“Talvez
os bem escolarizados tenham se tornado menos taxativos em relação a projetos de
futuro. Mas uma massa de frustrados, que por conta de quarenta anos de
neoliberalismo não conseguiu uma boa escolarização, perdeu o contato com o
pensamento crítico. Essas pessoas são arrogantes. Até os anos 1970, as pessoas
que não tinham estudo em determinada área pensavam duas vezes antes de falar
qualquer coisa sobre ela. Hoje, a ideia de que cada um pode dizer o que quiser,
tendo como referência a si mesmo, conquistou muita gente. Muitos perderam a
vergonha de serem estúpidos, uma vez que houve certa democratização da
ignorância.
Essa
opinião tem lá sua força. Tornou-se icônica quando o romancista e teórico da
semiótica Umberto Eco a resumiu em uma frase, um ano antes de seu falecimento
em 2016: ‘As redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis. […]
Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o
mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel’. Hoje, penso que essa opinião de
Eco é fácil demais de ser proferida e pouco contribui em nossas investigações
sobre produção de conhecimento e socialização do saber na atualidade. Outros
movimentos de democratização da voz popular já receberam reação semelhante,
desde a Antiguidade. Creio que temos de ir além desse lamento. Uma investigação
em psicologia política se faz necessária. Hoje, estamos envolvidos com certos
fenômenos específicos, gerados pela direita política, e que Eco certamente
chamaria de imbecilização.” (Ghiraldelli, págs 21-22)
Paulo Ghiraldelli, Subjetividade maquínica
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