“O
principal problema das discussões sobre o livre-arbítrio é que os filósofos
propuseram muitas definições que nada têm a ver com o que os não filósofos
entendem que seja o livre-arbítrio. Estou tentada a escrever “pessoas normais”
em vez de “não filósofos”, mas isso pode ser um pouco hostil. E não quero ser
hostil. Realmente não. Por esta razão, gostaria de formular primeiro o problema
sem usar o termo livre arbítrio.
As
leis da natureza atualmente válidas são determinísticas, mas contêm um elemento
de acaso da mecânica quântica. Isto significa que, à parte eventos quânticos
ocasionais que não podemos influenciar, o futuro é fixo. Isso também não muda
em nada a Teoria do Caos. As leis do caos ainda são determinísticas; são
difíceis de prever porque o que acontece depende muito sensivelmente das
condições iniciais (o bater das asas de uma borboleta e assim por diante).”
(Hossenfelder pag. 167)
“Portanto a nossa vida não é, como diz Jorge Luis Borges, um “jardim de caminhos que se ramificam” em que cada caminho corresponde a um futuro possível e onde cabe a nós decidir qual caminho se torna realidade. Não é assim que as leis da natureza funcionam. Na maioria dos casos, só existe um caminho, já que os efeitos quânticos raramente se manifestam macroscopicamente. Tuas ações feitas hoje surgem do estado do universo de ontem, que por sua vez surge do estado do universo da última quarta-feira, e assim por diante, até o Big Bang. Mas às vezes eventos quânticos aleatórios fazem uma grande diferença na vida. Lembre-se do caso da pesquisadora (mencionado anteriormente no texto) que poderia ter se envolvido em um acidente de trânsito, dependendo de onde uma partícula aparecesse na tela de seu monitor?
De
vez em quando os caminhos se bifurcam, mas não temos influência sobre isso.
Eventos quânticos são fundamentalmente aleatórios e acontecerão influenciados por nada nem por ninguém, muito menos pelos nossos pensamentos.” (Hossenfelder,
pag. 168)
“Como
prometido, não usei o termo livre arbítrio para explicar a situação. Vamos
agora discutir o que significa dizer que o futuro é fixo, exceto no caso de
eventos quânticos ocasionais, os quais não podemos influenciar. Pessoalmente,
eu diria apenas: significa que não existe livre arbítrio e deixaria o assunto
por aí. Sinto-me fortalecida, porque a ideia do livre arbítrio é em si
contraditória, como demonstraram muitos pensadores mais sábios do que eu. Para
que a vontade seja livre, ela não deveria ser causada por nada. Mas se não foi
causada por nada – se for uma “causa não causada”, como disse (o filósofo)
Friedrich Nietzsche – então também não foi causada por você, independentemente
do que exatamente você quer dizer com “você” (seu self). Como resumiu
Nietzsche, esta é “a melhor autocontradição já concebida”. Concordo com
Nietzsche nisso.” (Hossenfelder, pag. 169).
Sabine Hossenfelder, Mais do que só átomos: O que a física revela sobre o mundo e a vida (original alemão Mehr als nur Atome: Was die Physik über die Welt und das Leben verrät)
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