O Proálcool foi o maior programa mundial de
uso de um combustível renovável - o etanol - para veículos. Lançado em 1975, seu
objetivo era reduzir as importações brasileiras de petróleo, que à época tinham
um peso considerável na balança comercial do País. A partir do final dos anos
1980, no entanto, o carro a álcool começou a se tornar economicamente inviável,
dado o aumento do preço do etanol em comparação ao da gasolina e à redução da
oferta do combustível em várias regiões. Todavia, em meados dos anos 1990, o desenvolvimento
da tecnologia bicombustível (gasolina e álcool) provocou um renascimento do
carro a álcool e de toda a sua cadeia produtiva. Em 2003 a Volkswagen lançou o
Gol 1.6 Total Flex, o primeiro carro brasileiro a operar com qualquer mistura
de combustível. Daí para frente a indústria do etanol cresceu rapidamente;
construíram-se novas destilarias, expandiu-se a cultura da cana-de-açúcar.
Falou-se até em tornar o etanol um combustível mundial, já que Índia, Estados
Unidos e outros países também passaram a investir no etanol de origem vegetal.
Atualmente a situação é bastante diferente.
Depois de amargar três safras consecutivas afetadas por problemas climáticos,
além de não poder repassar o aumento de custos para o preço do álcool, devido à
concorrência da gasolina e dos preços do açúcar estabelecidos no mercado
internacional, o setor sucroalcooleiro está em crise. O governo, querendo segurar a inflação, impediu aumentos no preço da gasolina, prejudicando a Petrobrás e penalizando indiretamente o setor sucroalcooleiro, já que o preço do etanol é atrelado ao da gasolina. Segundo
reportagem recente publicada no jornal O Estado de São Paulo, desde 2008 não
surgiu nenhum projeto de instalação de nova usina de álcool e açúcar no País.
Nos últimos cinco anos, 36 unidades produtoras entraram em recuperação judicial
e 43 foram desativadas. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), somente em 2012 o setor eliminou mais de 18
mil empregos em todo o Brasil. Um dos maiores problemas enfrentados pelos
usineiros, segundo o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar
(Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, é a indefinição da participação futura do
etanol na matriz energética brasileira. Este impasse gera mais insegurança
ainda, num setor que deve alcançar um patamar de endividamento de R$ 56 bilhões
até o final da safra 2013/2014. Segundo Rodrigues, a perspectiva de construção
de novas usinas é no País é zero. "Com essas incertezas todas, não é para
ninguém retomar o investimento".
Enquanto o setor vem se afundando em uma nova
crise de origens diversas, as exportações do combustível tiveram uma queda de
70% entre 2008 e 2011; aumentaram as importações de etanol do milho vindas dos
EUA e cresceu a desnacionalização do setor. Segundo dados da Unica, a Shell se
tornou proprietária da Cosan e da NovaAmérica; a British Petroleum (BP) comprou
a CNAA e a Tropical Bioenergia; a Bunge adquiriu o Grupo Moema; a Louis Dreyfus
tomou o Grupo Santa Elisa; o Noble Group comprou o Grupo Cerradinho, entre os
principais. Uma ironia na história de um setor que sempre foi dominado por
grupos econômicos nacionais, desde os tempos do ciclo da cana-de-açúcar no
Nordeste.
O etanol ajudou a desenvolver a indústria
brasileira e é um marco mundial na história das energias renováveis, não
poluentes. É importante que o governo crie mecanismos que deem continuidade ao
programa, sob pena de - dado o desenvolvimento de novas tecnologias - este se
tornar obsoleto.
(Imagens: fotografias de Anne Biermann)
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