incógnita quanto à
política energética futura em relação a outras energias renováveis, como a
solar fotovoltaica e a energia de biomassa. Além disso, são poucas as ações
concretas do governo com relação à eficiência energética, lembrando que “a
energia mais barata é aquela que não precisa ser gerada”. Enquanto países mais industrializados priorizam cada vez mais a eficiência dos processos - a economia de energia - o Brasil continua no passado, pensando somente em termos de geração para atender uma demanda cada vez mais alta.
(Imagens: pinturas rupestres de Lascaux)
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