"Nietzsche não quer redenção. A alegria do devir é a alegria da aniquilação. Mas só o indivíduo é destroçado. O movimento de revolta, no qual o homem reivindica seu próprio ser, desaparece na submissão absoluta do indivíduo ao devir. O amor fati substitui o que era um odium fati." - Albert Camus - O Homem revoltado
O suprimento de energia é um
tema de preocupação constante no Brasil. Toda vez que o crescimento da economia
coincide com um período em que os reservatórios das hidrelétricas estão com
seus níveis baixos, fala-se do perigo de um apagão de energia. De fato, recentemente
quase ficaríamos sem eletricidade, se nos últimos três anos o governo não
tivesse colocado em funcionamento as termelétricas a óleo e carvão, que
passaram a suprir cerca de 20% da eletricidade consumida pelo país. A falta de
investimentos em eletricidade, principalmente na geração e transmissão, foi
compensada pela queda no consumo, que caiu 2,1% entre 2014 e 2015.
Como sempre repetem os
especialistas do setor de energia, “a melhor energia é aquela que não precisou
ser gerada”. Países altamente industrializados, como o Japão, a Alemanha e os
Estados Unidos, já vem implantando políticas nacionais de eficiência energética
há muitos anos e continuam a estabelecer objetivos cada vez mais ambiciosos. A
Alemanha, por exemplo, planeja reduzir o consumo de energia primária em 20% até
2020 e em 50% até 2050, tendo por base o consumo de 2008 (energia primária é
toda forma de energia disponível na natureza antes de ser transformada, como a
energia dos combustíveis, do sol, da água, do vento). O Japão, apesar de ter
constantemente aumentado sua produção industrial, conseguiu reduzir seu consumo
de energia primária em 43% entre 1973 e 2009.
No Brasil ainda estamos
muito longe disso e alguns fatores contribuem para que o país ainda não tenha
implantado uma política de eficiência energética. De um lado, o desenvolvimento
tecnológico da indústria e do setor de construção ainda não é suficientemente
avançado, como nos países altamente industrializados (ainda se dá pouco valor à
inovação tecnológica). Por outro lado dispomos de grande oferta de energias
primárias (rios para a construção de hidrelétricas, irradiação solar, ventos,
biomassa, petróleo, etc.), de exploração relativamente simples – o que muitas
vezes nos falta são os recursos financeiros. Outro aspecto é que ainda não
chegamos a desenvolver um conjunto de normas técnicas e leis, que favoreçam a
prática do uso eficiente de energia.
Em economia fala-se na “síndrome holandesa”
quando um país, rico em recursos naturais, se especializa na exploração destas
riquezas, abandonando a produção industrial. É o que aconteceu, por exemplo,
com a Venezuela em relação ao petróleo. No Brasil, de certo modo, sofremos de
uma síndrome holandesa em relação às fontes primárias de energia. Enquanto que
aumentamos a oferta interna de energia em 3,1% entre 2013 e 2014, pouco nos
preocupamos em implantar medidas efetivas de economia de consumo – iniciativas como
o Selo Procel, criado em 1985, precisam ser estendidas a outros setores.
O uso eficiente de energia
passa necessariamente pela questão econômica. Quando o menor consumo de energia
(em muitos casos menor emissão de gases) se transformar em efetiva vantagem,
seja para o consumidor ou produtor, o país passará a encarar a eficiência
energética de outra forma. Na disputa por novos mercados, nossa indústria terá
que desenvolver produtos mais eficientes, cuja produção também ocorreu de
maneira mais econômica e ambientalmente segura. A energia é recurso cuja geração
é cara; por isso precisamos preservá-la.
(Imagens: pinturas de Dr. Ziad Jundi)
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