“Quando
as grandes secas de 1879-1880, 1889-1890, 1900-1901 flamejavam sobre os sertões
adustos, e as cidades do litoral se enchiam em poucas semanas de uma população
adventícia de famintos assombrosos, devorados das febres e das bexigas – a preocupação
exclusiva dos poderes públicos consistia no libertá-las quando antes das
invasões de bárbaros moribundos que infestavam o Brasil. Abarrotavam-se, às
carreiras, os vapores, com aqueles fardos agitantes consignados à morte.
Mandavam-nos para a Amazônia – vastíssima, despovoada, quase ignota – o que
equivalia a expatriá-los dentro da própria pátria. A multidão martirizada,
perdidos todos os direitos, rotos os laços de família, que se fracionava no
tumulto dos embarques acelerados, partia para aquelas bandas levando uma carta
de prego para o desconhecido; e ia, com os seus famintos, os seus febrentos e os
seus variolosos, em condições de malignar e corromper as localidades mais salubres
do mundo. Mas feita a tarefa expurgatória, não se curava mais dela. Cessava a
intervenção governamental. Nunca, até os nossos dias, a acompanhou um só agente
oficial ou um médico. Os banidos levavam a missão doloríssima e única de
desaparecerem.” (Cunha, pág. 49).
Euclides da Cunha, À margem da história
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