" - Olhe - disse Frankie -, essa história de idealismo, de dignidade da pesquisa pura, da busca pela verdade em todas as suas formas, está tudo muito bem, mas chega uma hora que você começa a desconfiar que, se existe uma verdade realmente verdadeira, é o fato de que toda a infinidade multidimensional do Universo é, com certeza quase absoluta, governada por loucos varridos." - Douglas Adams - O guia do mochileiro das galáxias
O crescimento econômico do Brasil está fraco, abaixo da
média mundial e setores importantes da economia, como o setor automobilístico,
começam a apresentar problemas. A queda das vendas aumenta o risco das
demissões; dilema que demonstra o quanto nossa economia ainda é pouco
diversificada, dependente de poucos setores, que absorvem a mão de obra mais qualificada.
Nesta situação a estratégia do governo é criar um pacote de
incentivos para o setor, de modo a aumentar as vendas de veículos: redução de
impostos, aumento dos prazos de financiamento, etc. Cada carro popular
produzido e vendido no Brasil movimenta o dobro do seu preço final em outros
produtos e serviços. O setor gera mais de um milhão de empregos diretos e
indiretos, num universo total de 24 milhões de trabalhadores economicamente
ativos (conforme o site O Barômetro - http://obarometro.wordpress.com/2014/05/07/por-que-tanta-importancia-ao-setor-automotivo/).
É compreensível então que a cada nova queda das vendas, o governo seja colocado
sob pressão pelas montadoras e pelos sindicatos. Mas o novo pacote de
incentivos aumenta o número de automóveis nas cidades – principalmente na
região metropolitana de São Paulo, já que 30% da produção nacional de veículos
são vendidos nesta região.
No entanto, como contrapartida aos incentivos dados ao setor,
o governo deveria estabelecer metas mais ambiciosas de redução dos impactos
ambientais provocados pelos veículos, já que o problema da poluição está se
tornando cada vez mais grave. Segundo o jornal Folha de São Paulo a poluição
veicular está causando perdas estimadas em 3,5 trilhões de dólares (7,7
trilhões de reais) nos países desenvolvidos, na Índia e na China. Segundo a
Organização Mundial de Saúde, o número de mortes provocadas pela poluição
veicular foi de 3,5 milhões em 2012, valor 10% superior ao de 2010. A grande contradição,
no entanto, é que vem aumentando a produção mundial de veículos, fazendo com a frota
atualmente em circulação seja de cerca de 930 milhões de automóveis,
utilitários e caminhões.
A ONG ICTT (International Council on Clean Transportation –
Conselho Internacional de Transporte Limpo) atua em cooperação com órgãos do
governo brasileiro e realizou um estudo sobre mortes provocadas por poluição
veicular no país. No estudo o Brasil aparece como responsável por 3,5 % das
mortes mundiais. Ao mesmo tempo o país consta
como um dos líderes na implantação de medidas visando reduzir a poluição, com a
adoção de combustíveis mais limpos, que alcançam o equivalente ao nível 5
europeu. Nesse ínterim a Europa, os EUA e o Canadá já se utilizam de
combustível de nível 6, mas o restante dos países ainda adota o nível 4 ou grau
inferior.
Além de avançar na qualidade do combustível – gasolina e
diesel – o país precisa cobrar das montadoras um melhor rendimento dos motores
dos veículos, diminuindo as emissões. A China, por exemplo, está gradualmente
baixando sua forte poluição atmosférica através da substituição compulsória dos
carros antigos por modelos novos. No passado, a idéia também já foi proposta no
Brasil, mas talvez não fosse ideal. A solução definitiva é o uso cada vez maior
do transporte público, em substituição ao individual. Este caminho exige muitos
investimentos, mas foi trilhado por todos os países que conseguiram
efetivamente reduzir as emissões provocadas por veículos.
(Imagens: fotografias de Bert Hardy)
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