No
Brasil de nossos dias, coloca-se a pergunta: quem ainda se preocupa com a
situação ambiental? À parte os profissionais que há muitos anos vêm atuando
neste setor – trabalhando para o setor privado, para órgãos do governo ou
organizações do terceiro setor –, a preocupação com o meio ambiente e a
preservação dos recursos naturais diminuiu mais ainda ao longo dos anos mais
recentes. Mesmo a imprensa e TV, que tradicionalmente mantinham jornalistas ou
até departamentos cobrindo o tema, reduziram suas matérias sobre o assunto ao
mínimo. Apenas em datas especiais, como o Dia Mundial do Meio Ambiente, o Dia
da Mata Atlântica ou o Dia da Terra, publicam e veiculam-se notícias e
reportagens, muitas vezes atualizando apenas dados de edições anteriores.
Menção honrosa à TV Cultura, que ao longo dos anos continua mantendo seu
programa Repórter Eco e à GNT, com o Cidades e Soluções.
Somos obrigados, novamente, a desfiar o rosário de motivos que, a nosso ver, colocam a questão ambiental entre as mais remotas prioridades da sociedade brasileira. Começamos pela crise econômica, que desta vez afeta país desde 2016 (ao longo de sua história o Brasil é frequentemente acometido pela instabilidade econômica). A sindemia da Covid-19, associada a uma gestão inábil e ideologizada da economia, fizeram com que a vulnerabilidade da economia brasileira se aprofundasse mais ainda. Se a preocupação fundamental da maior parte da população brasileira é com a manutenção do emprego ou – o que cada vez se torna mais comum – com a alimentação nos próximos dias, é compreensível que o meio ambiente não seja prioridade.
Já ficou famoso no mercado ambiental a máxima que diz “quando as finanças estão no vermelho, o entusiasmo pelo verde desaparece.” A atenção às questões ambientais e sociais – a “responsabilidade ambiental e social corporativa” – fez relativo sucesso nos setores progressistas do empresariado brasileiro entre 2005 e 2015. A economia crescia, os caixas das grandes empresas transnacionais e nacionais estavam altos e sobravam recursos para investimentos na implantação de programas de gestão ambiental, projetos sociais, investimentos em inovação, etc. Tudo que contribuísse para incrementar a imagem da empresa perante os consumidores, acionistas e a opinião pública em geral. Enquanto isso o governo brasileiro, durante os mandatos presidenciais de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, procurou acompanhar uma tendência mundial de valorização das questões ambientais. Redução de emissões de gases de efeito estufa e todo o seu corolário tecnológico, como o uso de energias renováveis, redução de emissões veiculares, redução do desmatamento, entre outros, foram bastante incentivados.
Se,
por um lado, a falta geral de recursos diminuiu ou acabou com o frágil ímpeto
conservacionista da maioria das empresas, os governos consecutivos de Michel Temer
e Jair Bolsonaro pouco se preocuparam ou até se posicionaram contra temas
ambientais. No entanto, é a administração federal, que por deter a maior parte
dos recursos para desenvolver e implantar políticas ambientais, seja na
elaboração de projetos ou em ações de comando e controle, que tem a função de
conduzir a questão ambiental do país.
Como
o país poderá reverter esta situação de atraso na área ambiental, se ainda
continuamos nos debatendo com coisas básicas, como o saneamento, a gestão dos
resíduos e a proteção de áreas naturais remanescentes? Se o Congresso acabou de aprovar um projeto, agora em análise no Senado, que flexibiliza completamente o processo de licenciamento ambiental de empreendimentos, dificultando ainda mais o controle da sociedade sobre atividades potencialmente poluidoras? Isto sem falar na
redução de emissões de gases de efeito estufa, na eficiência energética ou na adaptação
de nosso parque industrial a padrões ambientais mais modernos. É preciso que
volte urgentemente a preocupação com a questão ambiental, sob risco de, também nessa área, caminharmos definitivamente para o passado - talvez sem volta.
(Imagens: pinturas de Gertrude Abercrombie)
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