O muro está lá
O
muro cinza, com partes mal-acabadas, coberto somente de massa grossa. Aspecto
de abandono. Obra acabada. Mal acabada, na qual não foi feito mais nada. Uma
cor cinza. Talvez me lembre de muros velhos, de casas velhas que vi na
infância. O cimento áspero, lavado pela chuva durante muitos anos. Pedaços diminutos
de quartzo e mica refletindo a luz do sol.
Quem
terá construído este muro, esta parede? Quem foram eles? Quando? Há dez anos,
há 20 anos, talvez? Difícil saber pela aparência do muro. O que pensavam,
viviam e falavam, enquanto era feita a construção?
E
agora o muro está lá. Desde que foi erguido permanece firme, em pé, cumprindo a
função para a qual foi feito. Quantos dias de sol, chuva e frio já teriam
passado desde que foi construído? Acontecimentos, vivências, e o muro esteve lá.
Não
tem nenhum significado especial. É uma parede com cerca de quatro metros de
altura e uns vinte de comprimento. Algumas partes não foram bem rebocadas e
provavelmente desde que foi construído não foi reformado. Parece ter sido feito
às pressas, sem muito cuidado.
Por
que temos que colocar ordem em tudo? Essa obsessão por tentar ordenar teórica e
praticamente todo o universo não seria a nossa perdição? Não é melhor deixar a
natureza (nome que damos a complexas inter-relações que atuam sobre tudo e
acabam transformando o ente) tomar o seu rumo e atuar livremente com suas
forças, como acontece neste muro?
Ordenar,
organizar, intervir, adaptar; essa ação de antropomorfização do ente. Uma
tentativa de arrumar um universo que não tem a ordem que os homens pensam lhe
impor, ou que pensam ter que lhe impor.
Aparentemente
caótico, o universo parece não ter uma lógica de funcionamento, mesmo que imperceptível, que fuja à nossa compreensão.
A
teoria da indeterminação e a física quântica especificamente. Não sabemos e não
podemos prever o que acontecerá com as partículas (e o ente).
Nossas
construções teóricas, visões de mundo, teorias, doutrinas, ordens sociais,
engenhos, estruturas; tudo simples tentativas (talvez vãs) de procurar entender
aquele muro, o universo.
(Imagem: fotografia de um muro)
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