"Definida como ontologia da atualidade, a filosofia é exercida como uma interpretação da época que dá forma a um sentido difuso acerca do sentido da existência atual, em uma certa sociedade e em um certo mundo histórico." - Richard Rorty e Gianni Vattimo - O futuro da religião
Microplásticos
são diminutas partículas de polietileno (PET), polipropileno (PP) e
poliestireno (PS), cujo tamanho geralmente varia de 1 a 5
milímetros. Resultado da desintegração de garrafas, embalagens e todo tipo de
material descartado, que por rios acaba caindo nos mares, os microplásticos
estão espalhados por todos os oceanos. Nos últimos trinta anos chegaram a se formar
verdadeiras ilhas flutuantes de pedaços de plástico de diversos tamanhos, envolvidos
por uma “sopa” de microplásticos.
Tais
materiais têm capacidade de absorver substâncias tóxicas dissolvidas na água, o
que aumenta ainda mais sua periculosidade. No mar são inadvertidamente
ingeridos por peixes e outras espécies – muitas vezes, dependendo do tamanho,
confundidos com alimento – o que provoca morte por asfixia, formação de tumores
e mal formação de órgãos internos. Além disso, parte do material em suspensão
na água decanta, alcançando o fundo do oceano, onde forma uma camada que requer
cerca de quatrocentos anos para se degradar.
Como
se isto não bastasse, os microplásticos têm outros efeitos. Materiais como o
poliéster, especialmente na forma de tecido “Fleece”, quando lavado, libera uma
grande quantidade de microfibras de plástico na água. A água vai através da
canalização para a estação de tratamento de esgoto, onde o efluente é depurado.
As microfibras, todavia, não são retidas no processo. Passam por todas as fases
de limpeza, sem que sejam removidas. São descartadas junto com a água tratada
nos rios, de onde tomam seu caminho até os oceanos. Segundo dados da União
Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, sigla
em inglês) anualmente são despejados nos mares cerca de meio milhão de
toneladas de microfibras; algo equivalente a 50 bilhões de garrafas de plástico.
Aumentando
a demanda por roupas e outras peças fabricadas com o material, aumentará a
geração de microfibras. A instituição sem fins lucrativos Ellen Mac Arthur
Foundation, estima que entre 2015 e 2050 serão lançados 22 milhões de toneladas
de microfibras no mares.
Os
efeitos deste material sobre sistemas vivos ainda é pouco conhecido. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) constatou em um estudo a presença do
microplástico em água mineral adquirida em nove diferentes países. Resíduos já
apareceram em peixes, frutos do mar, cerveja, no mel e açúcar. Pesquisadores
europeus já demonstraram que a exposição a plásticos de tamanho micrométrico,
diminui nos fungos a capacidade de decomposição de substâncias orgânicas.
Artigo
recente publicado no jornal Valor informa que empresas como a Adidas, Hennes
& Mauritz (H & M) e Patagonia estão financiando pesquisas sobre como as
microfibras se desprendem do tecido durante a lavagem e terminam no mar. Já se
descobriu, por exemplo, que o modo como as fibras são tecidas e a maneira como
é feita a lavagem, influem no processo. Constatou-se também que os tecidos de
poliéster tipo Fleece dispersam 85 vezes mais fibras que os tecidos de
poliéster comum.
A
substituição do plástico como matéria prima na moderna indústria – se e quando
surgir substituto – será feita de maneira gradual e provavelmente demandará
décadas. Por enquanto, não dispomos de dados suficientes para prever os efeitos
do microplástico ao meio ambiente a longo prazo.
(Imagens: pinturas de Wes Wilson)
0 comments:
Postar um comentário