Foucault
inicia seu discurso (trata-se de sua aula inaugural no Collége de France, dada
no dia 2 de dezembro de 1970). Diante da plateia, Foucault parece querer incluir
seu discurso dentro de um maior que já há (ou queria que houvesse). Menciona a
dificuldade de iniciar um discurso, de todo o ritual que reveste o início de um
discurso, situação da qual muitos querem se furtar. Foucault afirma que a
validação do discurso, do “ritual do discurso”, é feito pela instituição
tradicional. Descreve sua inquietação perante o discurso e a vida e por fim
pergunta sobre o que há de mal no discurso, o que há de perigoso nele?
Para
Foucault a sociedade exerce certo tipo de controle sobre o discurso e afirma
que há alguns temas que são tabus, como a sexualidade e a política. Comenta que
o discurso não simplesmente expressa o desejo; que também há o desejo em se
poder ter o discurso.
Referindo-se
a exclusividade do discurso, Foucault comenta que a palavra louco era no
passado sinônimo de “não-discurso”, de nulidade. O louco só parece ser escutado
pela medicina a partir do século XVIII, antes disso sua palavra não tinha
valor, a palavra só lhe era dada simbolicamente. Hoje imagina-se que esta
separação não existe, que o louco foi incorporado. No entanto, ao mesmo tempo em
que o “médico de loucos” escuta a palavra deste, exerce uma censura.
Se nos
situamos no nível de uma proposta, de um discurso, a separação entre o
verdadeiro e o falso não é arbitrária, nem modificável. Até o século VI a.C., o
discurso respeitado era aquele pronunciado por quem de direito e conforme
ritual. Um século depois, na antiga Grécia, o discurso valorizado não era mais
o discurso em si, seu efeito, mas seu conteúdo. O discurso então não é mais
valorizado pela maneira como é dito ou por quem disse, mas pelo seu conteúdo.
Esta virada histórica deu forma a nossa vontade de saber, que por sua vez
também variou de acordo com os séculos. Todavia, esta vontade de verdade, como
os outros sistemas de exclusão, apoia-se sobre um suporte institucional e
práticas pedagógicas, fundamentadoras desta verdade. Na literatura, nas
ciências, no direito, em todo o lugar, há necessidade de fundamentar o discurso
com um discurso verdadeiro.
Estes
são os três grandes sistemas de exclusão no discurso: proíbe-se o discurso,
desqualifica-se o discurso louco e exige-se o discurso verdadeiro. Existe,
portanto, a verdade universal e forte. Por outro lado, ignora-se a verdade como
sistema de exclusão de todos aqueles que procuram contornar esta verdade; que
exclui a loucura por ela definida.
Foucault
ressalta a importância do autor como validador do texto. Cita o exemplo de que
na Idade Média a citação de um autor sempre era sinônimo de verdade do texto. O
texto científico não precisava necessariamente de um autor, enquanto que o
texto literário requeria autoria.
Outra
forma de cercear o acesso ao discurso é a rarefação dos sujeitos que falam:
ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfazer a certas exigências ou
se não for, de início, qualificado para fazê-lo. A forma mais visível desta
forma de restrição é o ritual, que define a qualificação que devem possuir os
indivíduos que falam e que devem formular determinado tipo de enunciado.
Foucault
menciona que o sistema de ensino também é um estabelecimento de papéis e de
ensinamentos, assim como os sistemas médico e judiciário também são sistemas de
estabelecimento de discurso. Nossa civilização valoriza o discurso porque
precisa controlá-lo, dirigi-lo e ordená-lo.
O discurso da ciência, principalmente das ciências físicas, que até há pouco era absoluto e indiscutível, também já está sendo colocado em questão. A especificidade do estudo da história mudou. Hoje não se procura mais estabelecer exatamente como ocorreu determinado evento, mas circunscrever-lhe as condições de aparecimento (ocorrências). Por isso, segundo Foucault, deve-se fazer história da ciência coo um conjunto ao mesmo tempo coerente e transformável de modelos teóricos e de instrumentos conceituais (pag. 72).
O discurso da ciência, principalmente das ciências físicas, que até há pouco era absoluto e indiscutível, também já está sendo colocado em questão. A especificidade do estudo da história mudou. Hoje não se procura mais estabelecer exatamente como ocorreu determinado evento, mas circunscrever-lhe as condições de aparecimento (ocorrências). Por isso, segundo Foucault, deve-se fazer história da ciência coo um conjunto ao mesmo tempo coerente e transformável de modelos teóricos e de instrumentos conceituais (pag. 72).
Por
fim, Foucault rende homenagem a seu mestre Jean Hyppolite e a influência que
este recebeu da filosofia de Hegel.
(Imagens: pintura japonesa dos séculos XIX e XX)
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