Byung-Chul Han

terça-feira, 24 de junho de 2025


 

“Terra, Deus e Verdade pertencem ao mundo do camponês. Hoje não somos mais camponeses, mas sim caçadores. Em busca das presas, os caçadores de informação rondam pela rede como por um campo de caça digital. Diferentemente do camponês, ele são móveis. Nenhum campo de cultivo os obriga a se assentar. Eles não habitam. O ser humano na era das máquinas ainda não está completamente liberto do habitus [‘hábito’] do camponês na medida em que ele ainda está ligado à máquina como seu novo senhor. Ela o obriga a funcionar passivamente. O trabalhador retorna à máquina como o servo retorna ao senhor. A máquina fornece o centro de seu mundo. A mídia digital produz uma nova tipologia do trabalho. O trabalho digital ocupa o centro. Dito mais exatamente, não há mais aqui nenhum centro. O usuário e seu aparato digital formam, muito antes, uma unidade. Os novos caçadores não funcionam passivamente como parte de uma máquina, mas sim operam ativamente com seus aparatos móveis digitais, que se chamavam, no paleolítico, de lanças, arcos e flechas. Eles não se encontram, ao fazê-lo, em perigo, pois caçam por informação com o mouse. Nisso eles se distinguem dos caçadores do paleolítico.”

 

Byung-Chul Han (1959-) filósofo sul-coreano em No Enxame – Perspectivas do Digital

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