O velho e sujo turismo no litoral

domingo, 26 de fevereiro de 2012
"Os pânicos financeiros podem mostrar-se, realmente, a mais brutal de todas as recessões, pois surgem do nada, sucedendo diretamente a um período de abundância, durante o qual tudo parecia realizável.  -  Bill Emmott  -  Visão 20:21 lições do século 20 para o novo milênio

Finalmente terminaram as férias de verão. Milhões de pessoas voltam às suas atividades regulares - insanas diriam alguns - de luta pela vida. A natureza, por seu lado, também descansará e se recuperará dos impactos ambientais a que foi submetida. Por processos naturais serão gradualmente depuradas áreas afetadas pelo lixo, os esgotos, o consumo de água e a fumaça dos veículos de milhões de turistas, que a cada início de ano veraneiam no litoral brasileiro e causam estragos enormes.
Ainda está para ser avaliado o efeito destrutivo deste tipo de turismo predatório, que em grande parte se concentra no litoral brasileiro, principalmente na região Sudeste, desde os anos 1960. A afluência de visitantes - potenciais donos de imóveis na região - tem criado demanda para a abertura de loteamentos e construção de casas, nas mais diversas condições. Por falta de uma fiscalização eficiente na maior parte das cidades, várias áreas de floresta atlântica, mangue e restinga têm sido sistematicamente destruídos - muitas vezes com o conhecimento e participação de prefeitos e vereadores (como já escrevemos nesta coluna outras vezes). Uma eventual ação de órgãos do governo estadual, como as Secretarias de Meio Ambiente, é muito difícil e improvável, já que faltam recursos – além do fato de que muitas vezes governador e prefeito serem do mesmo partido e precisarem um do apoio político do outro.
O que acontece então é o que já conhecemos: as cidades litorâneas se estendem por vários quilômetros, destruindo ecossistemas. Esgoto poluindo rios, mangues e lagoas; lixo colocado em valas sem qualquer tipo de isolamento, contaminando o solo e as águas que correm para os rios e destes para o mar. Muitas vezes este tipo destruição está longe da cidade, escondido da opinião pública e de uma eventual fiscalização; atrás de algum trecho de mata ou de mangue.
Aliás, a ilegalidade ainda é uma característica de muitos "empreendimentos" no litoral brasileiros. Corte de vegetação original em áreas de preservação; remoção da areia de praias isoladas para uso em aterros; e ocupação ilegal das partes baixas de morros; ainda são fatos corriqueiros, apesar de todo esforço da polícia florestal e de outras (poucas) autoridades responsáveis pela fiscalização de tais ecossistemas.
Exemplo disse tipo de atitude perniciosa é retratado em artigo recentemente publicado pelo jornal Folha de São Paulo. Segundo o diário, o esgoto de 31 mil casas localizadas no litoral paulista, principalmente na região Norte, não tem ligação com o sistema de coleta da Sabesp; companhia que trata os efluentes. Desta maneira, o esgoto destas residências acaba sendo descarregado em córregos e rios que deságuam no mar - muitas vezes correndo pela praia, local frequentado por banhistas. Segundo a Sabesp, um volume de cerca de 17,7 milhões de litros de esgoto ainda não tem tratamento regular. Tal fato se dá, segundo a agência, porque os proprietários não fazem a ligação do esgoto de suas residências na rede coletora, preferindo descarregar o líquido em algum córrego ou rio.
Por outro lado, falta fiscalização para forçar os proprietários deste imóveis a conectarem- se ao sistema de coleta da Sabesp. Permanece, no entanto, o fato de que este tipo de criminoso ambiental eufemisticamente ainda é chamado de turista.
(Imagens: fotos de André Kertesz)

2 comments:

Lili Rebuá disse...

Quero te parabenizar pelo post! Moro em Ubatuba e tomei a liberdade de postar o teu texto no meu blog com a devido crédito. Espero que não se importe.rs.rs...
Venha conhecer o meu blog!
Abraços!!!

Verônica disse...

Olá, tudo bem?
Adorei o site! Gostaria de entrar em contato para lhe fazer uma proposta interessante para o site.
Por favor, aguardo seu retorno.

veronica.fassoni@gmail.com
Grata, Verônica

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