"É verdade, não temos mais ideia da angústia que se apoderou dos homens do Renascimento quando começaram a pressentir que o mundo não era mais um casulo, nem uma casa, que ele não era mais habitável." - Luc Ferry - Aprendendo a viver - Filosofia para os novos tempos
O filósofo e matemático francês René
Descartes (1596-1650) foi o fundador da filosofia moderna. Se, na Antiguidade,
a filosofia como disciplina organizada teve início com Platão (427-347 A .C.), a filosofia
moderna foi estruturada pelo pensador francês. Alfred North Whitehead
(1861-1947), filósofo e matemático inglês, escreveu que toda a filosofia era
apenas nota de rodapé ao pensamento de Platão. Da mesma forma, referindo-se a
Descartes registrou que “a história da filosofia moderna é a história do
desenvolvimento do cartesianismo em seu duplo aspecto, de idealismo e
mecanicismo”.
Descartes teve uma educação esmerada, tendo
frequentando uma das melhores escolas de sua época, conduzida pela jesuítas.
Sendo de origem nobre, teve recursos financeiros para acessar a maior parte do conhecimento
disponível a sua época. Em linguagem atual pode-se dizer que Descartes, além de
muito inteligente, era um dos mais capacitados intelectuais de seu tempo. Além
disso, teve oportunidade para viajar pela Europa, conhecendo outros povos,
culturas e costumes, o que contribuiu para lhe dar uma mentalidade mais aberta
e, principalmente, inquiridora.
Além disso, havia todo um novo ambiente
intelectual na Europa na qual Descartes circulava. A filosofia ainda dominante
à época, bastante influenciada pelo tomismo, não tinha mais como incorporar
todas as novas descobertas das ciências físicas e matemáticas. A invenção de
novos instrumentos científicos, como o telescópio ou o microscópio, abrindo
novas fronteiras no espaço imenso e diminuto, requeriam urgentemente uma nova
filosofia que justificasse a confiança na razão. Reale e Antiseri escrevem que
“só era possível opor ao ceticismo desagregador uma razão metafisicamente
fundada, capaz de se sustentar na busca da verdade, e um método universal e
fecundo.”
Influenciado pela nova física de Galileu, Descartes desenvolveu um pensamento fundado em novos pressupostos, baseado no pensamento matemático. A metafísica de Descartes teve grande peso em todo o pensamento filosófico posterior, pois conseguiu interpretar os resultados da ciência de sua época, também influenciando toda a ciência posterior com seu mecanicismo. Como escreve Descartes em seus Princípios de filosofia “toda a filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a metafísica, o tronco é a metafísica e os ramos que procedem do tronco são todas as outras ciências”.
Influenciado pela nova física de Galileu, Descartes desenvolveu um pensamento fundado em novos pressupostos, baseado no pensamento matemático. A metafísica de Descartes teve grande peso em todo o pensamento filosófico posterior, pois conseguiu interpretar os resultados da ciência de sua época, também influenciando toda a ciência posterior com seu mecanicismo. Como escreve Descartes em seus Princípios de filosofia “toda a filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a metafísica, o tronco é a metafísica e os ramos que procedem do tronco são todas as outras ciências”.
Para apreender e explicar o mundo Descartes
precisava de um método, uma metodologia de pensamento para avaliar as
informações, julgá-las e a partir delas estabelecer um sistema de pensamento
que pudesse interpretar a realidade de uma forma racional. Escreve Descartes:
“O método consiste na ordem e na disposição
das coisas, para as quais é preciso direcionar as forças do espírito para se
descobrir alguma verdade. Nós o estaremos seguindo exatamente se reduzirmos
gradualmente as proposições complicadas e obscuras às mais simples e se, em
seguida, partindo das intuições das mais simples, procurarmos nos elevar pelos
mesmos degraus ao conhecimento de todas as outras” (DESCARTES apud Reale e Antiseri).
Ao desenvolver seu método Descartes não faz
uma divisão entre a filosofia e a ciência. Mais importante que tudo, é
desenvolver um método que lhe traga segurança nos raciocínios posteriores, seja
em seus trabalhos de matemática, quanto de filosofia. Em seu Discurso sobre o método, Descartes
estabelece quatro regras, que conforme o filósofo são “regras certas e fáceis que, sendo
observadas exatamente por quem quer que seja, tornem impossível tomar o falso
por verdadeiro e, sem qualquer esforço mental inútil, mas aumentando sempre
gradualmente a ciência, levem ao conhecimento verdadeiro de tudo o que se é
capaz de conhecer” (Ibidem, p. 361).
A primeira regra é a da evidência,
enunciada da seguinte maneira por Descartes: “Não se deve acatar nunca como
verdadeiro aquilo que não se reconhece ser tal pela evidência”, ou seja, evitar
juízos apressados sobre aquilo de que não se tem certeza.
A segunda regra é a de “dividir cada
problema que se estuda em tantas partes menores quantas for possível e
necessário para melhor resolvê-lo”. Trata-se de uma regra que hoje nos parece
evidente, sendo usada na pesquisa científica, na administração de empresas e em
diversos setores da economia moderna. No início dos tempos modernos, à época de
Descartes, o método era revolucionário.
Como terceira regra, Descartes estabeleceu
“conduzir com ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e
mais fáceis de conhecer, para elevar-se pouco a pouco, como por degraus, até o
conhecimento dos mais complexos.” A última e quarta regra do método cartesiano
é a “de fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais a ponto de
se ficar seguro de não ter omitido nada.”
O método cartesiano serviu como base para
toda a filosofia e metafísica posterior. A validade ou não do argumento da
certeza fundamental – o cogito ergo sum –
e a prova da existência de Deus como seu corolário, são pontos que no estágio
atual do desenvolvimento da filosofia não são mais decisivos. O principal
legado de Descartes, a nosso ver, foi ter colocado as bases para o
desenvolvimento do moderno pensamento filosófico e científico.
Referências:
Reale, Giovanni; Antiseri Dario. História
da Filosofia – Vol II. São Paulo. Paulus: 1990, 956 p.
Rose, Ricardo. A religião e o riso &
outros textos de filosofia e sociologia. São Paulo. Editora LpB: 2013, 221 p.
(Imagens: fotografias de Lee Friedlander)
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