Quando investir em inovação dá certo

sábado, 21 de novembro de 2015
"Todo o jornalismo sadio nos Estados Unidos (sadio no sentido de que floresce espontaneamente, sem precisar de auxílio externo) baseia-se firmemente em inventar e destruir papões. Assim como a política. E assim como a religião. O que reside sobre esta impostura fundamental é uma artificialidade, um brinquedo de homens com mais esperanças do que bom-senso."  -  H. L. Mencken  -  O livro dos insultos


Falar que o país passa por uma crise econômica que está afetando vários setores, inclusive a indústria e a capacidade de investimento do Estado, é chover no molhado. Noticiários semanalmente divulgam o aumento da taxa de desemprego, o fechamento de lojas (só as Casas Bahia e Ponto Frio fecharam 31 lojas no terceiro trimestre) e os saques de dinheiro da poupança. Tempos difíceis.
No meio desta maré baixa, no entanto, existem setores da economia nos quais a situação é bem diferente. Um destes exemplos é o da energia eólica. Contando com a ajuda das condições geográficas e climáticas do país, o setor tem um potencial para gerar até 140 GW - cerca de 10 usinas Itaipu, a segunda maior hidrelétrica do mundo. Até 2015 o setor já instalou 281 parque eólicos, principalmente nas regiões Sul e Nordeste e, se tudo correr como planejado, o Brasil chegará ao final do ano como o 5º maior gerador de energia eólica no mundo.
O setor de energia eólica teve início em 2002, com o programa PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Eólica), através do qual o Ministério das Minas e Energia (MME) incentivou a construção dos primeiros parques eólicos. Em 2005 havia uma capacidade instalada de geração eólica de 25 MW. Atualmente o Brasil tem 7,07 GW instalados (um aumento de 280 vezes!) e mais 10,70 GW estão em construção. Até 2020 a energia eólica será a segunda maior fonte energética do país, depois das hidrelétricas. O MME prevê que até 2030 20% da eletricidade consumida na país virá das energias renováveis (sem contar as hidrelétricas), gerada principalmente pelos parque eólicos.
Foi o desenvolvimento de novas tecnologias, medições de vento mais exatas e o aprimoramento da engenharia financeira que fizeram com que caíssem os custos de instalação de parques eólicos. Outro aspecto da evolução deste mercado foi a introdução de leilões para compra de energia pelo Estado, fomentando a competição entre as empresas.O primeiro leilão, convocado pelo MME, foi realizado em 2009. De lá para cá o país realizou um total de cinco leilões, somente para energia eólica. Estes fatores tiveram um forte impacto na redução dos preços da energia gerada. Em 2002 o custo da energia eólica era de R$ 374,00 por Megawatt hora (MW/h), enquanto que a energia hidrelétrica custava R$ 100,00 por MW/h. Em 2011 o MW/h da energia eólica foi comercializado a R$ 100,00 - quase o mesmo preço da energia hidrelétrica, cuja instalação leva muito mais tempo.
O desenvolvimento do setor de eólica está a pleno vapor, devendo crescer em média 30% ao ano, durante os próximos anos. Em 2014 foram investidos cerca de R$ 18 bilhões neste mercado e em 2015 o setor deverá gerar 35 mil postos de trabalho, que até 2019 aumentarão para 150 mil. Até lá espera-se que a capacidade de geração instalada chegue aos 18 GW. A energia eólica é exemplo para outros segmentos da economia brasileira. Ao invés de continuar dependendo de incentivos do Estado, o setor investiu em inovação e pesquisa, aprimorou seus instrumentos de financiamento e, através da livre concorrência, alcançou um rápido crescimento. Empresários e governo deveriam estudar este "caso de sucesso" com mais atenção e descobrir maneiras de aplicar os seus princípios a outros setores. Esta é, com certeza, uma maneira de modernizarmos outros setores da nossa economia e voltarmos a crescer.
(Imagens: fotografias de José Medeiros)

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