Chegamos ao final de mais um governo e o país ainda não
dispõe de uma infraestrutura razoavelmente eficiente, apesar da sucessão de
planos para melhorá-la. Em 2007, ainda no governo Lula, foi lançada uma
iniciativa que deveria recuperar e ampliar a infraestrutura brasileira. O Plano
de Aceleração do Crescimento, PAC 1, como foi chamado, previa a execução de um
total de 1.646 projetos ao custo de R$ 503,9 bilhões. Incluía a construção de
hidrelétricas, estradas, ferrovias, aeroportos, portos, sistemas de saneamento,
casas populares, sistemas de transporte urbano. No governo Dilma, foi criado o
PAC 2, que previa investimentos totais de R$ 955 bilhões, incorporando projetos
do PAC 1, que ainda não haviam sido terminados. Segundo declarações do próprio
governo, todas as obras relevantes deveriam estar concluídas até o final de
2014. Acaba agora o prazo estabelecido e somente as obras consideradas mais
relevantes estão prontas, a um custo bem superior aquele inicialmente
calculado.
As importantes obras de saneamento previstas no PAC estão em
grande parte a cargo do Ministério das Cidades. Este chegou a criar em 2012 o
Plano Nacional de Saneamento que prevê investimentos em tratamento de água e
esgoto, drenagem e gestão de resíduos no valor de R$ 420 bilhões até 2030.
Segundo o site do PAC (http://www.pac.gov.br/noticia/5a7e2fc8),
entre 2011 e 2013 o país investiu mais de R$ 30 bilhões em saneamento. Com
outros recursos adicionais, os repasses do PAC para o setor, segundo o governo,
deverão totalizar R$ 37,8 bilhões até o final de 2014.
O Instituto Trata Brasil (http://www.tratabrasil.org.br/saneamento-no-brasil)
é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse público (OSCIP), formada por
empresas com interesse no saneamento e na preservação dos recursos hídricos. A
considerar os dados desta instituição, a situação do saneamento básico no
Brasil está longe de mostrar avanços. Segundo a organização, 82,7% da população
brasileira são atendidos com água tratada, ou seja, mais de 17% dos brasileiros
– cerca de 34 milhões de pessoas – ainda não pode consumir água potável. Em
relação à coleta e ao tratamento de esgoto a situação ainda é pior: somente
43,8% da população têm acesso à coleta dos resíduos e apenas 38,7% dos esgotos
gerados são tratados. Isto quer dizer que mais de 113 milhões de pessoas não
dispõem de coleta de esgoto e que cerca de 18 mil toneladas de esgoto doméstico
(equivalente a 900 caminhões pipa) são despejadas em rios, lagos e no oceano a
cada dia. Ainda segundo o Instituto Trata Brasil, seriam necessários R$ 303
bilhões para universalizar os serviços de tratamento de água e esgoto em 20
anos, o que representaria um investimento médio de R$ 15,15 bilhões ao ano.
Apesar do atraso das obras do PAC e do ritmo mais lento que
o plano deverá assumir à medida que se desacelera a economia, é importante que
o país continue mantendo altos investimentos em saneamento. O tratamento da
água e do esgoto doméstico implica em menores taxas de afastamento de
trabalhadores por motivos de doença, redução do número de internações e mortes de crianças, menos
rios e lagos poluídos, melhor aproveitamento escolar e maiores receitas em
turismo. O grau de desenvolvimento econômico e social do país já não permitem mais esta situação de atraso no saneamento e nas condições higiênicas, apesar de sete milhões de brasileiros ainda não terem acesso a banheiros.
(Imagens: fotografias de Léonard Misonne)
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