"Assim, o ceticismo não pretende que os seus argumentos destrutivos sejam realmente conclusivos - pretendê-lo seria um dogmatismo às avessas -, mas procura apenas mostrar que eles são equiparáveis, em força argumentativa, aos argumentos das filosofias 'dogmáticas' e a quantos se podem construir em defesa de formulações assertivas quaisquer. Assim, por exemplo, em face dos argumentos 'dogmáticos' aparentemente plausíveis em favor da existência de um critério de verdade, os céticos desenvolverão contra-argumentos que parecerão igualmente plausíveis, sem pretender que sejam verdadeiros ou mais verdadeiros que seus contrários." - Oswaldo Porchat Pereira - Rumo ao ceticismo
O Brasil sempre foi considerado um país da
fartura. Os primeiros colonizadores portugueses quando aqui chegaram, ficaram
admirados ao verem a diversidade de plantas e animais. Pero Vaz de Caminha,
escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, escreveu na célebre "Carta do
achamento do Brasil" que "Andamos
por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há
muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e comemos
muitos deles." Em outro trecho do documento a ser encaminhado ao rei,
Caminha relata como viviam os índios: "Eles
não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou
qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem
senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a
terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios
que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos."
A comida e a água na terra na recentemente
descoberta Ilha de Santa Cruz, eram abundantes. Diferente da pátria que ficou
para trás, onde a terra não era mais tão fértil e as safras de trigo eram
perdidas por falta de chuva ou pelo frio. A partir das primeiras décadas de
colonização criou-se o mito da terra fértil, com recursos abundantes prontos
para serem explorados. A exploração do pau-brasil nas matas do litoral (século
XVI), o plantio da cana de açúcar com mão de obra escrava (séc. XVII) e a
extração de ouro em Minas Gerais (séc. XVIII), refletem aspectos desta
mentalidade.
Esta visão exploratória começou cedo sua
história no Brasil. Os bandeirantes foram os primeiros que com parcos recursos
materiais e humanos, ingressavam nos sertões à procura de riquezas - índios e
pedras precisas -, sendo muitas vezes bem sucedidos. Tornaram-se, junto com os
senhores de engenho do Nordeste, as primeiras elites econômicas e políticas da
colônia. Mais tarde, esta mentalidade também foi fortalecida pelas atitudes dos
funcionários do reino e pelos investidores. Vindos de Portugal, os primeiros
queriam amealhar pequenas fortunas, para voltar à metrópole em melhor situação
social. Os segundos, planejavam multiplicar seus investimentos, aplicando seus
recursos em empreendimentos de lucro fácil e rápido, como o tráfico negreiro e
a mineração. O tempo passou, o Brasil se tornou independente de Portugal, mas
permaneceu no arquétipo da cultura colonial brasileira a componente
exploratória, visando o lucro imediato.
A história recente do Brasil continua
mostrando que a exploração com objetivo de lucro fácil e rápido, destruindo e
extraindo recursos até a exaustão, ainda faz parte do inconsciente cultural
brasileiro.
(Imagens: pinturas de Rubem Ludolf)
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