Microplásticos se espalham pelo meio ambiente

sábado, 6 de abril de 2019
"Definida como ontologia da atualidade, a filosofia é exercida como uma interpretação da época que dá forma a um sentido difuso acerca do sentido da existência atual, em uma certa sociedade e em um certo mundo histórico."   -   Richard Rorty   e   Gianni Vattimo   -   O futuro da religião 


Microplásticos são diminutas partículas de polietileno (PET), polipropileno (PP) e poliestireno (PS), cujo tamanho geralmente varia de 1 a 5 milímetros. Resultado da desintegração de garrafas, embalagens e todo tipo de material descartado, que por rios acaba caindo nos mares, os microplásticos estão espalhados por todos os oceanos. Nos últimos trinta anos chegaram a se formar verdadeiras ilhas flutuantes de pedaços de plástico de diversos tamanhos, envolvidos por uma “sopa” de microplásticos.

Tais materiais têm capacidade de absorver substâncias tóxicas dissolvidas na água, o que aumenta ainda mais sua periculosidade. No mar são inadvertidamente ingeridos por peixes e outras espécies – muitas vezes, dependendo do tamanho, confundidos com alimento – o que provoca morte por asfixia, formação de tumores e mal formação de órgãos internos. Além disso, parte do material em suspensão na água decanta, alcançando o fundo do oceano, onde forma uma camada que requer cerca de quatrocentos anos para se degradar.

Como se isto não bastasse, os microplásticos têm outros efeitos. Materiais como o poliéster, especialmente na forma de tecido “Fleece”, quando lavado, libera uma grande quantidade de microfibras de plástico na água. A água vai através da canalização para a estação de tratamento de esgoto, onde o efluente é depurado. As microfibras, todavia, não são retidas no processo. Passam por todas as fases de limpeza, sem que sejam removidas. São descartadas junto com a água tratada nos rios, de onde tomam seu caminho até os oceanos. Segundo dados da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, sigla em inglês) anualmente são despejados nos mares cerca de meio milhão de toneladas de microfibras; algo equivalente a 50 bilhões de garrafas de plástico.

Aumentando a demanda por roupas e outras peças fabricadas com o material, aumentará a geração de microfibras. A instituição sem fins lucrativos Ellen Mac Arthur Foundation, estima que entre 2015 e 2050 serão lançados 22 milhões de toneladas de microfibras no mares.

Os efeitos deste material sobre sistemas vivos ainda é pouco conhecido. A Organização Mundial de Saúde (OMS) constatou em um estudo a presença do microplástico em água mineral adquirida em nove diferentes países. Resíduos já apareceram em peixes, frutos do mar, cerveja, no mel e açúcar. Pesquisadores europeus já demonstraram que a exposição a plásticos de tamanho micrométrico, diminui nos fungos a capacidade de decomposição de substâncias orgânicas.

Artigo recente publicado no jornal Valor informa que empresas como a Adidas, Hennes & Mauritz (H & M) e Patagonia estão financiando pesquisas sobre como as microfibras se desprendem do tecido durante a lavagem e terminam no mar. Já se descobriu, por exemplo, que o modo como as fibras são tecidas e a maneira como é feita a lavagem, influem no processo. Constatou-se também que os tecidos de poliéster tipo Fleece dispersam 85 vezes mais fibras que os tecidos de poliéster comum.

A substituição do plástico como matéria prima na moderna indústria – se e quando surgir substituto – será feita de maneira gradual e provavelmente demandará décadas. Por enquanto, não dispomos de dados suficientes para prever os efeitos do microplástico ao meio ambiente a longo prazo.

(Imagens: pinturas de Wes Wilson)

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