Os atos morais são aqueles passíveis de aprovação ou desaprovação, de acordo com as normas aceitas. A este conjunto de atos e das normas chama-se moral. A ética, por outro lado, é o estudo dos atos e fatos morais. A liberdade ética é a capacidade de autodeterminação do ser humano, sem a qual a moral não pode existir. Usando de sua liberdade, o homem aspira a ser feliz e para isso se dirigem todos os seus atos.
A ética investiga racionalmente os atos morais; é uma
ciência porque investiga sistematicamente e de uma maneira racional os atos
humanos. Os princípios universais nos quais a ética se baseia são, todavia,
sujeitos as condições sociais de cada grupo humano. A moral é relativa no
sentido de se adaptar cada vez mais às condições socioculturais, e não no
sentido de ter valor relativo. O pensamento usado na análise ética é o do tipo
sintético, que parte de um caso ou casos particulares e então os generaliza
(dentro de uma determinada sociedade, uma lei moral é geralmente válida de uma
maneira universal). O objeto de estudo da ética são os atos humanos, baseado no
que há neles de bom ou mal, com o objetivo de dar aos homens critérios de
valores, para que eles possam julgar e balizar suas atitudes.
A moral se estabelece em sociedade, para orientar e
estabelecer a correção dos atos humanos, em relação aos outros membros da
sociedade. A criação de uma sociedade de classes acaba propiciando o
aparecimento da moral dos dominadores e a dos dominados; uma direcionada a
manter o status quo, e a outra com um posicionamento crítico (o posicionamento
dos dominados).
A ética de Sócrates era baseada no autoconhecimento
(conhece-te a ti mesmo). Segundo o pensador ateniense, ninguém é mau porque
quer, mas porque é ignorante da verdade. A ética só pode ser desenvolvida
através da convivência social – daí a íntima relação da ética e da política. A
ética fundamenta-se em três princípios: liberdade, virtude e bem. Para
Aristóteles a virtude é ao mesmo tempo liberdade e bem. Protágoras de Abdera,
por sua vez, advogava um relativismo que influía na própria ética, já que “o
homem é a medida de todas as coisas”. Em suas atividades filosóficas Sócrates se
colocava contra este ceticismo ético defendido pelos sofistas.
Quando os homens se agrupam para viver em sociedade, criam
governos que, segundo Platão, permite o aparecimento de homens que não são
éticos, nem sábios. Estes tipos de governos são: a timocracia, representada pelos donos de terras na antiga Grécia, a forma tradicional de governo. Depois
desta fase original aparecem, segundo Platão, a oligarquia, que é o governo dos
ricos, sem participação dos pobres; a democracia, onde reina o gosto de cada
um, ocasionando a anarquia; e a tirania, onde o tirano torna-se vítima dos seus
próprios apetites. No entanto, o Estado ideal, apresentado por Platão na obra A República, é formado por reis-filósofos que dirigem o governo com sabedoria.
Aristóteles, discípulo de Platão, constrói sua filosofia
baseada na experiência; todas as idéias são resultantes da experiência. Por
isso mesmo, para Aristóteles, a ética não é intuída pelo espírito, mas
desenvolvida através da prática social. Desta maneira, para ser feliz, justo e
sábio, o homem deve manter-se longe dos excessos e encontrar a prudência,
baseado em ações práticas. A ética, para Aristóteles, consiste em procurar a
felicidade, organizando sua vida para trilhar o caminho da virtude. A Ética a
Nicômaco é uma das obras fundamentais nesta área, tendo balizado toda a ética
ocidental, junto com o pensamento judaico-cristão. Com sua obra filosófica,
Aristóteles influencia toda a sociedade ocidental, desde a Idade Média.
Na história do pensamento, a ética apresentou principalmente
três modelos de conduta: a felicidade ou o prazer, o dever ou a obrigação e a
perfeição. A vida em sociedade força o indivíduo a guiar suas ações livres por
alguma regra e a moralidade consiste em viver de acordo com estas regras. Desta
forma, a ordem moral é o conjunto de relações de utilidade; quem age de acordo
com elas age bem, quem as desrespeita age mal. Adicionalmente, de acordo com o fim
será a utilidade.
A maior parte dos pensadores aceita que a ação moral só pode
ser executada por um ser livre dotado de inteligência. Este pressuposto, no
entanto, é colocado em dúvida por filósofos como Spinoza, Hume, Hegel,
Nietzsche, entre outros, e vem sendo bastante discutido pela moderna neurologia
e psicologia. Mas é regra aceita que a conduta humana só tem significado se
existe liberdade. Adolfo Sanches, em sua obra “Ética”, escreve, entre outras
coisas, que o conceito de consciência está relacionado ao da obrigatoriedade; a
consciência é o juiz dos nossos atos morais. Apesar de livre, a consciência é
determinada por fatores históricos e sociais e desenvolve-se através da prática
social. Mas, apesar dos diversos determinismos aos quais somos sujeitos,
gozamos todos de liberdade suficiente para exercermos nossos atos morais – pelo
menos precisamos aceitar este fato para que nossa sociedade continue
razoavelmente funcionando.
O principal filósofo a estudar a ética na Idade Média foi
São Tomás de Aquino, que fez um trabalho de harmonização do cristianismo e do
aristotelismo. Nesse trabalho, Aquino omitiu certos aspectos do pensamento de
Aristóteles e adaptar outros aos princípios cristãos. A moral de Tomás de
Aquino é essencialista: a moralidade de uma ação é determinada por seu objeto e
pela sua intenção. Além disso, Tomás de Aquino também afirmou que assim como
existem diversos grupos humanos, existe uma diversidade de leis. A importância
de Tomás de Aquino na síntese filosófica e moral da Idade Média são enormes.
Os problemas do campo da ética são caracterizados por sua
generalidade, diferentemente dos problemas morais, que aqueles com os quais nos
deparamos no dia-a-dia. O valor da ética está em suas explicações e não em suas
prescrições.
Em sua Ética a Nicômaco, no capítulo X, Aristóteles analisa
se o prazer é bom ou mau. Afirma que existem várias opiniões e inicia a análise
da questão. Apresenta inicialmente a opinião de Eudoxo, que dizia que o que é
mais desejado é o maior de todos os bens. Aquilo que é bom para todas as coisas
e a que todas elas tendem, é o bem por excelência. Platão, segundo o texto, diz
que o prazer não é um bem e que a vida agradável é mais desejável quando
acompanhada de sabedoria.
Mais à frente, Aristóteles conclui que, baseado no
raciocínio de alguns pensadores, o prazer também tem graduações e não pode ser
o preenchimento de alguma carência, já que isto seria somente a supressão de
sofrimento. Então, fazendo referência ao prazer de aprender, o prazer dos
sentidos e de sensações, afirma que estes não envolvem sofrimento. Conclui seu
raciocínio, afirmando que “meu prazer é o bem, nem todo prazer é desejável, e
que alguns prazeres são efetivamente desejáveis por si mesmos, distinguindo-se
eles dos outros em espécie ou quanto às suas fontes. Acerca das opiniões
correntes sobre o prazer e o sofrimento, basta o que dissemos.” (Aristóteles,
2002, pg.221).
Continuando sua análise do prazer, Aristóteles se pergunta o
porquê de ninguém sentir prazer continuamente, já que isto seria impossível
para o ser humano, como atividade constante. Quanto à questão de escolher,
escolher a vida, tendo em vista o prazer, ou o prazer tendo em vista a vida, a
questão fica, por enquanto, sem análise, já que os dois permanecem ligados,
visto que sem atividade não há prazer. Mais à frente o texto afirma que algumas
atividades têm efeitos contrários, sendo que prazer e certas atividades podem
estar em lados opostos. Além disso, como existem atividades diferentes, há
diferentes tipos de prazer; uns superiores e outros inferiores.
Depois de falar das virtudes, as formas de amizade e as
várias espécies de prazer, Aristóteles passa a discutir a natureza da
felicidade, já que ela é o fim da natureza humana. Aristóteles inicia sua
argumentação afirmando que à felicidade nada falta; ela é auto-suficiente. As
atividades desejáveis não visam mais nada do que a si mesmas, e as ações
virtuosas são desta natureza. Já que muitos encontram o bem-estar em algum
passatempo, Aristóteles inicia a discussão deste tema e conclui que a
felicidade não está no divertimento. Todavia, não nega que o divertimento é
necessário para o relaxamento, após muito trabalho. Em seguida, Aristóteles
discute sobre a superioridade das atividades sérias sobre as risíveis. Conclui
que a felicidade não está em passatempos, mas sim nas atividades virtuosas. Ao
final da argumentação, conclui que “a sabedoria filosófica é reconhecidamente a
mais agradável das atividades virtuosas”. (Aristóteles, 2002, pg. 229).
Ainda sobre a contemplação filosófica, Aristóteles afirma
que esta atividade será a felicidade completa do homem. Em outro ponto diz que
não devemos nos ocupar com coisas humanas e mortais, já que nós próprios o
somos. Devemos sim, assim que possível, ocupar-nos com assuntos imortais, “esforçando-nos
para viver de acordo com o que há de melhor em nós.” (Aristóteles, 2002,
pg.230).
Comparando a vida dos deuses, Aristóteles afirma que a
atividade perfeita é uma vida contemplativa equivalente aquela dos deuses, que
vivem em bem-aventurança. O homem é feliz enquanto consegue imitar os deuses
nesta atividade na contemplação; a contemplação e o cultivo da razão, aliadas a
uma vida virtuosa, são exatamente as qualidades do filósofo, o mais feliz dos
homens e querido dos deuses.Discutindo sobre como os homens adquirem vontade,
Aristóteles conclui que a virtude é em grande parte motivada por uma
predisposição dada pelos deuses, aliada ao cultivo de virtudes através da
convivência social. “É indispensável que o caráter tenha alguma afinidade com a
virtude, amando o que é nobre e detestando o que é vil.” (Aristóteles, 2002,
pg.235). Aristóteles afirma que os homens que se empenham em tornar outros
melhores, devem ser capazes de legislar. As leis e as constituições, segundo o
Estagirita, podem tornar as pessoas melhores.
Bibliografia:
Aristóteles. Ética a Nicômano. Editora Martin Claret: São
Paulo, 2002, 240 pgs.
(Imagens:pinturas do budismo chinês)
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