“Platão
era notoriamente hostil à arte. Como teórico político tinha medo da força
emocional irracional das artes; sua força para dizer mentiras atrativas ou
verdades subversivas. Era a favor de uma rígida censura e queria banir os
dramaturgos do Estado ideal. Também tinha medo dos artistas em si. Ele era um
homem muito religioso e sentia que a arte era hostil à religião assim como à
filosofia: a arte era um tipo de substituto egoísta à disciplina da religião. O
paradoxo é que a obra de Platão é grande arte, em um sentido que ele não
reconhecia teoricamente. O filósofo dizia existir uma velha querela entre a
filosofia e a poesia e nós precisamos lembrar de que no tempo de Platão a
filosofia, como a conhecemos, estava emergindo de todo tipo de poesia e
especulação teológica. A filosofia faz progressos por se definir como não sendo
algo diferente (do que é): no tempo de Platão separou-se da literatura, no
século XVII e XVIII das ciências naturais, no século XX da psicologia.”
(Murdoch, pág. 13).
Iris Murdoch (1919-1999) filósofa e novelista britânica em Existencialistas e Místicos – Textos sobre filosofia e literatura (Existentialists and Mystics – Writings on philosophy and literature – tradução de Ricardo E. Rose)
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