"Nenhum vício é mais tétrico do que a ganância. Assim estou voltando para o ponto inicial de minha explanação, principalmente, quando enfoca cidadãos eminentes ou responsáveis pela gerência do Estado. Transformar em lucro pessoal a administração do Estado não é só coisa vergonhosa, mas crime ignóbil e torpeza nefanda." - Cícero - Os deveres
A corrupção é um fenômeno antigo e bastante
disseminado por todo o mundo. Um relatório da ONG Transparência Internacional
sobre a percepção de corrupção ao redor do mundo, publicado em dezembro de
2013, colocou o Brasil em 72º lugar entre 177 países. A pesquisa da ONG se
baseou em uma escala que varia de 0 (totalmente corrupto) a 100 (totalmente
transparente). Nesta classificação, foram a Nova Zelândia e a Dinamarca que
obtiveram a melhor colocação, com 91 pontos. Como piores, apareceram o
Afeganistão, a Coréia do Norte e a Somália; todas alcançando somente 8 pontos.
O Brasil chegou aos 42 pontos, ao passo que na América Latina as melhores
posições couberam ao Uruguai e ao Chile, com 71 pontos. Outros países latino
americanos alcançaram a seguinte pontuação: Porto Rico 62; Costa Rica e Cuba
46; Peru 38; Colômbia 36; Equador 36; Panamá 35; e Argentina 34; entre outros.
A corrupção, muitas vezes tratada como
fenômeno inevitável, está ligada a diversos fatores sociais, políticos e culturais.
Sabe-se, por exemplo, que em tempos de guerra, quando o controle do Estado sobre
diversas atividades é menor, aumenta a corrupção. É o que constatou o relatório
da Transparência Internacional em relação à Síria. Cataclismos naturais e
grandes comoções sociais também têm influência no aumento de práticas corruptas
em todo mundo. Aspectos histórico-culturais, como no caso de muitos países da
América Latina, podem contribuir para formar um ambiente propício à corrupção.
O jornal Valor de 18/2/2014 traz uma
matéria importante a respeito do assunto. Relata o artigo que a consultoria
KPMG fez uma enquete com cerca de 500 altos executivos em um seminário,
realizado em fevereiro de 2014. Foi feita a seguinte pergunta: sua companhia
poderia participar de atos de corrupção? Entre os participantes, que se
manifestaram anonimamente de forma eletrônica, 62% admitiram que sim, sendo que
apenas 21% negaram a possibilidade e 17% declararam não saber responder. Em
relação aos concorrentes, perguntados se estes poderiam se valer de práticas de
corrupção para ganhar concorrências, os executivos responderam que 85% de seus
competidores corrompem agentes públicos e que 60% o fazem de maneira frequente
e 25% rara ou eventualmente. Outra informação obtida pela enquete é que 33% dos
altos executivos admitiram que nos últimos 15 meses passados, suas companhias
fizeram pagamento de suborno, ao passo que 67% negaram este tipo de fato.
A situação descrita acima é preocupante,
mas só confirma aquilo que o relatório da Transparência Internacional já havia
detectado anteriormente. Apesar das leis – algumas até recentes – de combate à
corrupção, a prática parece enraizada na cultura de parte do setor empresarial
e da administração pública do País. Evidente, porque para cada corruptor tem
que haver alguém que aceita se corromper.
Enquanto o Brasil ainda se vê às voltas com
tantos problemas sociais, econômicos e ambientais, muitas vezes com falta de
recursos para investimentos em infraestrutura, ainda persistem práticas de
corrupção em parte considerável das transações comercias – haja vista os
números apresentados na pesquisa da KPMG. O fato mais grave em tudo isso é que
no final das contas a corrupção é paga pelo contribuinte, já que custos
adicionais de propina são sempre incluídos no preço do serviço ou da obra
pública.
(Imagens: fotografias de Martin Munkacsi)
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