O
setor da cultura no Brasil passa por uma grande crise. Desde o governo Dilma,
pressionado pela desaceleração da economia, o Ministério da Cultura vinha
diminuindo o custeio de atividades e projetos na área cultural. Temer, em seu mandato
tampão, apenas deu sequência à contenção destes recursos, o que aprofundou mais
ainda a crise.
No
governo Bolsonaro, o desmonte foi bem maior. A começar pelo fato de que o
Ministério da Cultura deixou de existir, tornando-se uma secretaria – subordinada,
depois de idas e vindas, ao Ministério do Turismo. Sujeita a pressões de
diversos tipos, a Secretaria da Cultura teve, até o momento (fevereiro de 2021),
cinco secretários contando o atual, o ator Mario Frias.
Subordinada
inicialmente ao Ministério da Cidadania, a Secretaria Especial de Cultura teve
como primeiro secretário o jornalista gaúcho Henrique Pires, que pediu
demissão, após ficar nove meses no cargo. Pires foi substituído por Ricardo
Braga, um profissional do ramo das finanças, pouco ligado à cultura. Dois meses
após assumir, Braga deixou o posto. Logo em seguida, o presidente Bolsonaro
transferiu a Secretaria da Cultura para a alçada do Ministério do Turismo,
então comandado pelo deputado Marcelo Álvaro Antônio.
Nesta nova situação, assumiu o comando da secretaria o diretor de teatro Roberto Alvim, que teve uma permanência curta no cargo. Foi exonerado após fazer um discurso com referências ao nazismo e ao seu chefe de propaganda, Joseph Goebbels (1897-1945). Após a saída de Alvim, o governo convidou para a posição a ex-atriz Regina Duarte, que se tornaria a quarta secretária da pasta, num período de pouco mais de um ano de governo. A secretária deixou o cargo passados dois meses, dando declarações que minimizavam a pandemia de Covid e o período da ditadura militar. Em 23 de junho de 2020, toma posse o quinto e atual secretário, o ex-ator global Mario Frias.
Ao
longo desta tumultuada sucessão de secretários entre 2019 e 2020, alguns dos
quais sem qualquer experiência em posições de comando no ramo da cultura, houve
bastante tempo para que se perpetrasse uma verdadeira destruição na área da
cultura. Além da redução ou eliminação de incentivos para exposições culturais de todo o tipo e
festivais de cinema, redução do teto de captação de incentivos da Lei Rouanet,
a Secretaria de Cultura também promoveu cortes em diversas áreas em 2020;
Funarte (Fundação Nacional de Artes): corte de R$ 13,5 milhão de reais; Biblioteca
Nacional: R$ 11,7 milhões; Ibam (Instituto Brasileiro de Museus): R$ 10,4 milhões.
No cômputo geral, houve uma redução no volume de recursos para a pasta: de R$
11,6 bilhões em 2020, para R$ 2,5 bilhões em 2021 – cerca de 78%.
Há
que se considerar que o país vive uma grande crise econômica, aprofundada por
causa da sindemia do Covid-19. Mesmo assim, no entanto, sabe-se que o governo
Bolsonaro não é um incentivador da cultura – por motivos ideológicos,
ressentimento anti-intelectual e influência religiosa – e tampouco da educação.
Neste ano de 2021 a verba prevista para a Educação seria menor do que a do
Ministério da Defesa. Frente aos protestos de políticos e de entidades da
sociedade civil, o governo decidiu recuar, aumentando os recursos destinados à
pasta da Educação. Nas universidade e institutos federais, porém, o corte para
2021 será de R$ 1,4 bilhão.
Nos
próprios centros urbanos mais abastados, as capitais, por exemplo, o incentivo
à cultura limita-se às regiões centrais e aos bairros de maior poder
aquisitivo. Na periferia são poucos os aparelhos culturais, onde os moradores
possam ter acesso, praticar ou produzir cultura. A cultura dita popular,
desenvolve-se graças às iniciativas de grupos organizados, muitos dos quais não
recebem qualquer apoio do Estado.
A
cultura, seu estudo, sua prática e sua criação, constitui a base sobre a qual
se apoia a identidade de uma sociedade, de um povo. Por isso, é imperativo que tais
atividades relacionadas à cultura sejam incentivadas e divulgadas através de
políticas públicas.
(Imagens: pinturas dos irmãos Le Nain)
0 comments:
Postar um comentário