"Cada organismo individual deveria ser visto como um veículo temporário, no qual as mensagens de DNA passam uma minúscula fração de seu tempo de vida geológico" - Richard Dawkins - O relojoeiro cego
O Brasil ainda tem grandes problemas sociais. Em seu último Censo, o IBGE constatou que existem 16,2 milhões de brasileiros – 8,5% da população – vivendo em estado de extrema pobreza. Destes, 4,8 milhões não dispõem de renda alguma e 11,4 milhões tem rendimento per capita mensal de R$ 1 a R$ 70. Outro dado levantado é que a maioria das pessoas que vivem nesta situação é negra ou parda, formada por jovens, que vivem na região Nordeste – região que concentra 60% dos extremamente pobres (9,61 milhões de pessoas). Para chegar a estes dados o IBGE levou em consideração diversos fatores além da renda; como acesso a água e esgoto, energia elétrica, disponibilidade de banheiros nas casas, existência de analfabetos e idosos nas famílias entrevistadas, entre outros.
Os dados do Censo servirão como subsídio para o programa instituído pelo governo “Brasil sem Miséria”, que planeja erradicar a miséria extrema até 2014. O plano deve combinar políticas de transferência de renda e capacitação profissional com a ampliação dos serviços oferecidos pelo Estado. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Teresa Campello comentou a respeito do programa: “Não se trata de novos programas, mas um olhar para esse público. Não vamos fazer um chamamento, mas garantir que o Estado chegue a esta população”.
A iniciativa é louvável e premente. Não é mais aceitável que na sétima economia do mundo ainda 8,5% da população seja formada por miseráveis. A pesquisa do Censo, no entanto, ainda identificou diversos outros problemas que denunciam um passado concentrador de renda e de falta de políticas públicas no país. Além dos problemas de saneamento ainda não resolvidos – e que se dependerem do PAC ainda persistirão por décadas – o país ainda tem problemas mais graves. Para permanecermos apenas na área de saneamento, o Censo constatou que existem 3.562.671 residências no Brasil que não dispõem de banheiro, o que representa 6,2% das casas do país. É no Nordeste que se concentram a maioria das residências sem instalações sanitárias; 2.257.051 moradias, que representam 63.3% do total.
Mais um dado preocupante encontrado pelo IBGE diz respeito à disponibilidade de luz elétrica. O Censo descobriu que ainda existem 728.512 domicílios sem luz elétrica, a maioria deles nas regiões Norte e Nordeste. Além disso, existem 550.612 residências que não tem luz, mas estão ligadas irregularmente à rede elétrica, caracterizando o famoso “gato”. Só no Estado do Rio de Janeiro ficam mais 65 mil moradias ligadas clandestinamente aos fios da rede elétrica. A empresa distribuidora Light, que opera no Estado do Rio, calcula que as perdas com este tipo de ligação ultrapassaram os 5,3 mil gigawatts (GWh), o que equivaleria à produção anual da usina Angra I.
O Censo também revelou que existem 132.033 domicílios que são chefiados por crianças entre 10 e 14 anos. O fato é uma evidência de que ainda existe muito trabalho infantil, que em milhares de famílias é a principal fonte de renda.
Depois do exagerado ufanismo do último governo, é hora de por os pés no chão. O resultado do Censo deve ser tema para debates e tomada de consciência para toda a sociedade; para o governo e, principalmente, para o legislativo.
(imagens: Diego Velázquez)
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