“Terra,
Deus e Verdade pertencem ao mundo do camponês. Hoje não somos mais camponeses,
mas sim caçadores. Em busca das presas, os caçadores de informação rondam pela
rede como por um campo de caça digital. Diferentemente do camponês, ele são
móveis. Nenhum campo de cultivo os obriga a se assentar. Eles não habitam. O ser humano na era das
máquinas ainda não está completamente liberto do habitus [‘hábito’] do camponês na medida em que ele ainda está
ligado à máquina como seu novo senhor. Ela o obriga a funcionar passivamente. O trabalhador retorna à máquina como o
servo retorna ao senhor. A máquina fornece o centro de seu mundo. A mídia
digital produz uma nova tipologia do trabalho. O trabalho digital ocupa o
centro. Dito mais exatamente, não há mais aqui nenhum centro. O usuário e seu
aparato digital formam, muito antes, uma unidade. Os novos caçadores não
funcionam passivamente como parte de uma máquina, mas sim operam ativamente com seus aparatos móveis digitais, que se
chamavam, no paleolítico, de lanças, arcos e flechas. Eles não se encontram, ao
fazê-lo, em perigo, pois caçam por informação com o mouse. Nisso eles se distinguem dos caçadores do paleolítico.”
Byung-Chul Han (1959-) filósofo sul-coreano em No Enxame – Perspectivas do Digital
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