"No mundo inteiro, cerca de metade da produção de grãos é utilizada para alimentar animais." - Alan Weisman - Contagem regressiva
Publicada em 2010 no final do governo Lula, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi celebrada como solução para a questão da destinação de resíduos no Brasil. O projeto de lei original é de 1992 e por muitos anos permaneceu no Congresso esperando aprovação. Prevista para entrar em vigor a partir de 2014, teve sua validade prorrogada pelo Congresso para 2018, já que pouquíssimos municípios teriam condições de colocar a lei em prática, por falta de recursos. Parte do setor privado mais organizado, principalmente as grandes empresas e aquelas cujos produtos têm maior impacto ambiental, já elaborou e começa a implantar práticas de gestão de resíduos, chamadas de logística reversa. No entanto, enquanto as prefeituras não organizarem sistemas de gestão - coleta, reciclagem e destinação - de seus imensos volumes de lixo, a PNRS não acontecerá na prática.
Nem mesmo a queda na geração
nacional de resíduos, que em 2016 com 78,3 milhões de toneladas geradas
diminuiu 2,04% em relação a 2015, está ajudando os municípios. A recessão
econômica, provocando a queda do consumo, fez com que na média nacional o brasileiro
produzisse 2,9% menos lixo do que em 2015, segundo a Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública (Abrelp). Mesmo assim, as prefeituras de todo o
pais, com menos recursos arrecadados, estão acumulando uma dívida de R$ 8
bilhões com empresas que prestam serviços de coleta, segundo dados da Câmara
dos Deputados. A inadimplência das prefeituras junto às empresas de coleta, fez
com que até agora o setor tivesse que dispensar 17 mil funcionários, segundo
informação da Abrelp.

Outro fato levantado por um
estudo realizado pela Abrelp em 482 municípios, cujos dados foram extrapolados
estatisticamente para todas as 5.570 cidades brasileiras, é que vem aumentando
o número de administrações municipais que passaram a usar lixões para destinar
os resíduos urbanos. Segundo dados da associação, em 2016 havia 2.239 cidades
que dispunham de aterro sanitário; 1.772 tinham aterro controlado e 1559
utilizavam o lixão. O estudo revela que 81 mil toneladas diárias de lixo são
depositadas em locais inadequados e que também não houve um aumento da
reciclagem de materiais.
O quadro geral não permite
otimismo, já que será lenta a recuperação da economia e da arrecadação dos
municípios. A Abrelp sugere que as cidades instituam a cobrança de taxas
específicas para a gestão da limpeza municipal, a taxa do lixo. Segundo a
associação, das cidades que planejam e têm orçamento para o setor, 75% dispõem
seus resíduos urbanos de forma correta, em aterros sanitários. A solução
deveria funcionar, desde que a população perceba que os recursos estão efetivamente
sendo destinados à implantação de um programa de gestão de resíduos, e não para
outros fins.
(Imagens: pinturas de John Tunnard)
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