"Agora todos nós nos adaptamos à nova concepção de nossa infinita pequenez, considerando-nos menos que zero no Universo, com todas as nossa belas descobertas e invenções; então, que valor o senhor quer que tenham as notícias, já não digo das nossas misérias particulares, mas até mesmo das calamidades gerais?" - Luigi Pirandello - O finado Marias Pascal
A
ONU através da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO) declarou o ano de 2015 como o "Ano Internacional dos Solos". O
dia 5 de dezembro de 2015 será celebrado em todo o mundo como o "Dia Internacional
dos Solos". A data foi instituída, segundo a FAO, para aumentar a
consciência sobre a importância dos solos na vida humana. Com esta iniciativa a
FAO pretende educar a população sobre o papel crucial dos solos na segurança alimentar
e a eliminação da pobreza, além de promover a proteção ao meio ambiente. A
organização internacional também deverá apoiar políticas, investimentos,
pesquisas e demais iniciativas que visem um melhor conhecimento e proteção dos
solos em todo o planeta.
O
solo como fonte de alimento e vida torna-se mais importante a cada geração. Se,
no passado, havia sempre mais uma fronteira por ocupar e explorar, atualmente é
cada vez mais difícil encontrar solo virgem e pronto para a agricultura. Isto
porque, as grandes áreas de solo agricultável já foram ocupadas em quase todo o
mundo e terras que no passado eram muito férteis já dão mostras de desgaste. Segundo
levantamento feito pela FAO em 2011, cerca de 25% dos solos destinados à atividade
agrícola estão parcialmente degradados devido a práticas que causam a erosão
hídrica e eólica, a perda da matéria orgânica, a compactação, a salinização, a
perda de nutrientes e a poluição do solo.
O
norte e o nordeste da África e certas regiões da Ásia - partes da Índia,
Paquistão e China - são as regiões do mundo mais afetadas por este gradual processo
de destruição da terra fértil. No entanto, em proporções menores, a contínua
perda de solo agricultável ocorre em todos os países. Segundo Luc Gnacadja,
secretário executivo da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
(UNCCD), o planeta perde por ano cerca de 12 milhões hectares de solo fértil -
área equivalente a aproximadamente a 11 milhões de campos de futebol. Estes dados
são muito preocupantes, pois um solo propício para a produção de alimentos, com
alguns centímetros de espessura, pode levar milhares de anos para se formar. É
por esta razão que é considerado um recurso natural não renovável.
O
Brasil perde anualmente cerca de 286 milhões de toneladas de solo agricultável,
segundo o Ministério do Meio Ambiente. Esta perda é provocada em parte por
práticas agrícolas que não levam em conta as características do solo, da
cultura a ser plantada, além de serem utilizadas tecnologias ultrapassadas.
Outro aspecto é que a remoção da vegetação original pode comprometer a qualidade
do solo definitivamente, como ocorre com as terras ocupadas pela floresta amazônica.
Estes solos, que nas décadas de 1950 e 1960 eram tidos como o futuro celeiro do
mundo, provaram ter uma constituição pouco propícia para a agricultura extensiva,
sendo mais indicados para o plantio agroflorestal, que associa culturas agrícolas
com culturas florestais.
A demanda por
alimentos deverá aumentar em até 25% nos próximos trinta anos. Nestas condições,
serão nações com vasta extensão agricultável como o Brasil, que terão um papel
estratégico na segurança alimentar de todo o planeta. Se o mundo não adotar,
ainda hoje, técnicas que contribuam para a conservação e recuperação de vastas
áreas propícias ao plantio de alimentos, amanhã poderá se defrontar com o
aumento dos preços dos alimentos. Os maiores prejudicados serão, como sempre,
as nações pobres, que não terão recursos para abastecer suas populações por terem solos pouco propícios à
agricultura, e não disporem de suficientes recursos para compra de alimentos no
mercado internacional.
(Imagens: fotografias de Robert Doisneau)