"Nem animais nem plantas apareceram na Terra antes que as bactérias tivessem passado por pelo menos 2 bilhões de anos de evolução química e social. Para dizer a verdade, não apenas os animais e as plantas, mas até os fungos são recentes na Terra. Nem os animais nem as plantas são categorias de classificação eternas." - Lynn Margulis - O planeta simbiótico
Depois de mais de dois anos de discussões, a nova – ou mais recente – versão do Código Florestal Brasileiro (CFB) é aprovada. O processo de votação foi interrompido por várias vezes durante as últimas semanas, tal o grau de acirramento dos ânimos que vigorava entre os deputados. Mas, não é por menos. A aprovação da nova lei afeta diversos grupos de interesses no país; latifundiários, fazendeiros, agricultores familiares, ambientalistas, pecuaristas, movimentos de reforma agrária, a indústria e os investidores ligados ao agronegócio, entre os principais interessados. Além, evidentemente, de seus representantes, os deputados e senadores – muitos deles eleitos com ajuda financeira destes grupos, cujos interesses defendem.
A discussão do CFB é muito mais do que o debate sobre a preservação da vegetação e dos ecossistemas naturais, pressionados pelo avanço do agronegócio. Por trás dos discursos dos parlamentares também se descortina o choque entre dois grupos de pressão: os que defendem um desenvolvimento econômico imediatista, menos preocupado com seus impactos; e outro que advoga um crescimento econômico consciente da preservação dos recursos naturais – até para garantir a sobrevivência da agricultura durante longo prazo. O maior impacto ambiental, segundo muitos, não é provocado pelo pequeno agricultor familiar, que muitas vezes pratica a agricultura orgânica, preservando o que ainda resta de vegetação original – seja nas áreas de preservação permanente (APPs), como as margens dos rios; ou as reservas legais, nas encostas de morros. O grande vilão do desflorestamento está localizado em regiões de grandes latifúndios com largas áreas potencialmente agricultáveis – depois de derrubada a floresta ou o cerrado –, na Amazônia e no Centro-Oeste.
No outro lado ficaram, por exemplo, a Sociedade Rural Brasileira, setores do governo e diversos outros grupos com interesse na alteração do CFB. Fora do Brasil, a imprensa internacional deu grande destaque à alteração da lei, escrevendo que a mudança representava um retrocesso na política de preservação da floresta e demais biomas brasileiros – fato já apontado por diversas instituições e especialistas no Brasil.
(imagens: Edouard Manet)
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