"No fundo, culto é sempre e apenas aquele que se esforça em sua busca por cultura, isto é, que simplesmente procura ser culto, porque, de fato, isso não é nada fácil." - Robert Walser - Absolutamente nada e outras histórias
A cidade foi uma das maiores
invenções da humanidade, há cerca de sete ou oito mil anos. De um modo geral, o
surgimento das primeiras aglomerações humanas está ligado à prática da
agricultura. Esta atividade começou a se difundir em toda a região do Crescente
Fértil, área que engloba os atuais Iraque, Síria, Líbano, Egito, Israel,
Jordânia, parte da Turquia e Irã. Sob a influência dos rios Nilo, Tigre e
Eufrates, a população local desenvolveu a cultura de plantas que passariam a
ser incorporados ao cardápio da posteridade, como a cevada, trigo, aveia,
ervilha, lentilha, cebola; frutas como o figo, a tâmara, o pêssego e a ameixa.
O excedente de alimentos
produzido pela agricultura, associado à criação de gado, à pesca e eventual
caça, permitiu com que um numero cada vez maior de pessoas se fixasse nas áreas
urbanas, exercendo atividades tipicamente citadinas, como artesãos, ferreiros,
prestadores de serviços, sacerdotes, etc. Assim, a cidade sumeriana de Tell
Brak, localizada na atual Síria, já tinha uma população estimada em 4 mil pessoas
por volta de 5.000 A.C.; as vizinhas Uruk e Larak tinham respectivamente 5 e 10
mil habitantes por volta de 4.000 A.C., sendo que a primeira alcançaria a
impressionante população de 50 mil habitantes por volta de 2.500 A.C.. A título
de comparação, a cidade de São Paulo tinha pouco mais de 30 mil habitantes em
1872 e alcançou a cifra de 65 mil moradores somente em 1890.
Foi no espaço das cidades de todo
o mundo que se desenvolveram outras grandes criações humanas: o Estado, as
religiões organizadas, a escrita e o cálculo, a ciência e a tecnologia. No
entanto, apesar de serem as capitais dos impérios, os centros administrativos,
religiosos e comerciais, as cidades tinham uma importância relativa, já que a
maior parte da população vivia no campo de forma autossuficiente e necessariamente não precisava frequentar a
cidade. Muitas pessoas, até o fim do período medieval, visitavam a vila ou
aldeia mais próxima somente algumas vezes em suas vidas.
A partir dos séculos XIII e XIV
ocorreram diversas mudanças econômicas, sociais e culturais na Europa, que fizeram
com que as cidades passassem definitivamente a ser o centro das principais atividades
humanas. O campo ainda produzia alimentos e matérias primas, mas os centros
urbanos agora é que ditavam os destinos das nações; eram as sede dos governos,
do comércio, dos bancos, das universidades, da administração de impérios
ultramarinos e da vida cultural. As metrópoles foram os focos irradiadores das
novas ideias religiosas e políticas. A partir da segunda metade do século
XVIII, as cidades também se tornaram o local das atividades industriais e da
pesquisa científica.
A cidade foi uma invenção tão bem
sucedida que atualmente cerca de 55% da população mundial vive em metrópoles -
no Brasil já são mais de 80% da população. Mas, como toda invenção humana, a
cidade está sujeita a melhorias e adaptações, já que é o local onde se
concentram inúmeras atividades humanas, sujeitas às condições históricas e
ambientais do local onde ocorrem.
A cidade, seja de que tamanho
for, é a amostra de como funciona um país. De como atende às necessidades da população através
da arquitetura, transporte, saneamento, segurança, lazer, condições de saúde,
educação e cultura. É uma construção coletiva, da qual todos participam e devem
se beneficiar.
(Imagens: fotografias de Ricardo E. Rose)
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