"Aquilo que é verdadeiramente misterioso não é a tecnologia enquanto tal mas a dominância acelerada da tecnologia no nosso mundo, juntamente com a nossa inabilidade para confrontar esta transformação reflexivamente." - Bruce V. Foltz - Habitar a Terra - Heidegger, ética ambiental e a metafísica da natureza
O Brasil dispõe de grande estoque de recursos hídricos, o
que nos dá uma grande vantagem em diversas áreas. Nosso setor agropecuário, um
dos maiores do mundo, utiliza cerca de 70% dos recursos hídricos explorados. A
indústria nacional, por seu lado, absorve outros 20% e os restantes 10% são
utilizados para abastecer a população. Estamos longe dos problemas enfrentados
por países quase tão populosos quanto o Brasil, como o Egito (88 milhões de
habitantes) e o México (118 milhões de habitantes), que em pouco tempo deverão
enfrentar sérias dificuldades de disponibilidade de água para as atividades
econômicas. Isto sem falar de nações como a Jordânia, os Emirados Árabes e a
Mauritânia, entre outros, que efetivamente já se vêem às voltas com problemas para abastecer a população. Segundo dados da FAO (Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) o Brasil é o país com maior
volume de água disponível; incluindo precipitação (chuva), água de superfície
(rios e lagos) e água de subsolo (aquíferos).
No entanto, dada a extensão territorial do País, ocorre
naturalmente que algumas regiões tenham muito mais água do que outras – caso da
Amazônia e do Nordeste. No entanto, baseado em padrões técnicos internacionais
mesmo a área do Agreste, no interior do Nordeste, ainda está em situação melhor
do que grande parte dos países do Oriente Médio e da África saariana e
subsaariana. A dificuldade desta região brasileira – e de outras que por vezes
enfrentam estiagens – esta muito mais na gestão dos recursos hídricos, do que
em sua falta.
Há aspectos que por vezes causam espanto a especialistas que
nos visitam ou estudam as condições de nosso país: por um lado, grande
disponibilidade de água, às vezes mal distribuída, mas nenhuma região com
absoluta falta do precioso líquido. Por outro lado, uma ausência de políticas
de gestão dos recursos hídricos, de modo a permitir um ritmo normal das
atividades econômicas e conforto da população. Exemplo disso é as secas que há mais
de 150 anos afetam a região Nordeste, resultado em parte da falta de açudes,
práticas agrícolas incorretas e questões fundiárias. No outro extremo, estão as
recentes cheias do rio Madeira, em Rondônia, provocadas, segundo os
especialistas, pelas barragens das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau. Outro
fato comparável é a falta de água que afeta a cidade de São Paulo, resultado de
anos de imobilismo e que agora se pretende resolver com ações tiradas da
cartola, como a utilização da água do rio Paraíba do Sul.
Alertas não faltam. Ainda recentemente a ONG SOS Mata
Atlântica publicou um estudo apontando a péssima qualidade da água em 96 rios,
córregos e lagos, em seis estados brasileiros. Até quando os governos federal,
estaduais e municipais pretendem empurrar o problema com a barriga?
(Imagens: fotografias de René Burri)
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