"Um dos enigmas não resolvidos da neurociência é conhecido como 'o problema da integração': como o cérebro é capaz de produzir um só quadro unificado do mundo, uma vez que a visão é processada em uma região, a audição em outra, o tato em uma terceira e assim por diante." - David Eagleman - Cérebro, uma biografia
As
ervas daninhas são espécies vegetais diferentes das cultivadas e com elas
competem pela luz, água, solo e adubo, comprometendo parte ou toda a colheita
da espécie cultivada. Estas ervas aparecem de diversas maneiras: podem estar
inertes no solo aguardando condições propícias para germinar ou ter suas
sementes trazidas por pássaros, pelo vento ou pela água; por vezes chegam
misturadas às sementes a serem plantadas ou podem ser espalhadas por pessoas,
animais ou equipamentos (tratores, colheitadeiras) em seu deslocamento. Enfim,
é muito difícil encontrar uma cultura sem nenhum tipo de erva daninha.
O
método mais antigo de combate às ervas daninhas era a associação da capina com
a monda - o arranque manual. Esta situação persistiu até quando os primeiros
cultivadores de tração animal e depois mecânica passaram a ser usados na
agricultura. No início do século XX tem início a utilização de substâncias
químicas, mais tarde classificadas como herbicidas, no combate às ervas
daninhas. Nessa época, pesquisadores nos Estados Unidos, na França e na
Alemanha, começaram usando sais de cobre e depois o ácido sulfúrico para o
combate destas intrusas. O primeiro marco no uso moderno de um produto químico
para estes fins na agricultura ocorreu em 1941, como a síntese do 2,4 D, o
ácido 2,4 diclorofenoxiacético. Nos anos 1960 e 1970 com o
surgimento da Revolução Verde, que visava aumentar a produção agrícola através
da mecanização, adubação química, seleção de sementes e uso de pesticidas
(inseticidas, fungicidas e herbicidas), o combate às ervas daninhas se tornou
mais eficiente.
A
fórmula deu tão certo que a monocultura intensiva expandiu-se rapidamente em
países com amplas extensões de terra ainda agricultáveis, como o Brasil,
Estados Unidos, Argentina, Austrália e Índia, entre outros. O principal
objetivo, lançado pela ONU, era aumentar a produção de alimentos para fazer
frente ao rápido crescimento da população mundial, principalmente nos países
pobres, depois da 2ª Grande Guerra. A grande demanda por produtos para a
agricultura fez com que grandes empresas do setor químico desenvolvessem novas
herbicidas, que durante décadas se mostraram bastante eficazes.
No
entanto, ao longo dos anos, diversas espécies de ervas daninhas foram
adquirindo resistência aos produtos químicos. Segundo a EMBRAPA (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o problema é mundial. 252 ervas daninhas
já se tornaram tolerantes a herbicidas atingindo 92 culturas agrícolas,
semeadas em 69 países (jornal Valor de 3/11/2017). No Brasil, as espécies que
são imunes aos herbicidas são: a buva, o capim-amargoso, azevem,
capim-pé-de-galinha, cloris e caruru. O problema já está provocando o aumento nas
despesas de produção de diversas commodities agrícolas, como a soja, por
exemplo, cujo custo poderá mais que triplicar, devido à necessidade de maior
uso de herbicidas e da queda da produtividade.
O fenômeno
é mundial, tendo sido identificado em diversos países a partir dos anos 1990.
Junto com o já conhecido impacto ambiental dos herbicidas, representa um dos
maiores desafios do setor agrícola. Agora, a maior preocupação de organismos
internacionais e governos é saber em que velocidade mais de ervas daninhas se
tornarão imunes aos herbicidas atualmente disponíveis, e qual será o impacto disso
na produção de alimentos.
(Imagens: igrejas barrocas brasileiras)
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