O tubarão é vítima de sua própria fama.
Conhecido até o século XVI pelos marinheiros portugueses como “cão do mar”, o
peixe sempre teve má fama entre as tripulações dos barcos devido a sua agressividade.
Mas qual animal, incluindo o homem, não é agressivo quando movido pela fome? O
filme “Tubarão” de Steven Spielberg, produzido em 1975 e tendo três sequências
– “Tubarão II” (1978), “Tubarão III” (1983) e “Tubarão IV – A Vingança” (1987)
– chamou a atenção do grande público para o animal, sempre caracterizado como
uma criatura agressiva, fria e obtusa. Com esse desserviço prestado pelo cinema
de Hollywood, grande parte das pessoas passou a ver o tubarão como um terrível predador,
com especial predileção por carne humana - pelo menos nos filmes.
O tubarão é uma das espécies de peixes mais
antigas que existem, tendo surgido há aproximadamente 400 milhões de anos. No
entanto, ao longo de sua existência como espécie, os tubarões foram se
adaptando às condições mutáveis dos oceanos, desenvolvendo uma série de
capacidades físicas que fizeram com se tornassem uma das espécies mais bem-sucedidas
na história da vida sobre a Terra. O animal está dividido em 375 espécies, dos
quais a menor, o tubarão-lanterna anão, tem apenas 17 centímetros de
comprimento, enquanto a espécie de maior tamanho, o tubarão-baleia, pode
atingir 12 metros .
As espécies conhecidas como tubarão-branco, tubarão-tigre, tubarão-azul,
tubarão-mako e tubarão-martelo são superpredadores e ocupam o topo da cadeia
alimentar dos oceanos; algo parecido com os leões, tigres, ursos polares e
onças.
Ao contrário do que pensa a maioria das
pessoas, grande parte das espécies de tubarões não ataca os seres humanos. Das
375 espécies do peixe, apenas quatro estiveram envolvidas em ataques mortais a
pessoas: o tubarão-branco, o galha-branca-oceanico, o tubarão-tigre e o
tubarão-de-cabeça-chata. No entanto, a maior parte destes ataques ocorreu
quando humanos invadiram o ambiente natural do animal. A média mundial anual de
mortes provocadas por ataques de tubarões entre 2001 e 2006 foi de 4,3. O
índice é tão pequeno, que para cada pessoa morta por esses peixes por ano,
morrem outras 4.757 em acidentes de trânsito. Mesmo assim a espécie é perseguida e seus
cadáveres são orgulhosamente exibidos como troféus de grandes pescarias. Além
disso, barcos pesqueiros de diversas nacionalidades capturam e sacrificam estes
peixes, apenas para extrair-lhes as nadadeiras, apreciadas nas sopas de
barbatanas de tubarão. A matança de algumas espécies de tubarão já se tornou
tão grande, que as colocou em perigo de extinção. No final de 2012 o Ministério
da Pesca e da Aqüicultura do Brasil já havia proibido a pesca de tubarões e
raias para o comércio da barbatana.
A mesma proteção deverá beneficiar tubarões
em todo o mundo. Durante a 16ª Conferência da Convenção sobre Comércio
Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção
(Cites) a delegação brasileira conseguiu uma vitória memorável. Os delegados
brasileiros conseguiram aglutinar representantes de outros 120 países em torno
da proposta de maior controle sobre o comércio internacional de quatro espécies
de tubarão: o martelo, o galha-branca, o porbeagle e as raias-jamanta. A
matança indiscriminada destes animais somente para extrair as barbatanas, deverá
sofrer uma queda e ajudar a preservar a espécie. O ideal, no entanto, seria que se criassem áreas de proteção mais extensas nos oceanos, como já sugerido pela ONU em 2012, durante a Convenção sobre Biodiversidade.
(Imagens: fotografias de Gianni Galassi)
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