"Quot homines, tot sententiae (Quantos são os homens, tantas são as sentenças) Terêncio (195-159 a.C.)
A
afirmação de Marilena Chauí em Convite à
Filosofia é a seguinte: [...] “não há 'coisa em si' incognoscível. Tudo o
que existe é fenômeno e só existem fenômenos. Fenômeno é a presença real de
coisas reais diante da consciência; é aquilo que se apresenta diretamente, 'em
pessoa', em 'carne e osso', à consciência”.
A
fenomenologia parte do pressuposto da realidade e da verdade dos fenômenos, das
coisas que “aparecem”, dos dados que se nos apresentam à consciência. Não se
trata, como na filosofia kantiana, de que as coisas estão só na mente, na
percepção e que além desta percepção se estende o misterioso mundo da
“coisa-em-si”. Todavia, de Kant Husserl ainda conserva a afirmação de que não
conhecemos uma realidade em si mesma, mas a realidade estruturada a priori pela
razão. Esta realidade que captamos pela razão é a essência dos fenômenos, o
“eidos”. Husserl afirma que a filosofia é eidética, pois apreende a essência
dos fenômenos.
Para
Husserl a fenomenologia (diferente da psicologia que é uma ciência dos fatos) é
a ciência das essências. A fenomenologia utiliza-se da redução eidética,
através da qual expurga os fenômenos psicológicos de suas características reais
ou empíricas, levando-os ao plano da generalidade essencial, transformando-os
em essências, em universais.
Para
conhecer as essências, os universais, segundo Husserl, partimos de uma intuição
das essências. Assim, redução eidética e o processo de intuir para conhecer as
essências dos fenômenos, é a mesma coisa.
Todavia,
para que possamos conhecer a essência do fenômeno, é preciso utilizar-se da
epoché, que é um movimento mental de “colocar entre parênteses” as próprias
convicções filosóficas, científicas e nosso senso comum. Suspendendo todo tipo
de juízo sobre as coisas e olhando-as em sua essência, alcançamos a consciência
daquilo que é absolutamente evidente (fico pensando se Hume teria a mesma
opinião sobre estas “ginásticas mentais” e se Husserl alguma vez efetivamente
atingiu o estado de “ver a essência do fenômeno”).
Como
corolário desta investigação, Husserl chega à conclusão de que o movimento da
consciência é intencional, já que toda a consciência é consciência de alguma
coisa. Isto quer dizer que todo pensamento tem sempre um objeto. Por toda esta
atividade que exerce, Husserl afirma que a consciência é “doadora de sentido”,
já que as essências nada mais são do que significações produzidas pela
consciência, tendo como matéria prima os fenômenos (por que será que sinto um
cheiro forte de kantismo aqui?). A realidade adquire sentido através da ação da
consciência.
A
consequência do pensamento fenomenológico em relação à metafísica é que esta
deixa de existir como algo além do sujeito, para tornar-se algo que o sujeito, através do pensamento, transmite à realidade – cujo sentido, aliás, é dado pelo
próprio sujeito.
Bibliografia:
ABBAGNANNO,
Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo. Martins Fontes: 2007, 1.210 p.
CHAUÍ,
Marilena. Convite à Filosoia. São Paulo. Editora Atica: 2010, 424 p.
CRESPO,
Luís F.; COLOMBINI, Elaine A. M. Filosofia Geral: Problemas metafísicos II.
Batatais. CEUCLAR: 2007, 37p.
SOKOLOWSKI,
Robert. Introdução à fenomenologia. São Paulo. Edições Loyola: 2004, 247
(Imagens: fotografias de José Medeiros)
(Imagens: fotografias de José Medeiros)
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